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4298182974 bd01b5cd7c zVenezuela - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] Hugo Chávez venceu as eleições de 1998 com o Movimiento Quinta República, que era muito fraco. 


Foto: Globovisión (CC BY-NC 2.0)

Após as tentativas golpistas fracassadas de 2002 e 2003, ficou claro que era necessário fortalecer a base de apoio político do governo. Para controlar a Assembleia Nacional, Chávez precisava de um partido político próprio.

Qual é o papel do PSUV?

Com esse objetivo, foi fundado, em 2008, o PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela), com vários grupos da esquerda e até de setores que mantinham ligações com o regime anterior, rachas dos antigos AD (Ação Democrática) e da Copei (Comité de Organización Política Electoral Independiente). O chavismo se converteu num pensamento político com voo próprio.

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Para as eleições de 2006, foi formado o Polo Patriótico, integrado por 25 partidos. Para as eleições presidenciais de 2012, o Polo Patriótico foi transformado no Grande Polo Patriótico Simón Bolívar. Sobre esta base, o chavismo acabou se estruturando no sentido clientelista, em boa medida, orientado à compra de votos, de maneira direta ou indireta.

Na base chavista, há setores que são mais próximos a acordos com a direita e outros mas ligados aos movimentos sociais, dos quais os destaques principais têm sido o presidente Nicolás Maduro e o próprio Hugo Chávez. Os setores mais burocráticos do PSUV acabam boicotando a implementação das leis sociais que estão na base dos programas sociais do chavismo.

O cretinismo parlamentar do PSUV

O chavismo promoveu as chamadas mesas de diálogo com a direita, apostando em resolver as contradições por meio de negociações. O que menos houve foi diálogo, pois a direita busca impor a política neoliberal a favor dos monopólios e contra os trabalhadores. É o conhecido cretinismo parlamentar burguês do qual o chavismo se encontra hiper contaminado. Devido às limitações do chavismo, que acaba representando os interesses de setores da burguesia nacional, ele sempre teve medo de avançar no sentido da radicalização das massas contra o imperialismo. As tentativas do poder popular e outras não avançaram por conta do burocratismo da maquinária do Estado e do PSUV.

A única eleição que Hugo Chávez perdeu foi quando tentou acabar com as “alcadías” (prefeituras) e as governações para substitui-las pelas Comunas, os conselhos populares. É óbvio que parte do chavismo foi contra e boicotou a iniciativa.

Ismael García foi o chefe da campanha da reforma eleitoral. Ele propôs que não somente Chávez deveria propor a mudança dos artigos. A partir daí, ele propôs outras mudanças bastante radicais, principalmente nas questões econômicas, sem preparação adequada. Então a direita lançou uma campanha sobre que se as reformas fossem aprovadas “viria o comunismo”; que se você tivesse um pequeno negócio, você perderia tudo etc. Não houve uma campanha central e forte para desmontar a campanha da direita e o resultado é conhecido.

Ismael García acabou rachando com o chavismo, fundando o partido Podemos e até se convertendo no candidato da direita já em 2010. Em 2013 enfrentou, como candidato da MUD (Mesa de la Unidad Democrática), o candidato chavista Jorge Rodríguez, que é o atual alcalde (prefeito) do Município El Libertador (cidade de Caracas).

A cidade de Caracas era dividida, quando Jorge assumiu a alcaldia em 2008. A oeste, havia a população pobre, quase sem acesso aos serviços públicos. Ao leste, havia os centros comerciais, a especulação imobiliária. Rodríguez promoveu reformas, tentou resgatar os sistemas culturais, os teatros, as praças públicas. Os casinos clandestinos, que eram controlados por máfias, foram fechados. Em 2013, foi reeleito com 10% de diferença de votos, com um abstencionismo de aproximadamente 20%.

A integração do PSUV ao aparato do Estado

A ala burocrática do PSUV impulsionou a criação de organismos como as UBBCH (Unidades de Batalha Bolívar Chávez), que existem em cada centro eleitoral, divididas por patrulhas. Elas deveriam ser instrumentos da formação política, mas acabaram se transformando em mecanismos meramente eleitorais.

Na prática, o PSUV tem sido direcionado à integração no aparato do Estado, à disputa por cargos e às eleições. Conforme os movimentos sociais têm se fortalecido como reação à pressão da direita, a ala majoritária do partido tem buscado absorvê-los como instrumentos eleitorais e políticos.

Em relação ao movimento sindical, o setor mais importante (a Federação Unida dos Trabalhadores do Petróleo) está mais vinculado à PDVSA e, em menor escala, à siderurgia. Com Chávez, os sindicatos não tinham uma participação no processo eleitoral como hoje. Maduro, que foi operário do setor do transporte e um militante sindical, tem priorizado o discurso da luta de classes, convocado os trabalhadores e se reunido frequentemente com os sindicalistas. A principal central sindical é a Central Socialista dos Trabalhadores, chavista.

O PSUV e os movimentos sociais

Publicamente, não aparecem opositores à política social do chavismo e muitos movimentos sociais apostam na radicalização do processo produtivo.

Apesar desta questão não ter sido apresentada de maneira oficial, o presidente Maduro chegou a dizer que algumas das Misiones deveriam ser mais produtivas para evitar a dependência do petróleo. Por exemplo, para a Misión Robinson, que tem como objetivo erradicar o analfabetismo, foi apresentada a necessidade de ensinar cursos profissionalizantes para que os missionários pudessem trabalhar e ter uma renda.

Na Misión Madres del Barrio, as mães não somente recebem uma remuneração, mas o objetivo é que elas se organizem em cooperativas, como as cooperativas de costura e outras.

O presidente Nicolás Maduro representa a ala do PSUV que se encontra mais vinculada aos movimentos sociais. Por esse motivo, a grande imprensa burguesa tem promovido uma gigantesca campanha contra ele. Maduro tem escolhido os porta-vozes presidenciais nos movimentos sociais. O movimento camponês urbano conta com um representante presidencial que se reúne com as bases.

Maduro impulsionou o Movimento Pela Educação e o MBF (Movimento Bolivariano de Família), a partir do Ministério de Educação. Há mesas de formação ideológica, política e social.

Ele ordenou aos deputados e ministros chavistas que se reunissem com as bases. Mas isso, na prática, quase não tem acontecido.

A ala ligada aos movimentos populares é minoritária no PSUV. Além de Maduro, outros dos principais representantes são Héctor Rodríguez, que foi ministro da Juventude e da Educação, e o candidato a deputado nas eleições legislativas, o jovem Robert Serra, que foi assassinado em 2014.

O PSUV após as eleições legislativas

O PSUV, fundado em 2008, tentou minimizar a queda na eleição de deputados com o objetivo de evitar a implosão do Partido. A política de dividir a base de apoio dos governos nacionalistas tem sido a preferência do imperialismo no último período.

O enfraquecimento eleitoral deve levar ao primeiro plano as alas mais direitistas do PSUV, aquelas que buscam a aproximação e acordos com a Administração Obama e a direita. A política dessa ala passa pela redução dos gastos sociais e subsídios e a abertura parcial da PDVSA, a empresa estatal de petróleo, responsável pelo grosso do PIB, e a manutenção dos próprios privilégios.

A mudança na situação política pode acarretar protestos sociais e até a implosão eleitoral nas eleições de 2019.

Alguns rachas de menor porte já começaram a acontecer, ainda antes das eleições. No início deste ano, o grupo Marea Socialista abandonou o PSUV, apesar de manter a adesão ao chavismo, alegando que a facção majoritária é corrupta e que exclui as demais do poder. A resposta veio em maio quando o Colégio Nacional Eleitoral barrou a participação da Marea Socialista nas eleições.

O ex-ministro do Interior, Miguel Rodriguez Torres, concorreu a uma vaga na Assembleia Nacional como independente.

Nicolás Maduro contra Diosdado Cabello?

A ala que controla o PSUV está encabeçada pelo presidente Nicolás Maduro e o presidente da Assembleia Nacional Diosdado Cabello.

As duas figuras principais do chavismo são dois militantes históricos do movimento, companheiros de primeira hora de Hugo Chávez. Eles sucederam o carismático Chávez após sua morte em 2013, o qual desempenhava o papel concentrador das várias frações chavistas. Essa ala controla o poder executivo, o parlamento, o judiciário e o PSUV.

Maduro começou a atuação no movimento sindical, na categoria do transporte. Ele mantém ligações com a esquerda do chavismo, as comunas e os movimentos sociais, principalmente os do Município Libertador, a cidade de Caracas.

Cabello tem origem militar. Além de controlar a Assembleia Nacional, ele mantém grande influência sobre os aparatos de segurança e de inteligência, principalmente as Forças Armadas Bolivarianas e a Agência de Inteligência Bolivariana, além dos ministérios relacionados à segurança, ao planejamento e controladoria e ao desenvolvimento industrial. Cabello mantém relações próximas com vários governadores e aparece como o principal financiador das Milícias Bolivarianas e do Movimento Revolucionário Tupamaro.

A campanha da direita tenta opor Maduro a Cabello, mas, desde a morte de Hugo Chávez, ambos têm atuado em frente única tanto em relação aos ataques do imperialismo como aos da direita local. A DEA (agência norte-americana de combate às drogas) tem focado Cabello, mas nas últimas semanas passou a atingir Maduro com denúncias de familiares envolvidos no narcotráfico.

Após a derrota eleitoral do PSUV, nas eleições legislativas, está colocada a aceleração das tendências aos rachas dos vários grupos e setores do PSUV. Isso deverá ser acompanhado, principalmente o desenvolvimento da ala esquerda, ligada aos movimentos sociais, que hoje representa o setor mais à esquerda do chavismo.

Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.


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