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linaronVenezuela - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta, da Venezuela] "Se a direita ganhar, não teremos mais moradias, que aqui são grátis, nem nada. A educação, a saúde e até os tablets para os estudantes são de graça. A direita quer nos tirar tudo."


"Maria Solita". Foto: Alejandro Acosta

Entrevista sobre Lina Ron, uma das mais importantes militantes chavistas dos movimentos sociais.

A entrevistada é Mari Sequera, a “Maria Solita”, militante dos movimentos sociais e da UPV (a Unidade Popular Venezuelana, fundada por Lina Ron) que integra o PSUV (Partido Socialista Unificado da Venezuela)

Alejandro Acosta: Quem foi Lina Ron?

Maria Solita: Lina Ron foi uma lutadora social. Alfredo Peña, que era da direita, tinha ganhado a alcadia [prefeitura] de Caracas. Peña demitiu 1.500 operários que trabalhávamos nas ruas, no saneamento ambiental.

Lina encabeçou a luta para que a alcaldia pagasse um ano de serviço.

De uma mulher de classe média, estudante de enfermagem, ela se converteu numa lutadora social de linha de frente.

Em Santa Capilla, aqui no Bairro da Candelária [Caracas], há uma Igreja onde se organizou o movimento e a UPV. Hoje é uma espécie de museu, com muitas fotos sobre a nossa luta e Lina Ron.

Lina foi uma das mãos direitas de [presidente Hugo] Chávez, uma militante de base.

Alejandro Acosta: Como a senhora se vinculou à luta?

Maria Solita: Eu era uma das trabalhadoras demitidas. Eu varria as ruas até o ano 2000.

Ela orientou cada um dos trabalhadores, em todos os processos de luta, a marcharmos com as bandeiras da Venezuela levantadas. Ela foi quem me apelidou de “Maria Solita”.

Durante o golpe de estado de 2002, ela esteve presa acusada de ter queimado uma bandeira da Venezuela na Alcaldia. Mas não tinha sido ela.

Alejandro Acosta: Como foi o processo de luta no início?

Maria Solita: Com a nossa luta conseguimos pressionar o Ministério do Trabalho e as demissões foram suspensas. Mas nós retornamos ao trabalho devido às manobras da direita.

Dos 1.500 trabalhadores demitidos, 800 passamos a nos dedicar ao trabalho social. Isso sempre o fizemos em condições difíceis, sem nenhum privilégio para nós.

No início, nos envolvemos no Convênio Cuba-Venezuela para trazer assistência médica para os pobres.

Sempre foi um trabalho voluntário. Chávez lhe ofereceu a Lina um cargo no governo, mas ela não aceitou. Ela continuou o trabalho de base. Ela comia e dormia como o povo.

Após termos enviado algumas cartas a Chávez, conseguimos ajuda para pessoas descapacitadas ou com problemas de visão. Também passamos a ajudar as pessoas que tinham problemas com moradia ou que precisavam de algum apoio jurídico.

Durante o golpe de Estado de 2002 ela foi mantida presa, correndo o risco de ser assassinada. Quando nos disseram que Chávez estava vivo, nós dos movimentos sociais fomos todos às ruas e derrotamos os golpistas.

Alejandro Acosta: O que Lina Ron significou para a senhora?

Maria Solita: Em 2003, Lina disse: “Terão que passar sobre o meu cadáver para impor o chavismo sem Chávez. Aos pobres ninguém os quer; são os excluídos da Terra.” Isso me marcou muito.

A contrarrevolução acredita que matando a Chávez a revolução acabou. Mas não, ao contrário. A perda foi muito dura, mas nos obrigou a fortalecermos a luta. Nós somente queremos a igualdade para o nosso povo.

Lina Ron era como uma mãe, que considerava o comandante Chávez como um pai. Nos ensinou o forte [o difícil] que seria esta luta.

Quando lhe perguntaram a Lina o que aconteceria se ela morresse, ela respondeu: Lina morre, mas a revolução continua.

Lina faleceu no dia 5 de março de 2012 por [causa de um] infarto fulminante. Ela tinha ficado muito preocupada porque um mafioso, vinculado à direita, estava [prestes] para ser libertado da cadeia e poderia assassinar Chávez.

Alejandro Acosta: Como a UPV foi formada?ron

Maria Solita: Foi formada como base de apoio político para Chávez, inspirado pelo processo chileno com Allende.

A UPV conseguiu boas votações, conseguiu atrair gente de outros grupos. Mas Lina Ron nunca se candidatou a nada, nem nunca ocupou um cargo público. Ela dedicou a sua vida a organizar o povo. O povo é a base principal do Estado é o que lhe dá o suporte ao presidente.

Foto: Alejandro Acosta

A UPV continua funcionando em vários estados. Lina foi a única mulher que formou um partido político.

Alejandro Acosta: O que representava Chávez para Lina Ron?

Maria Solita: O maior comunicador. O maior militar. O maior “laçador” [no sentido de que une às pessoas]. A pessoa que contava com a maior capacidade para somar vontades.

Chávez teve a virtude de unir o povo pobre, mas também de provocar a unidade da oposição de direita.

Alejandro Acosta: Qual é a sua opinião sobre as eleições legislativas do próximo domingo, 6 de dezembro (de 2015)?

Maria Solita: A Assembleia [Nacional] é o que lhe dá o poder ao governo.

Se a direita ganhar, não teremos mais moradias, que aqui são grátis, nem nada. A educação, a saúde e até os tablets para os estudantes são de graça. A direita quer nos tirar tudo.

A Misión Vivienda nos permite ter casas de graça. A Misión Robinson, educação primária de graça. A Misión Ribas, educação secundária de graça. A Misión Sucre, educação universitária de graça. A Misión Barrio Adentro são os Médicos Cubanos. A Misión Negra Hipólita recolhe quem mora nas ruas. A Misión En Amor Mayor garante pensões para os idosos que também recebem três meses de décimo terceiro salário.

Alejandro Acosta: Qual é a sua opinião sobre o que a direita diz sobre o presidente Nicolás Maduro?

Maria Solita: Maduro é um operário que esteve com Chávez desde o início. Por que seria um burro, um ignorante? Porque é da rua como nós. Ele foi o ministro das Relações Exteriores do Comandante Hugo Chávez. A guerra econômica é muito dura. O desabastecimento é provocado pela direita. O que eles fizeram com Chávez em 15 anos, o estão repetindo com muito mais intensidade agora.

Se a direita chega a ganhar, nos tiram tudo. Entregarão o nosso petróleo aos Estados Unidos, que podem invadir a Venezuela. “No volverán!”

Alejandro Acosta: Mas uma parte da população diz que os salários não dão para nada ...

Maria Solita: Para o pobre sim, dá. Para nós é suficiente porque há muita ajuda do governo. O que acontece é que a direita, os empresários maiores, escondem a comida para vendê-la no mercado negro a preços muitos mais caros.

Sim, esperamos muitas horas na fila para termos os produtos básicos, que são subsidiados pelo governo. Mas acontece que há uma luta de classes de pobres contra ricos, a guerra do desabastecimento.

Alejandro Acosta: Qual é a sua perspectiva como militante social?

Maria Solita: Continuo como militante de Chávez. Neste momento, participamos do movimento Moeov (Movimento de Ocupantes, de moradias) pela luta por moradias.

Mesmo se os demais não quiserem levantar as bandeiras, eu as levantarei. Lina movia o povo. Para que alguém fosse como Lina, essa pessoa deveria ficar com o povo durante dias e mais dias como ela ficava, sem nenhum privilégio pessoal.

As pessoas devem lutar pelo que mais querem na vida. E, em primeiro lugar, devem defender a pátria, e se for necessário com a própria vida.

Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.


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