O que poderia ser um grande instrumento para o debate público de ideias e manifestação de pensamentos foi transformado num reino de intolerância e desrespeito à intimidade das pessoas. Não são poucas as vezes que tive a oportunidade de observar a tática de Goebbels, “repita uma mentira mil vezes para transformá-la em verdade”, em “posts” individualizados de pessoas ou grupos teoricamente descontentes com o governo no Twitter e no Facebook, muitos dos quais financiados por organizações oposicionistas, por grandes empresas ou pelo capital internacional.
O mantra do ódio caminha junto com a mentira, com a malversação de informações, e com o desrespeito à honra e à intimidade dos indivíduos. Muitos estão misturando crítica com agressão, calúnia e difamação, sem contar a junção da oportunidade para a disseminação de preconceitos. O ódio escondido contra pobres, nordestinos, mulheres, trabalhadores, homossexuais, dentre outros, saiu definitivamente das sombras e passa a campear nos discursos dos segmentos sociais conservadores.
Este tipo de conduta não é compatível com um regime civilizado e com o Estado de Direito Democrático. Se a política não pode ser exercitada de forma ingênua, também não pode ser utilizada como instrumento para a agressão e para a proliferação do ódio. Aliás, aqueles que atuam na proliferação do ódio defendem a não política, ou a condenação da política como caminho para a construção de ideais transformadores.
A tolerância, o respeito à diferença, a garantia da liberdade, da intimidade e da honra dos membros da sociedade sempre foram base central na construção de qualquer conceito moderno de Democracia. Mas quando as próprias instituições responsáveis pela tutela destes direitos, como o Ministério Público e o Judiciário exercitam o ataque às liberdades democráticas, dando o mau exemplo por meio da orgia de prisões cautelares e seletivas, pela invasão da intimidade de cidadãos e cidadãs, e pelo julgamento político dos seus adversários ideológicos, criam-se condições para a expansão de ações de cunho fascista em vários espaços de relacionamento social.
Silenciar diante desta campanha de ódio professada pelos verde-amarelistas e pela mídia pode nos tornas cumplices da criação de um reino de injustiças. Hoje, quem se coloca ao lado do pensamento golpista esquece que entre os fundamentos desse movimento está a desconstrução de direitos fundamentais que beneficiam a todos e, assim como alemães que aderiram ao nazismo, as pessoas que tomam parte em tal movimento poderão, em breve, perder vários anos pedindo desculpas à humanidade pelos crimes contra a dignidade da pessoa humana que já foram e serão praticados.
Não existe nenhuma justificativa válida para a chancela do ódio, e a seu crescimento no seio da sociedade brasileira somente poderá leva-la a tragédias.
*Sandro Ari Andrade de Miranda, advogado, mestre em ciências sociais.