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6355318323 4c41d3ef76 zAmérica Latina - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] A Reserva Federal (Banco Central) dos Estados Unidos, anunciou recentemente a alta das taxas de juros, para as grandes empresas, de 0,25% para 0,50%. Poderia se pensar que se trata apenas de uma operação que não terá impacto sobre o Brasil e a América Latina, mas o impacto será, inevitavelmente, desastroso para as economias da região.


Foto: 401kcalculator.org (CC BY-SA 2.0)

Foi a primeira vez em nove anos que aconteceu uma alta dos juros. A partir daí, surgem três perguntas. Por que os juros têm sido mantidos tão baixos durante tanto tempo? Porque os juros foram aumentados agora? Qual é o impacto sobre os Estados Unidos, a América Latina e o mundo?

Neoliberalismo, da ascensão ao colapso

Desde o início da década passada, a economia norte-americana começou a dar sérios sinais da crise. A geração de lucros pelos monopólios havia decaído, de maneira fulminante, impactada pelas crises que, desde 1974, apareciam como crises parciais ou regionais. Na década de 1980, a crise atingiu em cheio todos os países da América Latina, a maioria dos quais foi obrigada a declarar moratória nos pagamentos das dívidas públicas. Na década de 1990, foram atingidos em cheio a Turquia, a Rússia e os chamados Tigres Asiáticos. Era o prenúncio do esgotamento das políticas “neoliberais” com as quais as principais potências, a partir dos governos de Ronald Reagan, nos Estados Unidos, e de Margareth Thatcher (na Grã-Bretanha), haviam conseguido conter, na segunda metade da década de 1980, a crise do período anterior, quando predominavam as políticas “keynesianas”, que haviam levado à disparada da inflação e do desemprego.

Para estabilizar a crise e manter os lucros foi aplicado uma espécie de keynesianismo "às avessas”. O chamado “estado de bem-estar social”, que implicava em volumosos investimentos públicos para manter as massas pacificadas, foi colocado no foco dos ataques. Os investimentos em infraestrutura foram reduzidos, a produção industrial entrou em crise e foi, em grande medida, migrada para países onde o custo da mão de obra era muito menor. As empresas públicas passaram a ser “privatizadas” e entregues a troco de quase nada para os grandes capitalistas.

Em 1989, o chamado Consenso de Washington impôs ao mundo uma série de políticas para priorizar o repasse de recursos aos monopólios de maneira ultraparasitaria. Datam desta época a Lei de Patentes, a OMC (Organização Mundial do Comércio) e a nefasta Lei de Responsabilidade Fiscal. Por meio destas políticas, os lucros foram mantidos em alta durante aproximadamente duas décadas.

O estouro da bolha imobiliária e a crise das bolsas levaram a Reserva Federal, encabeçada pelo famoso neoliberal Allan Greenspan, a procurar mecanismos que permitissem acelerar a especulação financeira. A tentativa dos Estados Unidos de se apropriar diretamente do controle do petróleo no Irã e no Iraque e do gás na Ásia Central fracassou com as derrotas militares no Iraque e Afeganistão.

Sob o comando de Greenspan, a regulamentação dos Estados Unidos foi afrouxada em benefício dos grandes bancos que incluem as divisões financeiras de todos os monopólios. A especulação financeira, durante um período, foi concentrada no mercado imobiliário nos países desenvolvidos. A farra acabou saindo do controle, o que levou ao colapso capitalista de 2008, que representou o canto do cisne das políticas neoliberais em escala mundial.

Por que os juros têm sido mantidos tão baixos por tanto tempo?

Os juros baixos representam o principal mecanismo para que os monopólios obtenham dinheiro público para aplicá-lo na especulação financeira, que movimenta o grosso da economia mundial. Somente os derivativos financeiros movimentam 15 vezes o PIB mundial que, ele próprio, já é bastante parasitário. Após o colapso capitalista de 2008, somente entre 2007 e 2010, segundo um estudo realizado pelo Congresso dos Estados Unidos, o Tesouro repassou US$ 16 trilhões para salvar os monopólios da bancarrota. De lá para cá, essa cifra foi aumentada várias vezes, principalmente por causa do repasse de recursos públicos a taxas de 0%.

Essa se transformou na política oficial em quase todos os países do mundo. Também na União Europeia, na Grã-Bretanha e no Japão, as taxas de juros estão perto de 0%. Nos demais países, as taxas são muito menores que as praticadas no mercado.

Conforme a crise tem continuado a se aprofundar, alguns países, que neste momento são mais de 13, começaram a praticar taxas negativas. Os “poupadores”, portanto, não conseguem manter uma conta corrente sem sofrer prejuízos. Os grandes bancos enfrentam dificuldades para estacionar o dinheiro nos mecanismos dos bancos centrais. Ao mesmo tempo, eles são remunerados para receberem dinheiro público. Trata-se da máxima expressão do parasitismo financeiro que inundou toda a sociedade capitalista.

Para o próximo período, está colocado um novo colapso capitalista que será muito pior que todos os anteriores. Todos os fatores que levaram ao colapso de 2008 se encontram presentes e mais atuantes do que nunca.

Por que os juros foram aumentados agora?

O principal motivo relacionado com o aumento das taxas de juros passa pela disparada dos títulos podres no mercado mundial. O mercado capitalista funciona em cima da emissão de diversos títulos, sejam ações, sejam títulos de dividas de empresas, títulos de dívidas públicas, de estudantes, de pagamentos a futuro de matérias-primas. Conforme a crise tem aumentado, a qualificação de risco que as agências qualificadoras fazem desses títulos têm piorado cada vez mais. Nos Estados Unidos, os títulos considerados como de alto risco ou podres têm movimentado mais de US$ 6 trilhões. As taxas de remuneração desses títulos caíram de 15% ao ano para menos de 4%.

A perspectiva para o próximo período é de um aumento gigantesco desses títulos podres no mercado mundial.

Portanto, os grandes monopólios estão em uma encruzilhada entre como continuar especulando e ao mesmo tempo evitar o colapso dos lucros da própria especulação financeira.

Até alguns meses atrás, o governo norte-americano comprava, pelo valor cheio, títulos que valiam várias vezes menos, num volume de US$ 90 bilhões por mês. O Japão faz isso hoje por U$ 750 bilhões por ano. A mesma política começou a ser aplicada pelo Banco Central Europeu como uma suposta panaceia para resolver a crise. Na realidade, não ha panaceia alguma. Essa política fracassou nos Estados Unidos devido ao alto parasitismo.

Os Estados Unidos, ao invés do que é apresentado pela imprensa capitalista, não apresentam qualquer recuperação econômica, nem mesmo do desemprego e nem do crescimento econômico. O que existe em todos os países desenvolvidos é uma espécie de “espuma”, como diria o famoso economista Nouriel Rubini, o homem que previu em detalhes o colapso capitalista de 2008, que antecede o tsunami que acontecerá no próximo período.

Qual será o impacto da subida das taxas dos juros?

A subida das taxas de juros não implicará na saída da recessão industrial. A crise capitalista atual é uma clássica crise capitalista de superprodução, onde o gigantesco volumes de capitais fictícios se expressa na forma de uma crise financeira. Essa política, simplesmente, tem como objetivo aumentar o repasse de recursos da sociedade para o punhado de grandes famílias que dominam o mundo.

O Brasil e a América Latina têm sido muito pressionados ultimamente para aumentar o repasse de recursos para os grandes monopólios. O recente rebaixamento do risco do Brasil para o status lixo, por duas das principais agências de risco, a Standard and Poor’s e a Fitch, implica em que o Brasil enfrentará muito maiores dificuldades para captar dinheiro e continuar mantendo em pé as engrenagens da ultra podre dívida pública brasileira. De acordo com a LDO (Lei das Diretrizes Orçamentárias), que foi submetida ao Congresso em janeiro deste ano, 48% do total tinha essa finalidade.

O pequeno aumento nas taxas de juros norte-americanas é só o início. Em março, acontecerá uma nova reunião da Reserva Federal que deverá aumentar os juros ainda mais. E mais cinco reuniões do tipo acontecerão em 2016.

O Brasil, assim como os demais países atrasados, será obrigado a aumentar as taxas de remuneração dos capitais especulativos que inevitavelmente buscarão o “porto seguro” na dívida pública norte-americana. A perspectiva para o Brasil é a disparada das emissões de títulos públicos e da impressão de dinheiro fictício, o que conduz à escalada inflacionária, à maior recessão industrial e ao aumento das divisas necessárias para enfrentar o aumento das importações, que hoje já é gigantesco por causa do direcionamento da economia à exportação especulativa de meia dúzia de matérias-primas.

A única maneira do Brasil sair da crise é rompendo com os acordos impostos pelas potências imperialistas, em primeiro lugar os Estados Unidos. Os ajustes e os apertos neoliberais impostos pelos países de cunho nacionalista na América Latina, contra os trabalhadores, têm se convertido em um dos grandes facilitadores da aplicação das políticas que os monopólios impõem. Para esses monopólios, o ideal seria poder aumentar o aperto ainda mais e por esse motivo buscam substituir esses governos por governos direitistas. Mas a capitulação dos governos nacionalistas às políticas impostas pelo imperialismo abre caminho aos governos de direita, tal como pode ser comprovado nos recentes acontecimentos na Argentina (eleição de Maurício Macri), na Venezuela (vitória por lavada da direita nas eleições parlamentares) e no Brasil (imposição do ajuste pelo governo do PT, que está minado desde dentro pela direita), entre outros.

Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.


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