Foto: Alejandro Acosta
A Frente Francisco de Miranda (ex-Frente de Luchadores Sociales) foi formada por jovens que foram enviados a Cuba para formação política e para tomar a frente das Misiones, os programas sociais chavistas. Alguns deles chegaram ao primeiro escalão das Misiones e do governo. Uma parte se integrou à burocracia do PSUV.
O processo de burocratização avançou no aparato do governo, principalmente a partir de 2008 com a consolidação do PSUV. A burocratização e os Coletivos saíram do controle do próprio. Chávez tentou empurrar a militância a trabalhar junto com o povo. Ele chegou a mandar os militantes da Frente para trocar lâmpadas para que conheceram como o povo vivia e que fossem os olhos de Chávez. Era uma espécie de caricatura da Revolução Cultural de Mao Tse Tung, aplicada na China na década de 1960.
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Um exemplo da “Revolução Cultural chavista” foi o que aconteceu com Acosta Carle, governador de Carabobo, um dirigente do chavismo muito próximo de Chávez. Um grupo de jovens que estava atuando em Carabobo pegou denúncias com o povo e acabou denunciando Acosta Carle por corrupção e desvio de verbas públicas para obras. Havia comida guardada em containers, no porto, que não chegava ao povo. As denúncias eram levadas diretamente a Chávez.
Após a morte de Hugo Chávez, Maduro criou os “porta-vozes presidenciais”, que deviam funcionar como os olhos do Presidente. Mas não funcionam.
Os coletivos chavistas
Em abril de 2001, o então chefe do gabinete de Hugo Chávez, Diosdado Cabello, e o então ministro do Interior, Miguel Rodríguez Torres, foram incumbidos de criar os Círculos Bolivarianos, com o objetivo de organizar a base social de suporte ao governo. Os Coletivos de Caracas foram um dos componentes principais dos Círculos. Posteriormente, os Círculos foram complementados pelas Milícias Bolivarianas, estas, de caráter voluntário, tinham como objetivo enfrentar novas tentativas golpistas. A Milícia Nacional Bolivariana foi criada em 2007 e hoje conta com mais de 100 mil reservistas.
Os Círculos Bolivarianos começaram a atuar em escala nacional em 2002. Os coletivos mais ativos de Caracas são os da Parroquia (Bairro) 23 de Enero, o grande reduto chavista, incluindo os La Piedrita, Montaraz, Simon Bolivar, Los Tupamaros, Alexis Vive e o Movimento Carapaica. São conhecidos os vínculos estreitos entre Cabello e o Coletivo La Piedrita, da conhecida militante chavista Lina Ron.
Hoje, os Coletivos são, fundamentalmente, movimentos armados, de choque, sem formação política. Quando Chávez disse que iria armar a população foram criadas as milícias que estão vinculadas às Forças Armadas. O braço social das milícias acabou sendo os Coletivos e os movimentos sociais.
Há alguns coletivos que foram se fortalecendo desde a luta pela resistência. Mas muitos deles acabaram se colocando contra o povo. Inclusive a direita acabou infiltrando parte deles. Muitas vezes, os coletivos da direita estão mais armados que a própria polícia e estão envolvidos com o tráfico de drogas e outros crimes.
Os Coletivos que são sociais, não milícias, no geral, também são mal vistos.
No geral, a direita busca desmontar os coletivos. Mas nos últimos cinco anos, o chavismo também tem tentado desarmar, sem sucesso, os Coletivos que estão armados. É evidente que o chavismo entrou em crise quando a Venezuela foi atingida em cheio pela crise capitalista mundial e que perdeu o controle da economia, da burocratização interna e até do povo que armou.
Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.