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arroz1Venezuela - Opera Mundi - [Marina Terra] Forte crise econômica é fator determinante para o resultado deste domingo; 'Eles (chavismo) perderam porque não se importam com essa situação', diz venezuelana em fila para fazer compras em supermercado de Caracas.


Já era metade da manhã desta segunda-feira (07/12) quando a fila em um supermercado do bairro 23 de Enero, em Caracas, reunia por volta de 80 pessoas. A capital venezuelana amanhecia não muito diferente após uma noite de histórico revés para o chavismo. O trânsito trancado na Avenida Sucre, logo à frente do estabelecimento, e as dezenas de pessoas subindo e descendo da comunidade traziam um aspecto de normalidade. Mas na noite de ontem, mais do que perder a maioria na Assembleia Nacional para a oposição, o chavismo sofreu um duro golpe do eleitor, que em peso preferiu a opção opositora. O cenário político do país já não é o mesmo.

“Não sei se o chavismo já não é maioria no país. Conheço muita gente que votou neles (oposição) não porque não quer mais esse governo, mas porque está cansada”, diz María López, de 23 anos, moradora da região, um bastião chavista. Ela afirma ter votado no PSUV (Partido Socialista Unido de Venezuela), mas que imaginava o cenário atual. “Veja o sol, o calor que está fazendo, e nós aqui nessa fila. Ainda por cima segunda-feira é o pior dia para fazer mercado. Nunca tem nada”, desabafa.

Segundo o controle imposto pelo governo para a compra de produtos e o combate ao contrabando, o número final da cédula de identidade dos venezuelanos indica qual dia eles têm direito a comprar produtos a preços controlados pelo Estado. A María tocava o dia pós-eleição. À sua frente, uma senhora resmungava durante a entrevista. Ao final, disse não querer dar seu depoimento, mas lançou: “Eles (chavismo) perderam porque não se importam com essa situação. Maduro tem que se cuidar”.

A forte crise econômica pela qual passa a Venezuela é um dos fatores determinantes para o resultado deste domingo. Prejudicada pela queda dos preços do petróleo no mercado mundial, a economia começou a mostrar sinais preocupantes pouco antes do falecimento de Hugo Chávez, em março de 2013. 

A inflação disparou e a escassez de produtos básicos nas prateleiras dos supermercados tornou o dia a dia, principalmente das pessoas mais pobres, uma epopeia. A ausência de itens é explicada pela falta de dólares para importações – o país petroleiro importa 70% dos produtos que consome – e pela ação do contrabando, os chamados “bachaqueros”.

“Os chavistas ‘bachaqueam’ também. A situação está tão crítica que até eles revendem”, afirma Nelson Paz, de 60 anos, enquanto espera o metrô, no centro da cidade. “Eu não votei. Mas não acho que a oposição pode resolver algo. O que esse país precisa é de uma grande ‘limpeza’!”, continua. Para ele, mesmo com a maioria na Assembleia, a MUD (Mesa de Unidade Democrática) não deve ajudar a aliviar a crise. “Eles sempre disseram que querem uma ‘mudança’ de governo. Vão insistir até que Maduro saia”, completa.

“Bofetada”

Parece indiscutível que as repercussões dos problemas na economia entre a população atingiu o presidente venezuelano em cheio. Ontem, ao falar em cadeia nacional após o anúncio dos resultados pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral), Maduro atribuiu a derrota à “guerra econômica” e a “um capitalismo selvagem” e não relativizou o momento: “foi uma bofetada para nos fazer despertar para o futuro”.

“(Tivemos) reuniões e reuniões com produtores, distribuidores. Se estabelecia o preço justo para determinado produto e o escondiam... a Venezuela é submetida a uma guerra brutal, mas apesar desses resultados adversos, estamos de pé”, afirmou Maduro.

O deputado opositor e coordenador nacional do partido Primeiro Justiça, Julio Borges, afirmou em entrevista à emissora Globovisión que seria um “erro” atribuir a vitória da MUD à “guerra econômica”. Para ele, os venezuelanos não somente votaram pela proposta opositora como um mecanismo de castigo ao governo. “O venezuelano precisa que as mudanças econômicas necessárias sejam assumidas para tirar o país da crise”, disse.

Futuras medidas

Para economistas venezuelanos, o governo deve tomar medidas a partir de agora para não seguir perdendo apoio. O analista de tendência opositora, Luis Vicente León, disse que, caso os problemas econômicos não sejam enfrentados imediatamente em conjunto com a oposição, o destino será o “barranco”. De acordo com ele, as primeiras medidas da nova Assembleia precisam ser de caráter econômico.

Para Victor Álvarez, alinhado ao chavismo, é preciso “adotar, sem mais atrasos, urgentes medidas por meio de consenso, para corrigir os desequilíbrios macroeconômicos e reativar o aparato produtivo” depois das eleições. “É o que importa”, completou.

Ele ressaltou a possibilidade de que a oposição se concentre na convocação de um referendo presidencial ano que vem, quando se completam dois anos da eleição de Maduro. De acordo com a Constituição venezuelana, passada a metade do período de cargos e magistraturas de eleição popular, 25% ou mais eleitores podem convocar o referendo.

Para Álvarez, isso seria um equívoco. Ambas as partes precisam trabalhar juntas, diz ele, para começar “por mexer no preço da gasolina, unificar o regime de múltiplas taxas de câmbio e implementar uma regra fiscal para que a Assembleia não receba orçamentos com déficit maior que 5%”.

O valor do combustível está congelado há 18 anos na Venezuela, país com a maior reserva petrolífera do mundo. Nos postos de gasolina, o litro é vendido a um preço 29 vezes mais barato do que seu custo de produção. Motos chegam a pagar somente a gorjeta do frentista devido ao reduzido valor do tanque cheio. No final, esse subsídio representa um rombo de US$ 12,5 bilhões anuais (aproximadamente R$ 28,7 bilhões) ao Estado.

Não são poucos os que advogam por um aumento do combustível. Porém, esse tema é um grande tabu no país, que viu uma revolta popular eclodir em 1989 após um aumento vir acompanhado de um pacote de medidas neoliberais implementado pelo ex-presidente Carlos Andrés Pérez. As forças de segurança que deram início ao “Caracazo” mataram centenas de pessoas e as marcas desse período de extrema violência permanecem entre a população.

Ano passado, 55% dos venezuelanos se diziam favoráveis ao aumento da gasolina. Atualmente em uma encruzilhada, depois da derrota sem precedentes do chavismo neste domingo, Maduro tem pouco espaço de manobra. Medidas antes descartadas podem entrar no jogo novamente. 


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