Ainda na faculdade, em 2007, o documentarista Caio Silva Ferraz percebeu a importância de registrar e debater a questão dos recursos hídricos no maior adensamento populacional da América do Sul. Em Volume Vivo, sua quarta produção audiovisual sobre o tema, Ferraz pretende mapear as causas e soluções para a crise da água na grande São Paulo.
A proposta é desenvolver uma série de dez mini-documentários (5 a 10 minutos) “com o objetivo de levar à sociedade civil um maior entendimento sobre a gestão da água na região, encarando a crise como um momento para repensamos o modo como lidamos com a água na macro-metrópole paulistana”.
Pela urgência em debater o tema, o produtor quer viabilizar os seis meses de produção, pesquisa, entrevistas, edição, animações, organização e disponibilização do conteúdo pesquisado na internet por meio de um financiamento coletivo. As colaborações podem ser dadas na plataforma http://www.sibite.com.br/campaigns/volume-vivo/. Em entrevista ao Le Monde Diplomatique Brasil, Ferraz falou sobre seu projeto e a crise do líquido vital para sobrevivência da espécie humana.
Antes deste especial para internet, você já havia feito outros dois filmes (Entre rios ePescando merda) sobre a questão da água. Como chegou nesse assunto?
Eu comecei a entrar em contato com a temática da água em São Paulo no segundo ano de faculdade, quando participei de um projeto de extensão entre os cursos de Audiovisual e Gestão Ambiental do Centro Universitário Senac. Pelo campus ser perto da represa Billings produzimos um documentário chamado Manancial que mostra a ação de quatro lideranças comunitárias em quatro diferentes municípios da represa Billings, São Paulo, Santo André, São Bernardo e Rio Grande da Serra. Nesse processo comecei a pesquisar a história do desenvolvimento da cidade de São Paulo, foi quando entrei em contato com a questão da reversão do Rio Pinheiros e do Plano de Avenida, que me levaram a fazer os outros vídeos.
O Manancial é um documentário bem primário, meu primeiro contato com documentário, direção, edição e com as águas. https://www.youtube.com/watch?v=Jv_0GAF8pew&list=UUGyvsFQTPP5HdWDoOBW9yUw
Você pode falar um pouco sobre estes filmes?
O Pescaria de merda foi um projeto realizado pelo Coletivo Santa Madeira, do qual eu fazia parte na época da faculdade em 2008. É um documentário performático onde registramos uma pescaria no Rio Pinheiros e uma instalação com os objetos coletados na Passagem Subterranea da Consolação onde continha um cartaz, “Achados e Perdidos” / Algum desses objetos lhe pertencem! A instalação teve uma boa repercussão, fomos até entrevistados pelo Jornal da Cultura. Além disso, o curta ganhou o Prêmio Revelação no Festival Internacional de Curtas de São Paulo de 2009.
O Entre rios foi meu projeto de conclusão de curso. Primeiramente era para ser focado só no Plano de Avenidas do Prestes Maia, mas com o desenrolar da pesquisa a história da cidade de São Paulo se mostrou mais e mais ligada com a água. O média, de 25 minutos de duração, conta a história da cidade sobre a perspectiva das águas. O vídeo foi amplamente divulgado na internet e conta com mais de 300 mil visualizações. Ele se tornou referência do tema, sendo usado em salas de aulas e em debates sobre a questão.
A seu ver quais seriam as razões desta crise dos recursos hídricos e por que tem sido pouco debatida?
A gestão da água é uma coisa muito complexa e abstrata e que compete totalmente ao poder público, municipal, mas principalmente estadual. Estamos em pleno período de eleição e não é interessante para o estado, acionista de 50% da principal empresa de abastecimento do estado, levantar essa poeira, pois pode gerar um impacto na campanha do candidato do governo.
Em suas pesquisas, o quem tem sido apontado como solução para o problema com a água?
Pelo que tenho percebido será necessária uma série de medidas, algumas delas emergenciais e outras visando médio e longo prazo. Vai ser necessário pensar a gestão da água de uma nova perspectiva, de captação, tratamento, reuso e coleta de água pluvial. Incentivos fiscais e financiamento de obras de tratamento além de ações que favoreçam a qualidade dos mananciais. Para São Paulo, acho que a primeira batalha vai ser despoluir a Billings, que é a maior possível fonte de água da capital e que se encontra em situação crítica.
O quer você considera fundamental para o debate sobre a água neste momento?
É importante as pessoas terem consciência que essa crise não vai ser só este ano. Mesmo chovendo bastante no verão, ano que vem teremos um desafio ainda maior, podemos começar a fase de estiagem com uma situação pior do que neste ano. É importante a população estar por dentro da discussão para saber criar demandas sobre o governo.