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060116 gueColômbia - ANNCOL - [Dick & Miriam Emanuelsson] Em 15 de dezembro de 2015, foi assinado entre o governo de Juan Manuel Santos e a Delegação de Paz das FARC-EP o 5° ponto da agenda de paz sobre o tema das Vítimas.


Algumas vítimas da Colômbia presenciaram o histórico dia. Porém, o tema foi apresentado pelos meios oficiais como “todas as vítimas são das FARC”.

Na realidade, a insurgência é responsável por uma pequena parcela das vítimas surgidas durante o conflito social e armado de mais de 50 anos, calculada pelos organismos de DDH e ONGs entre 15% e 20%.

Não dá para compará-lo com a responsabilidade do Estado e seu “Monstro”, como apelidou Salvatore Mancuso, o paramilitarismo, que junto com as Forças Armadas representam 70% dos horrores do conflito colombiano.

A ANNCOL, por sua parte, apresenta na seguinte reportagem duas vítimas que não estão presentes em Havana hoje. São as guerrilheiras Susana Téllez e Diana Torrez, sobreviventes do bombardeio ordenado por Álvaro Uribe e seu ministro de Defesa, Juan Manuel Santos, em 1° de março, às 00:30 horas.

Uns 30 guerrilheiros e cinco universitários mexicanos estavam dormindo em suas ‘barracas’, sem dar-se conta de que uma das piores matanças contra seres humanos na América Latina seria uma triste realidade quando a primeira bomba de 250 libras (113,4 quilos) caiu sobre seus corpos. Apenas uma barraca e o mosquiteiro eram as “proteções”.

Santos se inchará hoje com frases e declarações sobre a paz. Porém sua “paz” não é do povo colombiano, mas das mineradoras, dos pecuaristas e do capital financeiro transnacional especulativo. Na sombra, estão os generais, militaristas ou corruptos, esperando para “ridicularizar o Acordo de Paz”, antes que tenha secado a tinta das assinaturas de ambas as partes.

As guerrilheiras das FARC, Susana e Diana, afetadas pelo bombardeio, não se encontram em Havana para presenciar a assinatura sobre o tema das vítimas. Estão no exílio em Manágua, Nicarágua, há quase oito anos. Dizem que quando o Secretariado as ordenarem a fazer as malas e novamente incorporarem-se às fileiras da guerrilha para cumprir suas tarefas, lá estarão. Porque são e continuam sendo das FARC, sejam quais forem as circunstâncias.

Lucia DanielNesta extensa entrevista de 85 minutos, elas relatam como foi o bombardeio na noite fatal e o dia seguinte, quando chegaram as tropas equatorianas ao lugar onde morreu o Comandante Raúl Reyes e sua equipe de segurança.

As guerrilheiras contam como foram os primeiros dois bombardeios com bombas de 250 libras, seguidos pelos helicópteros Black&Hawk que metralharam o acampamento e desembarcaram tropas regulares, cometendo crimes de guerra, que é quando o soldado dá um tiro de graça nas costas de seu inimigo. Os testemunhos para esse crime são de Susana, Diana e Lucía Morett, a universitária mexicana que sobreviveu ao bombardeio.

Foto: a universitária mexicana Lucía Morett na Nicaragua, com o presidente Daniel Ortega..

Por isso, foram procuradas pelos agentes enviados pela dupla Uribe & Santos, que objetivavam acabar com as três mulheres valentes. No entanto, elas não se deixaram pressionar pela horda fascista colombiana. As duas mulheres contam que conseguiram se salvar dos agentes enviados para assassiná-las no Hospital Militar, em Quito, Equador. Elas foram levadas do acampamento bombardeado graças ao ministro de Defesa do Equador, Wellington Sandoval, que as protegeu até a segunda semana de maio de 2008, quando foram levadas à Nicarágua.

A universitária mexicana Lucia Morett, por sua parte, se viu obrigada a refugiar-se em um lugar desconhecido no mundo depois que retornou a sua terra mexicana. O regime pró-ianque de Felipe Calderón não fez um só protesto contra o regime Uribista&Santista, que assassinou a sangue frio quatro jovens compatriotas, que na imprensa reacionária mexicana e colombiana foram caracterizados como “guerrilheiros em preparação”.

Os cinco universitários chegaram ao acampamento depois de um evento na capital equatoriana, convocado pelo Movimento Continental Bolivariano (MCB). Após o evento foram rumo a Sucumbíos e ao acampamento guerrilheiro para encontrar mais elementos no local para sua tese, por conta dos estudos latino-americanos que realizavam na Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM).Vero URIBE

Foto: Verónica Velázquez, mexicana morta no bombardeio.

O ataque ao acampamento do integrante do Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP, Raúl Reyes, foi executado em Sucumbíos, Equador, 1700 metros da fronteira colombo-equatoriana. O acampamento servia transicionalmente como um lugar onde Reyes recebia mensageiros de diferentes governos para facilitar a libertação de prisioneiros de guerra que as FARC possuíam à época, relatam as guerrilheiras. O ataque foi duramente condenado pela comunidade internacional.

Quem era o/a infiltrado/a?

Abril 2005: A jovem e bonita guerrilheira que se preparou para a entrevista era Susana Téllez, afro-colombiana que era parte da equipe de segurança do comandante Raúl Reyes. Eu a tinha escutado no dia anterior na aula do acampamento, quando fez uma palestra de mais de uma hora sobre a estrutura orgânica de todo o movimento guerrilheiro das FARC, desde as milícias populares até o Partido Comunista Colombiano Clandestino (PCCC).

O fez com uma elegância e segurança política que me impressionou, sabendo que ela tinha sido formada dentro das fileiras guerrilheiras desde os 13 anos.Era um ano duro, dizia tanto ela como Raúl Reyes. Uribe estava obsessivo por uma vitória militar e tinha lançado o “Plano Patriota”, o sucessor do Plano Colômbia, para partir com tudo contra as FARC e o ELN. Os estrangeiros já tinham mais experiência sobre o tema colombiano. Conseguiram capacitar seus colegas colombianos para unir os diferentes ramos das Forças Armadas com o objetivo de combinar os ataques terrestres com a aviação, assessorados pelos dois mil assessores militares estadunidenses na Colômbia.

A inteligência militar colombiana também se lançava com tudo, espionando a oposição popular para desacreditá-la, utilizando seus “fantoches” no Caracol e na RCN (meios de comunicação colombianos). Estes “colegas” chegaram a fazer “Um Dia no Exército”, montando-se a camuflagem na base de Treinamento do Exército em Tolemaida “para sentir como era estar no campo de batalha”. Não é de surpreender-se semelhante jornalismo ligado à guerra.

Quando recomecei novamente a entrevista com Raúl Reyes, Susana e o musculoso Arnóbis, o moreno encarregado no acampamento da metralhadora, se aproximaram. Vejo somente colombianos humildes, mulheres e homens da melhor qualidade humana, seres humanos sem medo de perder a vida para construir uma Nova Colômbia, onde todos pertencem, mas onde a oligarquia mata todos que insistem nesse sonho.

Não nego que pensei primeiro nestes guerrilheiros quando soube na tarde desse 1º de março de 2008, que tinha sido bombardeado o acampamento de Raúl Reyes. Três sobreviventes. Quem são?, me perguntei.

raul 2015Alegrei-me quando vi pela Telesur as sequências de um ato de mulheres sandinistas na Nicarágua, onde apareceram Susana, Diana e a mexicana Lucía um mês depois do bombardeio. Buscava no arquivo os vídeos e entrevistas das companheiras, entre elas “Catarina”, uma veterana guerrilheira que se salvou do genocídio político da União Patriótica, incorporando-se às fileiras das FARC nos anos 80.

Quando vejo as guerrilheiras novamente no início do mês de novembro deste ano (2015), sinto uma grande alegria.

Foto: O Comandante Raúl Reyes em abril de 2005.

Susana, com um braço visivelmente reduzido e duas pernas gravemente afetadas pelas bombas dessa noite fatal.

Diana, que visivelmente se vê doce e terna, perdeu a mobilidade de sua perna esquerda, onde a rótula voou na onda expansiva da primeira bomba.

– Quando desembarcaram as tropas colombianas e chegaram ao acampamento, muito companheiros que estavam feridos gritaram por auxílio. Foram respondidos pelos militares do exército colombiano com rajadas, conta Diana, com uma expressão nos olhos difícil de interpretar.

É a mesma história de Susana.

Sua casa em Manágua é como uma lembrança de sua “família”, como chama as FARC, porém, sobretudo, de seu comandante, “o Camarada Raúl”.

Foram testemunhas quando os militares colombianos, na madrugada, colocaram seu comandante dentro do helicóptero, levando-o à Colômbia como um troféu de guerra. Eles deixaram para trás 25 guerrilheiros mortos, vários com disparos nas costas. “Senti um vazio quando levaram o camarada Raúl”, recorda Susana.

Ela conseguiu afastar-se do acampamento depois do primeiro bombardeio. Estava na guarda entre 20:00-22:00 horas, duas horas e meia antes do bombardeio. Caiu “rendida”, disse, por algo estranho no ar que, posteriormente, disse ser uma química branca que os aviões certamente atiraram para fazê-los dormir.

– Como é possível que todo o mundo estivesse dormindo profundamente quando ocorreu o bombardeio? Outra coisa estranha é que os fuzis não estavam no respectivo ‘monte’ quando nós, sobreviventes, fomos despertados pelo bombardeio. Ou seja, a infiltração tinha nos desarmado antes do bombardeio, disse Diana.

Vimos muitos movimentos estranhos durante os dias anteriores ao bombardeio, acrescenta Susana, e alertei o camarada Raúl sobre esse fato. Ele disse que tinha percebido também, e saiu na mesma tarde, dia 28 de fevereiro, com três guerrilheiros para explorar o terreno onde íamos instalar o novo acampamento. Só faltava a delegação mexicana, que chegou às 18:30 horas do dia 28 de fevereiro, terminar suas entrevistas e ir embora, para depois armar o novo acampamento em um lugar desconhecido pelo inimigo.

As duas guerrilheiras analisaram durante estes quase oito anos o porquê de ter acontecido o bombardeio:

– Havia muitos movimentos nos arredores do acampamento por desconhecidos, disse Diana.

– Estamos certas de que tínhamos infiltração de guerrilheiros recém-chegados, acrescenta Susana.

Porém, outro fator preocupante para o Secretariado e o Bloco Sul das FARC era a suposta integrante da Comissão Internacional, a guerrilheira “Esperanza”, Nubia Calderón.

Depois do primeiro bombardeio, ela estava ilesa enquanto seu companheiro sentimental, Franklin, tinha morrido no bombardeio. Segundo nossas fontes, “Esperanza dizia, quando os guerrilheiros feridos pediam sua ajuda, que ‘ia conseguir ajuda’.

raul formaçãoEsperanza é um tema delicado, tanto para as FARC como para o governo sandinista. Para o governo colombiano, os sandinistas são inimigos mortais, principalmente depois que o presidente Daniel Ortega, da Nicarágua, visitou Manuel Marulanda durante o processo de paz em San Vicente de Caguán, 1999-2002. Porém, também por ter outorgado asilo político às duas guerrilheiras. Esta inimizade se reforçou depois da decisão da Corte de Haia, que sentenciou a favor do estado nicaraguense sobre o controle de grande parte do arquipélago das ilhas de San Andrés, onde a Nicarágua obteve mais de 70.000 quilômetros quadrados.

Foto: Formacão do acampamento de Raúl Reyes, abril 2005.

Em 27 de fevereiro de 2010, o jornal opositor nicaraguense e cegamente antissandinista, La Prensa, publicou extratos de um programa da RCN (canal colombiano de TV/Radio) na noite anterior. Nele, falava sobre uma suposta carta com data de 20 de agosto de 2008, do chefe da Frente 48 das FARC no Bloco Sul, Edgar Tovar, (Ángel Gabriel Lozada García) dirigida ao Secretariado das FARC, ou seja, três meses depois que Susana, Diana e Lucía aterrissaram na Nicarágua.unnamed

Tovar morreu em um combate em 20 de janeiro de 2010, não podendo, assim, desmascarar a montagem que a inteligência militar produziu e que saiu na RCN e em La Prensa no mês seguinte.

Na carta de Tovar ao Secretariado, este recomenda à máxima instância das FARC que se execute “Esperanza”, supostamente internada no hospital militar na Nicarágua. Ela chegou à Nicarágua sem que ninguém soubesse como. Porém, foi acolhida pelo governo nicaraguense, certamente pensando que ela também era vítima por sua presença no bombardeio de 1° de março de 2008, ainda que oficialmente só se tenha falado de três vítimas sobreviventes da ação.

Na carta de Tovar, obviamente uma descarada montagem da inteligência militar colombiana, este dizia o seguinte:

“Reunimo-nos, por solicitação deles, com o embaixador da Nicarágua e Nacho. Tratou-se de apenas um tema: a enorme preocupação que existe nos Governos nicaraguense e equatoriano porque vazou a informação sobre a forma como Esperanza foi transferida à Nicarágua”.

Nessa linha, o documento da inteligência envolve o governo sandinista, seu inimigo natural, na questão das asiladas na Nicarágua.

Seguimos:

“Se o anterior é grave, mais grave ainda é que Esperanza comentou a certas pessoas que a OEA, a CIA e a inteligência militar colombiana a têm muito hostilizado e que ela terá que vomitar muitas coisas que sabe, por exemplo: sobre algumas reuniões de Larrea com o camarada ‘Raúl’ sobre um dinheiro que, segundo ela, foi dado a Correa para a campanha”.

Aí Uribe & Santos envolveram o invadido, ou seja, o presidente do Equador, Rafael Correa, que por parte do chefe da Frente 48 das FARC teria recebido dinheiro das FARC para financiar sua campanha eleitoral.

E mais, e isto é o mais grave:

“Em exames feitos por Esperanza, descobriu-se, entre outros problemas de saúde, um câncer agressivo, o que significa que a ela restaria pouquíssimo tempo de vida. Ela está sendo atendida em um hospital militar, por médicos do Estado de absoluta confiança. Entre nós, depois de uma profunda reflexão e considerando que a questão é de extrema gravidade, ocorreu-nos a ideia de que se pratique a eutanásia e a tudo parecerá natural, produto da doença. O embaixador disse que isso pode ser feito sem nenhum problema e que só esperam a ordem daqui, que deve ser dada o mais rápido possível”.

O que um chefe de uma frente das FARC está propondo, das selvas impenetráveis do sul da Colômbia, é que as autoridades nicaraguenses assassinem “a agente da CIA” como “algo natural” através de uma “eutanásia”.

Isto é jornalismo colombiano sem máscaras. Parte da guerra psicológica.

Porém, também é jornalismo político da Nicarágua, onde o inimigo para o jornal La Prensa é o sandinismo.

RCN & La Prensa envolvem o governo sandinista em um suposto plano de Daniel Ortega e do Secretariado das FARC, objetivamente respaldado por Rafael Correa. O plano consiste em assassinar uma “traidora das FARC”, que insinuam ser agente da CIA e que está sendo assistida no Hospital Militar em Manágua.

Esta é a guerra psicológica em seu máximo nível e em frente internacional.

Susana e Diana se dedicaram a estudar durante os oito anos na Nicarágua. Susana se graduou ano passado em relações internacionais em uma universidade em Manágua, enquanto Diana, que é mais jovem, saiu como a melhor aluna do bacharelado, decorada e diplomada, e segue seus estudos em uma universidade na capital nicaraguense.

As duas querem aproveitar a entrevista para enviar uma saudação fraterna e combativa a seus chefes em Havana e aos demais camaradas da organização.

– Uma saudação muito fraterna ao povo da Colômbia, um povo valente ao qual nós damos amor e a causa a favor deles. Além disso, uma saudação aos camaradas, que aqui estamos, em uma outra trincheira de luta, porém estamos com eles. Estamos firmes com os presos de guerra, com o camarada Simón Trinidad, injustamente encarcerado nos EUA. Temos a convicção de que vamos conquistar a paz, porém proveniente da verdadeira justiça social.

– Aos camaradas que estão em Havana, que sigam adiante, que nos representam dignamente, que não sejam tão confiantes, porém que sigam adiante, que aqui estamos esperando que nos coloquem na causa. O povo nicaraguense é um povo digno, muito hospitaleiro e um povo guerreiro junto com os povos latino-americanos e do mundo.

As duas vítimas dizem, em Manágua, que não são derrotadas e possuem as malas prontas para continuar na luta.

Vídeo 1: Relato das guerrilheiras Susana e Diana, vítimas do bombardeio no acampamento do Comandante Raúl Reyes em 1º de março de 2008 (1;25 horas): https://www.youtube.com/watch?v=Bjievps84FM.

Vídeo 2: Entrevista (56 minutos) com os pais dos universitários mexicanos assassinados no bombardeio: “Convertendo a dor em luta!”: https://www.youtube.com/watch?v=VhB0m9vbUQ8&feature=youtu.be&list=PLrKXSXO-RwT3IcRub6nHn6zBI05ZnKhru

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB).


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