1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 (0 Votos)

No Domingo se Deus Quiser Cartaz2PGL - [José Paz Rodrigues] Uma estudante brasileira, chamada Isadora Rodrigues, escreveu em 2012 um curto, embora lindo depoimento, sobre a desgraça que no mundo é o racismo.


Por tão formoso que é, merece que o resenhemos para comemorar a Semana contra o Racismo, que se celebra em muitos países ao redor da data de 21 de março. Eis o que a Isadora diz:

«Racismo uma palavra tão forte para um significado tão… tão “infantil”. Nem sei mais se o mundo vai acabar com catástrofes ou por mortes sem sentido causadas pelas julgações sem sentido. Pessoas tão medíocres sem perceber que estão julgando sem nem saber a história, tipo como diz na frase: “Você conhece o meu nome e não minha história, você sabe a cor dos meus olhos e não o que eles já viram”. Isso deveria acabar, aliás isso deve acabar. O racismo não deveria existir pois todos somos seres humanos, independentemente das cores e da raça. Deveríamos ter todos os mesmos direitos. Mas, para isso todos temos de trabalhar para o mesmo. A começar na educação. Muitas vezes, existe racismo entre as próprias raças. Saber ser tolerante com os outros é muito importante. Muita gente praticamente se matando por sofrerem «bullying» (uma outra forma de racismo, pelo menos na minha opinião!) pessoas sendo sei lá… excluídas, agredidas verbalmente e fisicamente, isso para mim é errado, é muito errado…Dizem que somos todos irmãos, mas hoje em dia acho que ninguém mais pensa isso, porque o modo como nos tratamos é como se fossem, “gatos e ratos”, acho que entre 100 pessoas 90 ficam julgando pela aparência, estilo, e cor…Fico pensando… será que o mundo vai acabar por catástrofes tipo: vulcões, terremotos, maremotos enfim, etc.. Ou se vai acabar pelo racismo do ser humano».

Pela sua parte, a educadora Thais Pacievitch, acertadamente comenta num artigo seu que o racismo é uma maneira de discriminar as pessoas baseada em motivos raciais, cor da pele ou outras caraterísticas físicas, de tal forma que umas se consideram superiores a outras. Portanto, o racismo tem como finalidade intencional (ou como resultado) a diminuição ou a anulação dos direitos humanos das pessoas discriminadas. Exemplo disto foi o aparecimento do racismo na Europa, no século XIX, para justificar a superioridade da raça branca sobre o resto da humanidade.

A discriminação racial é um conceito que normalmente é confundido com racismo (e que o abarca), mas trata-se de conceitos que não necessariamente coincidem. Enquanto o racismo é uma ideologia baseada na superioridade de uma raça ou etnia sobre outra, a discriminação racial é um ato que, embora esteja fundado em uma ideologia racista, não sempre o está. Ou seja, é preciso deixar claro que a discriminação racial positiva (quando as discriminações têm como objetivo garantir a igualdade das pessoas afetadas) constitui uma maneira de discriminação cujo objetivo é combater o racismo. Historicamente, o racismo tem servido para justificar uma série de genocídios, como os crimes contra a humanidade, e diversas formas de dominação das pessoas. Exemplo disto são a escravidão, a servidão, o colonialismo e o imperialismo, ou seja, uma total afronta à dignidade humana básica de diversos povos ao longo do tempo. O racismo frequentemente é associado à xenofobia, quer dizer, o ódio, repugnância ou hostilidade relacionada a estrangeiros. Cabe, porém, ressaltar que ambos os conceitos são diferentes, visto que o racismo é uma ideologia de superioridade e a xenofobia é um sentimento de rejeição voltado aos estrangeiros, algo diferente do racismo. O racismo também está relacionado com outros conceitos como o etnocentrismo, os sistemas de castas, o colonialismo e até a homofobia. Os atos, valores e sistemas racistas estabelecem, velada ou abertamente, uma ordem hierárquica entre os grupos étnicos para justificar as vantagens ou privilégios gozados pelo grupo que domina.

Em 1965, a organização das Nações Unidas (ONU) adotou a convenção internacional sobre a eliminação de todas as formas de discriminação racial. Assim, estabeleceu como Dia Internacional da Eliminação da Discriminação Racial o dia 21 de março. E a celebração da Semana contra o Racismo, ao redor de uma data em que se inicia a primavera, e também têm lugar outras interessantes comemorações.

Para ilustrar este depoimento da série, procurando sensibilizar os escolares e conseguir neles o apreço por todos os seres humanos do planeta Terra, escolhi o filme argelino O domingo se Deus quiser, realizado em 2001 por Yamina Benguigui.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

 

  • Título original: Inch’Allah Dimanche (No domingo, se Deus quiser)
  • Diretora: Yamina Benguigui (Argélia, 2001, 98 min., cor).
  • Roteiro: Yamina Benguigui. Fotografia: Antoine Roch.
  • Prémio: Da FIPRESCI no Festival de Toronto de 2001.
  • Nota: Pode ver-se entrando aqui.
  • Atores: Fejria Deliba (Zouina), Rabia Mokeddem (Aicha), Amina Annabi (Malika), Anass Behri, Hamza Dubuih, Zinedine Soualem (Ahmed), França Darry (Mme Donzè), Roger Dumas, Marie-France Pisier (Mme Manant), Mathilde Seigner (Nicole Briat) e Jalil Lespert.
  • Argumento: Zouina e Ahmed deixaram a Argélia na década de 70 para trabalhar na França. Como parte do governo francês de reagrupamento familiar, Zouina é permitido mudar para a França, a fim de se juntar ao marido. Deixam para trás a sua mãe, pois ela mora com o marido, sua mãe e seus três filhos. Aisha, mãe de Ahmed, viaja com ela. Apesar da agressividade dos seus vizinhos, as constantes críticas da mãe e do silêncio suspeito do marido, Zouina tenta se adaptar à nova vida no exílio. O rádio é sua única ligação com a vida e com as mulheres neste país. Um dia, ela descobre por acaso que uma outra família argelina está vivendo na mesma cidade, então ela decide encontrá-la, não importando o quê. Enquanto ela luta com o abuso físico de seu marido e o abuso verbal de sua mãe centralizadora, ela encontra amigos franceses para ajudá-la a lidar com a vida em uma cultura diferente. O filme foi homenageado no Festival de Cinema de Toronto com o Prémio da Crítica Internacional, no Cinefrancia Prix Anjo de Melhor Filme e da Mostra de Valência com a Palma de Prata de Melhor Filme e Melhor atriz.
  • A diretora, Yamina Benguigui: Esta cineasta francesa de origem argelina dedicou a sua produção audiovisual aos temas da memória histórica e das migrações. Como filha de imigrantes argelinos na França, explora as suas próprias raízes. Debutou no cinema como ajudante de direção de Jean-Daniel Pollet. Em 1985 dirigiu o filme Baton Rouge. Junto com Rachid Bouchareb fundou a produtora Bandits. Realizou séries documentais para a televisão, como Femmes d´Islam (1994) ou La maison de Kate (1995). O documentário Memoires d´inmigrés: l´heritage maghrébin (1997) foi seu primeiro grande sucesso, ao que iam seguir outros. Em 2001 roda No domingo, se Deus quiser, a sua primeira longa-metragem de ficção duma perspetiva muito autobiográfica. Depois realizou os documentários Convergences e Le plafond de verre (2004) sobre as dificuldades das mulheres procedentes de famílias de imigrantes para ascender no mundo laboral, e que são vítimas de preconceitos raciais. Foi premiada na França com a Legião de Honra, das Artes e das Letras. Em 2003 recebeu em Florença o Prémio da Paz pelo conjunto de toda a sua obra.

UM FILME CHEIO DE MATIZES:

«A dor do exílio é a minha herança e o cinema é a minha arma para apaziguá-la». Com esta formosa frase a realizadora Yamina Benguigui confirma ser isto o ponto de partida em todos os seus trabalhos, representando também a união pessoal com a sua obra. A história de Zouina, protagonista do filme, poderia ser a de qualquer imigrante argelina, mas a diretora baseou-se nas testemunhas de sua mãe e de outras mulheres que viveram a mesma situação. O componente biográfico não termina aí: a família protagonista mora em Saint-Quentin, província da Picardia, o mesmo lugar onde passou a infância a diretora, depois do reencontro com o pai. E este, igual que o pai do filme, era fã da música rock americana. Em 1962 a situação de argelinos e franceses não era doada no momento histórico da descolonização, tema que se amostra no filme. Na Argélia tinha terminado recentemente a guerra contra a França, pelo que o exílio significava pedir ajuda ao inimigo. Ademais o pai de Yamina pertencia ao Movimento Nacionalista Argelino, causa pela que fora encadeado durante três anos. «Não tínhamos direito a falar com outras crianças na escola. Não por religião, senão por nacionalismo. A Argélia tinha saído de uma guerra contra a França e não fazia sentido algum divertir-se nesse país», declarou no seu momento a diretora.

No filme as mulheres são as protagonistas fundamentais. A principal, Zouina, é uma esposa e mãe argelina. Leva dez anos sem conviver com o seu esposo. Nem lembra que ele tinha bigode. Tem que deixar a Argélia, seu país, pois o esposo reclamou-a junto com os seus filhos e a sua sogra, aproveitando a nova figura jurídica gala do «reagrupamento familiar», disposição que para ela significa um exílio forçoso na França. Imigrante neste país, a sua vida passa a estar sob a autoridade de seu marido e de sua sogra. Fechada entre quatro paredes da sua casa e obrigada a cuidar da casa e dos filhos, só encontra consolo escuitando o programa de rádio «Os mil francos». Parece ser uma heroína quotidiana que mora numa casa convertida em prisão. Neste espaço procurará a sua própria identidade e lutará pelos seus direitos. O seu relacionamento com o mundo exterior não é fácil, sendo olhada pelos seus vizinhos como uma indesejável, uma estranha. Na procura de si mesma deve lutar numa realidade sociocultural diferente. A sua transformação e desenvolvimento enquadra-se na procura da família Buira, e mais em concreto de Malika. Tal viagem vai ser o seu particular caminho de herói e a sua própria transformação. Ela conta mais pelo que cala que pelo que diz, conseguindo assim a empatia dos espetadores por meio das emoções contadas, fundamentalmente graças às canções e sorrisos que nela provoca um programa radiofónico.

Pela sua parte, a sua sogra, mãe de seu esposo Ahmed, chamada Aicha, desempenha o papel de guarda dos costumes tradicionais, representando uma personagem cruel e controladora. Controla a vida do seu filho e submete Zouina, não tendo interesse algum por integrar-se na sociedade francesa. É a verdadeira antagonista da sua nora, com a qual cria um verdadeiro conflito dramático. Arranjando mesmo confrontos entre o seu filho e a sua esposa. Madame Donzè é uma madura dona de casa francesa, que tem como únicas preocupações o seu jardim, as suas flores e controlar a vida dos vizinhos. É quem provoca numerosos conflitos de convivência, e mesmo de racismo, com a família de Zouina, a protagonista. Representa a França xenófoba que não vê com muito bons olhos as pessoas imigrantes e seus costumes. Em claro contraponto narrativo a personagem de Nicole Briat, a vizinha jovem, amostra o outro rosto da sociedade de acolhida gala e das relações conjugais. Trabalha numa fábrica de cosméticos e está divorciada. Não tem preconceitos na hora de relacionar-se com pessoas argelinas imigrantes, convertendo-se numa das poucas pessoas que se preocupa com Zouina, sendo para esta como um espelho onde olhar-se. Nicole ajuda Zouina a conhecer outro tipo de identidade feminina e a lutar pelos seus direitos.

Madame Manant é a viúva de um soldado francês que lutou na Argélia. É uma personagem secundária, embora represente um dos apoios externos de Zouina, ajudando-a a procurar a família Buira, a que pertence Malika. Esta é uma mulher argelina que leva morando quinze anos no país galo. Durante todo o filme Zouina a procura para encontrar uma família argelina num meio hostil em que mora, e também para conseguir que a ajude na melhoria da sua situação. Embora Malika represente, uma vez encontrada, o contrário de Nicole, o espelho em que Zouina não deseja olhar-se depois de quinze anos. Pois quase nunca sai da casa, rejeitando os contactos com o mundo exterior, e assumindo a situação que a protagonista tenta precisamente mudar, com a sua particular luta.

As duas personagens masculinas do filme são Ahmed, esposo de Zouina, que, desde um segundo plano, é o braço executor das ordens que sua mãe dá a Zouina, e o motorista do autocarro. Este, por meio de esporádicas olhadas da janela, é uma personagem importante no desenvolvimento sociomental de Zouina. O autocarro que ela não pode apanhar (a liberdade de trânsito), e o sentir-se desejada (controlo sobre o seu corpo, beleza e identidade), são os elementos simbólicos fundamentais que traz esta personagem masculina.

CONTINUA, INFELIZMENTE, A EXISTIR O RACISMO: 

O racismo é qualquer pensamento ou atitude que separam as raças humanas por considerarem algumas superiores a outras. Quando se fala de racismo, o primeiro pensamento que aparece na mente das pessoas é contra os negros, mas o racismo é um preconceito baseado na diferença de raças das pessoas. Pode ser contra negros, asiáticos, índios, mulatos, e até com brancos, por parte de outras raças. Por terem uma história mais sofrida com o preconceito, os negros são principal referência quando é discutido o tema racismo.

O racismo em uma pessoa tem diversas origens, depende da história de cada um. Em alguns casos, pode ser por crescerem ouvindo as diferenças e superioridade de determinadas raças, em outros, alguma atitude que moldou seu pensamento. Não importa como o racismo cresceu na mente das pessoas, mas vale ressaltar que se ele for provado, é um crime inafiançável, com pena, por exemplo no Brasil, de até 3 anos de prisão. Além disso, algumas pessoas valorizam tanto a superioridade de raças que acreditam na purificação delas, onde dominariam o meio em que vivem. Essa justificativa apareceu na escravidão, em que os negros trabalhavam em condições precárias e eram vendidos como objetos. No nazismo, o foco principal eram os judeus, mas também perseguiam negros e homossexuais, entre outras minorias, para serem executados nos campos de concentração. Com isso, percebe-se como o racismo fez parte da história, e como alguns grupos sofreram muito com isso.

Embora, por exemplo, no Brasil haja uma forte mistura de raças, a incidência de racismo pode não ser tão evidente para alguns, mas ele não deixa de existir. Em alguns casos, ele ocorre de forma sutil, em que nem é percebido pelas pessoas. Pode acontecer em forma de piadas, xingamentos, ou simplesmente evitar o contato físico com a pessoa. A verdade é que nenhum lugar está protegido do racismo.

Embora seja dito muitas vezes como sinônimos, existem certas diferenças entre raça e etnia. Raça se expressa nas características visíveis da pessoa, ela engloba as características físicas, tais como tonalidade de pele, formação do crânio, rosto e tipo de cabelo. A etnia também refere-se a isso, mas ela vai além das características físicas da pessoa, ela inclui a cultura, nacionalidade, afiliação tribal, religião, língua e tradições.

Dentre as várias raças humanas, as quatro principais são:

Caucasianos: De origem europeia, norte-americana, árabes e até indiana. Com exceção dos mediterrânicos, tem nariz estrito, lábios delgados e cabelos ondulados ou lisos. Tem como principais características pele e olhos claros.

Mongoloides: De origem asiática, apresentam a tonalidade de pele amarelada, cabelos lisos, rosto achatado ou largo e nariz de forma variada. Variaram dessa raça os esquimós e índios americanos.

Australóides: Tem como características os olhos escuros, cabelo encaracolado e nariz largo. A tonalidade da pele é escura, quase negra.

Negros: De origem africana, apresentam as características de pele escura, olhos escuros, lábios grossos, nariz achatado e cabelos crespos.

Como no Brasil há uma mistura de raças muito forte, algumas se tornaram principais no país, além das quatro citadas acima. São elas:

Mestiços: Mistura de duas ou mais raças.

Mulato: Descendente de branco com negro.

Caboclo: Descendente de branco com índio.

Cafuzo: Descendente de negro com índio.

Após a colonização, os portugueses trouxeram os negros para serem escravos no país. A partir daí, implica-se dizer que os principais grupos a habitar o país foram os portugueses, índios e negros. Esses grupos ajudaram a construir a mistura de raças que compõe o país atualmente. Além deles, vieram os italianos, japoneses e espanhóis, entre outros. A partir dessa união de raças desenvolveu-se o que é o país hoje em dia, e como passaram a ser criados novos costumes e tradições, nascendo assim a etnia.

TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR:

Servindo-se da técnica do Cinema-fórum, analisar e debater sobre a forma (linguagem cinematográfica: planos, contraplanos, panorâmicas, movimentos de câmara, jogo com o tempo e o espaço, truques cinematográficos, etc.) e o fundo do filme de Yamina Benguigui anteriormente resenhado.

Organizar nos estabelecimentos de ensino uma amostra monográfica sobre o racismo e os problemas que provoca. Na mesma devem figurar textos, frases, poemas, aforismos, lendas, fotos, desenhos, murais, etc., a poder ser de criação dos próprios estudantes. Com todo o material pode editar-se ou policopiar-se uma monografia.

Entre todos, estudantes e docentes, fazemos uma recolha na internet de frases e de poemas relacionados com o racismo. Depois de lidos por todos, organizamos um debate-papo com a participação coletiva do grupo, e tiramos conclusões. Para a recolha devemos ter em conta os grandes vultos que mais lutaram contra o racismo. Por exemplo: Gandhi, Tagore, Mandela e Luther King.

 


Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Microdoaçom de 3 euro:

Doaçom de valor livre:

Última hora

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: info [arroba] diarioliberdade.org | Telf: (+34) 717714759

Desenhado por Eledian Technology

Aviso

Bem-vind@ ao Diário Liberdade!

Para poder votar os comentários, é necessário ter registro próprio no Diário Liberdade ou logar-se.

Clique em uma das opções abaixo.