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250910_anakiroGaliza - Galizalivre - [Jacinto Tasende] O  falecimento da cantante galega Ana Kiro onte na localidade de Mera é hoje notícia de relevo em todos os jornais galegos. Analisaremos o tratamento informativo que deste acontecimento figérom Público, El País, La Voz de Galicia e A Nosa Terra, como referências de sensibilidades diferenciadas para formularmos umha tese sobre este tratamento informativo e a sua relaçom com o conflito de identidades e projectos políticos que, com maior ou menor intensidade, existe no nosso País.


Público

Destaca o jornal madrileno que Kiro "normalizó el uso del gallego" graças à sua aposta por cantar na nossa língua já antes da Transición Democrática. "Comprometida con su tierra" e "cordón umbilical que mantuvo unida a la diáspora –de Berna a Buenos Aires- con sus orígenes" som outras das caracterizaçons que o diário fai da cantora galega, destacando a negativa desta a tratar-se em Houston da grave enfermidade que padecia porque "médicos como los del hospital de Santiago, ninguno", no que parece um canto à sanidade pública galega.

El País

Aponta o rotativo do Grupo Prisa que Kiro concitou a convergência no seu funeral de sectores sociais e políticos aparentemente tam distantes como os representados por Núñez Feijo e a Mesa pola Normalizaçom Lingüística. "Hija de guardia civil" e artista que fijo "llorar a millares de personas" com cançons como Galicia Terra Meiga, El País assinala que esta "seguidora de Manuel Fraga" na década de 90 foi, também, umha das promotoras do Manifesto pola Convivência Lingüística impulsionado pola MNL.

A Nosa Terra

Umha entrevista a esta "arçuá de naçom" (?) à que nos remite o jornal digital galego informa-nos de que elevara a sua posiçom político-ideológica direitista à categoria de facto biológico. Assim, o nº 1280 do semanário impresso destaca a afirmaçom de Ana Kiro segundo a qual "som filha de militar e nom seria muito lógico que lhe saísse de esquerdas" (?). Esta visom quase genética do pensamento político é reiterada quando a entrevistada assegura que "é o que mamei de pequena. Meu pai seguia o regime –refire-se ao fascismo-, como era natural nel". Frente ao destaque de El País que recolhia que Kiro admirava Fraga Iribarne nos '90, a cantora ispe-se ainda mais na entrevista de ANT e declara que "tivem sempre grande admiraçom por Manuel Fraga" e "Admirei-no primeiro como Ministro de Informaçom" (!) da ditadura, mas, também, "por suposto, como presidente da Junta". É de agradecer tanta sinceridade num panorama de transformismo político e camuflagem por parte de quem assegurara sentir-se satisfeita de ser considerada "o Manolo Escobar da Galiza" (sic).

La Voz de Galicia

Respondendo aos seus particulares tiques, o rotativo espanhol sediado na Crunha destaca o reconhecimento da câmara municipal da cidade polo "papel na emigraçom" de Kiro e aponta palavras do alcalde hercuino que nos informa de que a cantora "residia na Área Metropolitana da Crunha". La Voz reivindica a franqueza e o arrojo de Ana Kiro por ser a "admiradora de Fraga que nom calou as suas simpatias", enquanto, no que se pode interpretar como um rapapolvos ao tecido cultural que exige injecçons de dinheiro público, a arçuá declara que "nunca necessitei subsídios para ser artista".

Som quatro mostras do tratamento dumha notícia que no dia de hoje ocupará capas de jornais, informaçons televisivas e debates em programas radiofónicos e digitais. Quatro mostras que, como poderá comprovar qualquer observador ou observadora atenta em outros meios, construem ou retratam um perfil que, com maior ou menor identificaçom, parece resultar entranhável para todo o espectro político institucional: emigrante, luitadora, trabalhadora, simpática, choqueira, galleguiña, correúda, directa, "sem ataduras" e, particularmente, sobretodo, símbolo dum galeguismo bem entendido que resulta aceitável para todas as agências informativas e gostos políticos.

Um galeguismo que concilia o bucólico amor pola terriña com a adesom aberta e pública a um mando da repressom fascista com cadáveres no seu deve político. Galeguismo "sem estridências", isto é, nom nacionalista, nom independentista, como o da fornada de dirigentes pró FAES que ocupam a administraçom autonómica galega, totalmente desligado do reconhecimento de direitos políticos para a Galiza, compatível com o PP e a sua estratégia da morte lenta do país praticada entre cantos ao folclore, a morrinha, a chuva, os palheiros, a dureza da emigraçom ou a paisagem que a construçom do AVE estraga ao seu passo ante a nossa passividade.

A funcionalidade ideológica que tem um ícone como o aqui apresentado para o reforço e a perpetuaçom do actual estátus político e institucional da Galiza é inegável: constrói-se, reconstrói-se e reafirma-se no nosso imaginário colectivo o que somos ou devemos ser, o perfil da "autêntica Galiza", "contraditória", "acolhedora para o visitante" e, em certos aspectos, "bruta", sim, mas, por cima de todo, "entranhável" e praticante dum galeguismo "doce" e "sem estridências". Sem projecto. Sem estratégia. Nada.

Assim, é compreensível que um doberman da extrema direita espanhola como Núñez Feijóo que cantava recentemente os crípticos "laços históricos" que existiriam entre a Galiza e a cidade africana de Melilla nom tenha reparos em glosar "o profundo amor à Galiza" da finada, que na sua cançom homónima dum minoritário, activo e referencial grupo independentista de finais de 70 musicava aquelo de "aínda queda algún cacique por estas terras enxebres, por unha Galicia ceibe, temos que acabar com eles".


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