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070814 eratecnoAngola - Rede Angola - [Aline Frazão] Agora que o mundo parece caber na palma da nossa mão, agora que chegamos a qualquer lugar num segundo, que não há perguntas que o Google não possa responder, agora que toda a gente tem um perfil e pode ser encontrado, agora que o longe se fez perto e que já não precisamos nem de bússolas, nem de saber o nome das ruas, nem de conhecer o céu para encontrar o caminho, agora que um livro pesa tanto, agora que já não reconhecemos a nossa própria caligrafia e já esquecemos o número de telefone dos nossos pais, agora que seguimos a guerra pelo Twitter e nos manifestamos via Facebook, agora que, por fim, estamos todos conectados numa imensa rede mundial... Somos mais felizes do que antes? Mais sábios? Conseguimos fortalecer os nós ou será que queimamos de vez os laços?


Não me lembro da vida sem computador. Mas devo confessar que tenho passado, progressivamente, de ser uma optimista tecnológica a ser uma analógica crítica e desconfiada. Vejo os objectos tecnológicos como mais uma armadilha da sociedade de consumo além de serem um enorme obstáculo para a saúde das nossas relações interpessoais. Passada a euforia inicial, começam a aparecer as evidências do nosso descontrolo, em especial nos mais jovens. Dependência, depressão e ansiedade são algumas das doenças desta sociedade hiper-conectada a lado nenhum.

É provável que durante os últimos 20 anos tenha acontecido a mais profunda evolução tecnológica de sempre. Não sei se a maior mas seguramente a mais rápida. Queremos saber tudo, de forma rápida, breve, superficial. Mesmo este texto, convenhamos, já se fez demasiado longo. É a era do hiper-estímulo, do conhecimento fast-food, das respostas imediatas, principalmente agora que sabemos que Maria está conectada, que João já leu a minha mensagem. "Se já leu, porque é que não responde? Se está online, porque é que não fala comigo?"

Que tipo de relações estamos a construir? Quanta dessa chuva de informação conseguimos reter? Quanto mais conseguimos resumir? E como adaptamos a nossa identidade a esse estado de mudança permanente?

Nas redes sociais, criamos uma imagem de nós próprios que alimentamos à base de selfies e de likes. Numa egotrip sem pudor, vestimos máscaras como remendos, vencidos pela lógica do auto-retrato sem auto-análise. Somos todos fotógrafos, somos todos modelos mas, sobretudo, somos todos felizes. Porque no Facebook há pouco espaço para o insucesso e o fracasso pessoal. Há mesmo quem sofra horrores com o pânico de ser invisível.

Trocamos o autêntico pela cópia. Trocamos a contemplação da paisagem pela sua fotografia instantânea. Trocamos a experiência de um espetáculo ao vivo por um vídeo gravado pelo nosso braço cansado. Aborrecemo-nos com um jantar com os amigos e refugiamo-nos no Whatsapp. Não resistimos à tentação de fotografar aquele encontro inesperado no meio da rua, para mostrar aos outros, para guardar no nosso imenso arquivo fotográfico: o substituto contemporâneo da memória. A nossa vida é tão pequena que cabe toda no iCloud mas... aonde é que fica isso mesmo?

Em lado nenhum! Era questão de alguém se lembrar de carregar no Botão Vermelho e... delete! Já esteve mais longe. Um dia acordamos e um qualquer hacker-terrorista lembra-se de dinamitar toda a nossa ilusão. Gmail, Dropbox, Facebook, Instagram: Turning Off. Over. E talvez fosse melhor, pois às vezes parecemos um bando de Narcisos-narcóticos, vagueando pela rua sem olhar para o chão que pisamos, falando sozinhos, cheios de pressa e indo para lugar nenhum.


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