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detencomGzContrainfoGaliza - Diário Liberdade - [C.C.] No meio-dia da sexta-feira dia 3 de outubro, a Guarda Civil espanhola arrestava em Compostela o militante independentista Raul A.C. e procedia ao registo da sua morada. Posteriormente, Raúl seria deslocado a Madrid, onde permaneceu dous dias e três noites em dependências policiais sob aplicaçom da Lei Antiterrorista e subsequente isolamento.


Foto de Galiza Contrainfo - Aparelho policial em Compostela para a detençom do militante independentista Raúl A.C.

Já na tarde da sexta-feira, as informaçons feitas públicas polo Ministerio de Interior indicavam que a detençom estaria relacionada com a investigaçom sobre a explosom de um artefato caseiro na Casa do Concelho de Baralha (Ancares) na madrugada da quarta-feira dia 1 de outubro, cuja autoria já tinha sido atribuída a Resistência Galega polo delegado do governo espanhol na Galiza, Samuel Juárez. O sábado, fontes policiais anunciavam alguns dados de escassa relevância, assim como o avanço nas pesquisas sobre a possível existência de armazéns de material explosivo. Na tarde do domingo estas pesquisas culminavam com a descoberta de panelas de pressom e temporizadores no Pedrouço, no Concelho do Pino.

Na manhá seguinte, segunda-feira dia 6 de outubro, Raul A.C. passava a disposiçom judicial na Audiencia Nacional (tribunal de excepçom espanhol) e, após acolher-se ao seu direito a nom depor, era-lhe decretado a entrada em prisom preventiva sem fiança. As acusaçons deitadas sobre ele seriam, em princípio, três: pertença a organizaçom terrorista (Resistência Galega), estragos e depósito de explosivos. Ainda agora se encontra à espera de julgamento em Soto del Real, a mais de 500 quilómetros da sua casa devido à política de dispersom penitenciária que se aplica nestes casos.

Até aqui os factos. Porém, a imprensa galega, maioritariamente de carácter local mas bem representada a nível autonómico polo diário La Voz de Galicia, parece ter ditado já a sentença contra Raul A.C. desde o mesmo momento da sua detençom. Em nome da segurança e o interesse público, e seguindo a linha estandardizada baseada nos comunicados oficiais que seguem este tipo de casos, até as normas básicas da ética jornalística, recolhidas nos códigos deontológicos da Galiza e do Estado espanhol aos que se acolhem estes meios, forom ignoradas deliberadamente. Certo é que nom cabia esperar umha leitura crítica do acontecido, mas, mais umha vez, a informaçom publicada ficou muito longe de qualquer parâmetro ético aplicável. Vejamos, entom, como se realizou a cobertura.

Preparando o terreno

Antes de começar a falar do tratamento que a imprensa galega dispensou a Raul A.C. é preciso observar também as informaçons prévias relacionadas com a sua detençom, começando polas notícias surgidas da explosom de um artefato no Concelho de Baralha. Tomando como fonte de referência a ediçom digital do jornal galego de maior tiragem, La Voz de Galicia, a quantidade de notícias publicadas em relaçom a este tema pode considerar-se muito elevado devido a umha exagerada e desnecessária fragmentaçom do tema em breves peças independentes. Esta fragmentaçom é um dos pilares principais da manipulaçom mediática, pois contribui para umha interpretaçom descontextualizada e tendenciosa que gera umha compreensom parcial e, portanto, nom holística, do tema a tratar. Desta divisom nascem em La Voz de Galicia até treze notícias em sentido estrito, um álbum, dous vídeos e um artigo de opiniom.

notícia principal, através da qual se articulam e ligam as informaçons surgidas com posterioridade, adoece de um sensacionalismo tremendista perfeitamente apreciável no tom e na linguagem utilizada. A utilizaçom de recursos como frases com certo ar literário que confirmam o "atentado" ou a insistência na gravidade dos danos sem dúvida sobre-dimensionam os factos e as suas consequências. Aliás, pratica-se um jornalismo de declaraçons que reproduz sem analisar nem contrastar as informaçons fornecidas nomeadamente por organismos oficiais e instituiçons e cargos públicos. Deste jeito, asumem-se de forma acrítica informaçons suscetíveis de serem analisadas, precisamente por provir de fontes interessadas em, por exemplo, nom relacionar o atentado com as declaraçons de corte franquista realizadas polo alcalde de Baralha em agosto de 2013.

Além da notícia principal existe outro material baseado em declaraçons e publicado em relaçom a este tema. Som, ademais, materiais breves e vazios de conteúdo, de maneira que nom acrescentam nada novo ao já publicado. Assim, fai-se umha lavagem de imagem ao alcalde da localidade lucense que redunda na ideia da inexistência de relaçom entre o atentado e as declaraçons sobre os assassinados no franquismo. Por outra parte, a construçom de umha nova majoritariamente através de impressons gerais e declaraçons indiretas e sem atribuçom, junto com um vídeo no que se mostram destroços no interior de umha vivenda particular, oferece umha imagem de consternaçom, de medo, de "terror", que serve como justificaçom ao adjetivo qualificativo de "terrorista" que se atribui ao acto e que mais adiante se aplicará também ao detido Raul A.C.

Nestas duas linhas desenvolvem-se outras novas posteriores, nas que a sensibilizaçom contra o terrorismo continua através da componente humana e o alcance dos destroços produzidos polo engenho explosivo de umha parte, e através de análises sobre a abrangência de Resistência Galega numha estratégia de desumanizaçom e criminalizaçom do independentismo galego.

É preciso destacar que existírom notícias de caráter político nas que, sem muito dissimulo, louva-se a postura do Partido Popular, protagonista favorecido em várias notícias, enquanto foi atacada a postura de AGE, que se negou a condenar o atentado no Parlamento Galego até a obtençom de provas.

Deste jeito dava La Voz de Galicia o tiro de partida para a "caça do terrorista": sobredimensionando os factos e criando umha nova e alarmante preocupaçom entre os seus leitores para asssim assegurar um bom acolhimento da futura mas já provável notícia da detençom de mais um jovem galego.

Ataque frontal aos direitos elementares

Finalmente, como já sabemos, apenas 48 horas depois dos acontecimentos de Baralha, produzia-se a detençom de Raul A.C. em Compostela. A criaçom do seu perfil excedeu com muito os limites do jornalisticamente defendível, e a presunçom de inocência foi o primeiro dos seus direitos a ser violados. Forom amplamente difundidos os seus dados pessoais completos (nome e apelidos, idade, lugar de origem, endereço completo da sua morada, estudos, relaçons de convívio, antecedentes policiais e atividade militante), assim como fotografias de arquivo da sua face, foi automaticamente definido como "terrorista" e ligado deliberadamente a outras informaçons com a finalidade de que estas contribuíssem à construçom de umha imagem negativa do detido.

Utilizando de novo a La Voz de Galicia como fonte representativa resulta interessante observar como neste caso a fragmentaçom das notícias é mínima e responde fundamentalmente aos tempos jornalísticos e à cronologia das informaçons fornecidas. Assim, tenta-se manter ligaçom entre os diferentes factos acontecidos à volta do mesmo tema através da repetiçom de dados e ideias. Já nas primeiras informaçons abundam os dados pessoais do detido acompanhados de umha foto de arquivo, e insiste-se na sua atividade política, assim como nos seus antecedentes policiais. Isto será umha constante na prática totalidade das notícia publicadas, e tem como objetivo a criminalizaçom de Raul A.C. em particular e do independentismo em geral.

É preciso destacar também outros mecanismos de atraçom da atençom como o tom de ficçom literária que tenhem algumhas construçons e frases das notícias, mais próximas à linha argumental dumha novela negra ou dumha série televisiva de intriga que a um trabalho jornalístico, com o objetivo de impactar e ficar na memória do/a leitor/a em troques da informaçom real.

Por outra parte, posto que se trata dumha operaçom dirigida pola Guarda Civil, esta exerce como única fonte em todas as peças informativas, sendo as suas declaraçons ou filtraçons nom atribuídas as que constroem o relato do que eles som à vez autores e protagonistas num exercício de auto complacência. É assim como as suas suspeitas som convertidas em afirmaçons, os seus indícios em factos provados e as suas suposiçons e especulaçons em realidades indiscutíveis. Chegam ademais a referir-se a Raul A.C. como "o terrorista" sem nem sequer recorrer aos habituais termos de relativizaçom tais como a colocaçom dum tímido "suposto" ante o epíteto correspondente ao delito.

Ainda, estabelecem-se ligaçons que vam para além do diretamente vinculado à detençom de Raúl A.C. Em primeiro lugar, e seguindo o relato do corpo armado, aparece sempre vinculado ao depósito de explosivos achado em O Pino, dando sempre por suposta a sua implicaçom. Em segundo lugar, aparecem ligadas a este caso notícias referidas a casos diferentes que tenhem como único fio de uniom as acusaçons contra Resistência Galega. Em terceiro lugar, é frequente a mençom ao independentismo galego em termos de "entorno radical" e dando destaque às mobilizaçons de rechaço à detençom de Raul A.C., o que lembra a velha e gastada estratégia de criminalizaçom aplicada em Euskal Herria e popularmente conhecida como "todo é ETA", e que agora poderia traduzir-se num "todo é Resistência Galega".

Em resumo, a pessoa de Raul A.C. foi alvo de um julgamento "em tempo real" nos meios de comunicaçom burgueses que o declarou culpável desde o início sem deixar lugar a qualquer mínima dúvida, seguindo o caminho marcado polas informaçons fornecidas polos corpos policiais e judiciais do estado espanhol e saltando-se mesmo as suas próprias normas éticas.

A modo de conlusom

A burguesia proprietária dos meios de comunicaçom defende os privilégios e valores da sua classe através dos seus jornais, rádios e televisons, e para isso oculta a realidade na que a maioria social que produz a riqueza sobrevive de forma precária, desprovista de qualquer poder, e criminaliza todo movimento, ideia ou acçom que questione o status quo. No caso de Raul A.C., como noutros casos relacionados com o 'terrorismo' de Resistência Galega[1], foi criado primeiro um alerta desproporcionado para situar o fenómeno no centro das preocupaçons da populaçom e incidir na forma em que esta entende os factos; logo tivo lugar a detençom e a exibiçom da peça caçada e desumanizada, criando a ilusom de que o sistema funciona e que os heróis existem. Portanto, a cobertura mediática da detençom e entrada em prisom de Raul A. C. converteu-se em mais um exemplo do antijornalismo imperante na imprensa de massas na Galiza, pois executou-se umha campanha de perseguiçom e intoxicaçom mediática em lugar de fazer um acompanhamento jornalístico com escrupuloso respeito dos direitos da pessoa detida.

(1) É preciso lembrar que este mesmo tratamento foi o recebido pola prática totalidade d@s militantes independentistas detid@s nos últimos anos por suposta vinculaçom com Resistência Galega, d@s quais mais de um/ha voltou para a sua casa sem ser formalmente acusada. As suas detençons encherom as capas dos jornais, mas sobre a sua inocência apenas foi publicada algumha notícia escondida nas páginas interiores.


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