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377px Jair BolsonaroBrasil - Democratize - Existe um temor nos setores de esquerda que a figura do deputado federal Jair Bolsonaro (PP) acabe se potencializando para as eleições de 2018, por conta da tal “onda conservadora” que ilustra as ações do Congresso e da política atual em geral. Não, isso não vai acontecer. E vamos explicar o motivo.O deputado Jair Bolsonaro representa o típico político do século XX: um tanto quanto esperto, utiliza da demagogia política para conseguir atrair uma base de apoio sustentável, além de utilizar de um fator clássico tanto da esquerda quanto da direita no século passado, que é o culto a personalidade.


Foto de Wilson Dias / Agência Brasil (CC 3.0/br/) - O extremista Jair Bolsonaro.

Se formos analisar o seu discurso e suas propostas em décadas de política em Brasília, teremos certeza sobre o parágrafo acima: a revogação do estatuto do desarmamento (sem mais detalhes, apenas três palavras e uma série de aplausos e gritos como “Bolsomito!”); um discurso claramente populista contra a corrupção (varre, varre vassourinha, lembram?); o velho paradigma cristão do “bem versus mal” (cidadãos de bem, uni-vos contra os malvados!) e claro, falando em religião, a perseguição com base demagoga apoiada na “fé” contra minorias como a comunidade LGBT, entre outros.

Não existe qualquer projeto político especificado e detalhado por Bolsonaro, e sim discursos fervorosos que conseguem animar pessoas que são facilmente influenciadas — por diversos motivos: cansaço com a política tradicional, falsa sensação de insegurança, depressão, não aceitação pela sociedade, e tantos outros fatores que já puderam ser registrados em outros tempos, como no ápice de sociedades autoritárias na Europa, onde vimos por diversas vezes o surgimento da imagem do “salvador”.

Vale lembrar que o deputado costuma mudar sua “roupagem” conforme dita a atualidade. Nos anos 90, criticava abertamente o governo Fernando Henrique pelo descaso com o patrimônio público representado pelas estatais, que foram privatizadas em sua administração. Na época, houve uma enorme mobilização de diversos setores da sociedade contra as políticas neoliberais do governo tucano, se transformando quase que unanimidade. E foi nos anos 2000, que encontrou talvez o seu maior trampolim político: a causa LGBT.

Mas então. Por que devemos seguir o conselho do título desta matéria?

Nesta terça-feira, um grupo formado por estudantes chamado “Levante Popular da Juventude” resolveu partir pra ação direta contra o deputado Bolsonaro, em uma visita em Porto Alegre. A ação focou nas declarações homofóbicas do conservador, com ativistas jogando confetes e glitter no deputado enquanto ele era recebido por repórteres e mídia.

O escracho feito pelo Levante, obviamente, chamou a atenção dos meios de comunicação e virou notícia. Dai veio aquela velha guerra entre bem e mal, com um lado representado por aqueles que acharam super engraçado e aprovaram a atitude dos ativistas, e o outro criticando a ação por ser “desrespeitosa” ou até mesmo “violenta”.

Não demorou muito pra esquerda começar a brigar com a mesma esquerda sobre o fato. Movimentos mais ortodoxos e tradicionais da esquerda criticaram a ação do Levante por ser “leve demais, pouco representativa e não combater de fato o fascismo representado pelo deputado”. Outro setor da esquerda, mais “paz e amor, pós rancor” criticou a ação exatamente pelo contrário — também achou violento demais, e que isso só serviria para que o deputado se auto-promovesse.

No final das contas, cada lado tem um pouco de razão e um pouco de erro sobre a abordagem dos fatos.

Não existe qualquer motivo suficiente para temer a imagem de Jair Bolsonaro. Pelo menos no sentido representativo para as próximas eleições.

Apesar dele conseguir atrair “multidões de 50 a 100 pessoas” por onde passa, é só isso. E ele sabe disso. Não por acaso, ostenta o mesmo cargo por décadas, mesmo sabendo do apoio dos seus simpatizantes para que ele tente ocupar o Planalto com a presidência, ou até algo menor como o Senado, o governo ou prefeitura do Rio de Janeiro. Jair Bolsonaro sabe que não pode cair em “aventuras” por conta dos seus prováveis e seguros 2% de votos que teria em uma eleição nacional para a presidência, correndo o risco de perder seu assento no Congresso — que é, afinal, a única coisa que o mantém na mídia até hoje.

Sim. Vivemos em uma sociedade amplamente religiosa e um tanto quanto conservadora por conta disso mesmo. Mas mesmo assim, isso não é o suficiente para elegermos um lunático fanático de extrema-direita para o cargo mais importante do país. E existem vários motivos que tornam isso cada vez mais claro.

Ele provavelmente não contaria com uma base de apoio consolidada no Congresso para um possível governo — imaginando um cenário ainda mais difícil do que o encontrado por Dilma Rousseff hoje. E como a história já mostrou ao mundo, em uma democracia ninguém governa com minoria no Parlamento. Por mais que a Internet e as redes sociais estejam repletas de imagens, notícias e memes de Bolsonaro, a opinião pública não sabe ao certo quem ele é. Claro, boa parte do trabalhador mediano brasileiro sabe que ele é “o cara que não gosta dos gays”, mas ok. O que além disso? Bolsonaro, por conta do seu discurso, conseguiu consolidar uma base de apoio, mas ao mesmo tempo por conta disso não conseguirá expandir seu horizonte se não se livrar disso. Peguemos como exemplo o Lula de 1989 e o Lula de 2002. Nos anos 80, o petista ainda defendia algumas pautas claramente polêmicas, que tinham apoio de certa camada da sociedade, mas não o suficiente para conseguir o cargo pretendido. Perdeu. Em 2002, com uma “versão light”, conseguiu o que queria, mas teve que abdicar de várias teses e propostas até então defendidas por ele, passando de um possível extremo para algo meio que “centro esquerda level soft”. Para conseguir se eleger, Jair Bolsonaro deve seguir o mesmo caminho. O problema é que seguindo por esse trajeto, o deputado deixa de ser quem ele é hoje, logo então perdendo apoio daquela base que o tornou quem é.A maioria das propostas de Bolsonaro caminham no caminho contrário da sociedade em geral no mundo. Enquanto os Estados Unidos falam, enfim, sobre o desarmamento, o deputado conservador brasileiro fala em revogar o estatuto. Enquanto a Europa e países da América Latina caminham pela legalização da maconha, ele vai pelo lado contrário. Enquanto o mundo ocidental se torna cada vez mais aberto ao casamento por pessoas do mesmo sexo, Bolsonaro continua batendo na tecla da homofobia.E pra finalizar: setores importantes da própria direita não compactuam com o deputado. A direita “mais liberal”, aquela que adora o livre mercado e não suporta intervenção estatal, conhece bem o discurso intervencionista de Bolsonaro. E não só isso, sabe muito bem que pautas como aborto, descriminalização das drogas e casamento LGBT são defendidos no resto do mundo pela direita liberal “paz e amor”. Vale lembrar que esse tipo de linha política é hoje representada pelo Partido Novo, e cresce cada vez mais entre os poucos jovens que aderem com políticas de direita no Brasil.

Enfim, são muitos os motivos para dizer: CALMA! O Bolsonaro não vai se eleger em 2018, nem em 2022, nem nunca. Para conseguir algo do tipo, só um “milagre lulistico”. Não é impossível. Mas é muito, mas muito improvável.

É claro que devemos nos preocupar com as declarações de Bolsonaro em relação ao seu discurso do ódio, que acaba influenciando ataques contra membros da comunidade LGBT ao redor do Brasil. Pra isso, ações diretas como a planejada pelo Levante são essenciais.

Agora, se a esquerda quer de fato derrubar a “ameaça fascista que paira sobre o Brasil”, uma dica: existe uma instituição chamada Polícia Militar, que basicamente segue práticas fascistas contra a sociedade, segregando e perseguindo, além de maltratar e manipular seus soldados dentro da própria corporação, com salários pífios, treinamentos desumanos e uma política de hierarquia que impossibilita greves, discussões sobre política, entre outros.

 


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