A crise económica, o afloramento da corrupçom estrutural do regime, a expansom do empobrecimento, a vitalidade dos processos independentistas catalám e basco que Espanha foi incapaz de afogar no Estado de las Autonomías e a ilegitimidade do sistema ante as próprias massas espanholas apontam nesta direçom. Como em 1975-1978, trata-se de mudar algo para que todo siga igual e TVE esforça-se com tesom em dar a conhecer os novos atores extraparlamentares da trama em horários de máxima audiência.
Justo é assinalar aqui que a achega do nacionalismo galego hegemónico para se produzir esta implosom (e próxima reinvençom) foi cativa: há como mínimo 30 anos que este, que agora observa perplexo e desorientado o esboroamento, decidira abeirar e purgar quaisquer pulsons independentistas para procurar pragmaticamente o encaixe da colónia no regime político da metrópoli, umha vez decretada de facto, embora nom de iure, a inviabilidade do processo de liberaçom nacional e interiorizada a presunta impotência crónica do sujeito político povo galego.
Ai estám, como tristes provas da renúncia, as fotos de Xosé Manuel Beiras assinando a Declaració de Barcelona com CiU e PNV em 1998, de Guillerme Vázquez e Carlos Aymerich apresentando o constitucionalíssimo Estatuto de Naçom em 13 de maio de 2011, de Francisco Rodríguez exigindo "Estado plurinacional" espanhol e colocaçom da bandeira galega oficial nos quartéis das forças de ocupaçom e, por rematar, aquel triste artigo A estratexia da dinamita em que em 1 de novembro de 2003 o primeiro dos quatro, já fora de postos de responsabilidade, se laiava amargamente desde as páginas de Faro de Vigo do imobilismo espanhol ante um nacionalismo, o galego, que se emprestara a ser encoro de contençom da conflituosidade social galega.
O tempo evidenciou os magros resultados desta estratégia que anunciava benefícios para o país em troca de docilidade nacionalista: a via do soberanismo progressivo, que permitiria elevar de modo continuado a consciência nacional com a alavanca institucional em maos nacionalistas, e a capacidade de decisom através de sucessivas reformas estatutárias, era realmente um labiritinto sem saída.
E já nom só: à primeira oportunidade, o Estado iniciou a recentralizaçom ou recuperaçom das competências cedidas -como diz graficamente a gíria espanholista-, pondo a nu a eterna visom supremacista que late na sua cerna. O processo seguido antes polo Estatut e o Plan Ibarretxe constatárom, por se ainda figer falta, em conflitos nacionais mais avançados do que o nosso, que os projetos nacionais nom-espanhóis eram inviáveis dentro do quadro jurídico-político atual e confirmárom a histórica tese independentista da irreformabilidade num sentido positivo, para nós, do Estado que nos espolia.
Chegados a este beco cego, a posiçom do nacionalismo hegemónico é dessoladora: historicamente entregado a umha imaginária via reformista, com os seus perfis ideológicos mais significativos limados até a invisibilidade e desprestigiado ante amplos setores da sua base popular real e potencial, já nom é só que nom conserve a dignidade de quem embora derrotado pode mostrar as feridas da batalha: nem sequer conserva os votos e a gestom institucional que durante décadas fôrom lenitivo para acalmar todos os desnortes e contradiçons.
Neste quadro, a firme persistência do independentismo galego desde 1977 em posiçons ruturistas minorizadas aparece como um valor que, embora pago com altos custos em anos de cárcere, repressom e vidas, e incapaz de alterar no essencial este panorama, mantivo aceso o facho nas condiçons mais adversas e fijo com que, hoje, umha nova geraçom de galegas e galegos assuma sem os complexos e as covardias dos seus progenitores a reivindicaçom da independência.
Agora, após esta didática e crua experiência coletiva de quase 40 anos, com um país étnica e materialmente menos país do que em 1975, a reforma constitucional reaparece no horizonte e provoca a agitaçom soterrada das fileiras do nacionalismo da viragem soberanista. Grosso modo, como se todo o anterior nom tiver sucedido, diz-se-nos por parte de quem agora parecem reintroduzir as novas velhas ideias e marcar posiçom em público através de artigos e declaraçons antes de que a militáncia -eterna espetadora do essencial- se pronuncie, diz-se-nos, que devemos estar "dentro" da Segunda Transición, porque fora é o deserto, que a Galiza deve ter "peso em Madrid" ante a eventualidade da reforma e que isto só é possível com a presença dum grupo parlamentar galego forte no Congresso de Espanha que faga valer "os interesses da Galiza" [Note-se que galego nom é aqui sinónimo de "nacionalista", "soberanista" e muito menos "independentista"].
Ninguém nos explica qual será, para além da hipotética habilidade dialética desses parlamentares galegos e galegos que viajarám a Madrid erguendo o estandarte da naçom, o instrumento de pressom que empregarám na negociaçom com a Espanha imperial, umha vez que carecem dumha maioria social detrás, de poder económico, ou dum conflito aberto no próprio país. Pobre "peso galego" em Madrid em tais condiçons.
A ilusom está servida. A proposta de convergência eleitoral galega chega assegurar incluso, em reviravoltas dialéticas nom isentas de grandes doses de cinismo, e dirigidas ao público mais desconfiado ou radicalizado, que temos que fazer "como bascos e cataláns", e algum fala sem rubor de similitudes com Bildu quanto à estratégia, embora esta nada tenha a ver com a perspetiva de que os processos independentistas serám necessariamente unilaterais e ilegais, se querem ser, e abeirarám qualquer expetativa de avanço através do quadro constitucional que, ainda, apesar da teimossia dos fatos, albergam algumhas e alguns nacionalistas galegos.
A consequência lógica da proposiçom, com um BNG que resiste os embates, mas fica eleitoralmente tocado, é reagrupar as fileiras galeguistas numha candidatura "de país" por volta do Bloco, fazendo tábua rasa das presuntas diferenças político-ideológicas exarcerbadas nos últimos tempos e que, mesturadas com misérias personalistas e interesses tribais, provocárom a explosom do nacionalismo alojado tradicionalmente sob as siglas BNG. Aponta-se pois à convergência eleitoral do Bloco com Compromisso por Galiza, Cerna, setores nom organizados politicamente mas galeguistas, personalidades e quem quiger avalizar o experimento alegando a "excecionalidade" do momento. A ideia, transmitida a um movimento nacional enfraquecido, à defensiva e condicionado subjetivamente em todas as suas expressons polas experiências negativas da divisom e o conflito, às que se somam agora as apocalípticas prediçons demoscópicas, é espontaneamente vendível.
No entanto, suscitam-se várias perguntas além da mais lógica: o que fam os independentistas galegos e galegas participando na reforma do regime espanhol? A primeira e fundamental: além da retórica eleitoral, o que significa que "a Galiza deve estar dentro da Segunda Transición"? Propom-se acaso a participaçom do nacionalismo num futuro pato constitucional espanhol? Sugire-se que a Galiza se faga notar pragmaticamente como agente político no Congresso espanhol, volvendo à velha receita de pedichar competenzinhas ou defender o qualificativo de "nacionalidade histórica" sob o que o Galego já é umha língua minoritária? Acaso se pretende que a presença galega em Madrid se bata polo direito de autodeterminaçom e, no caso certo de ser negado, denunciar o regime? Duvido de que o afám guerreiro do que se anuncia como previsível nº 1 da iniciativa Espartaco Quintana e dos seus mentores chegue tam longe, visto que a única revolta que encabeçárom após Alhariz foi o jogo de rol dos irmandinhos da Direçom Geral de Juventude no castelo de Monte Rei. O previsível é a igualaçom à baixa dos teitos reivindicativos das famílias que antes convivérom sob o mesmo teito.
Tantas perguntas pedem resposta. Nom se trata de "maximalismo ideológico", mas de esclarecer à gente face onde se pretende que dirija ou nom os seus passos. Como compreender que um nacionalismo que se diz independentista e carateriza o país como colónia de Espanha olhe, de súpeto, interesse em participar na reformulaçom do regime colonial? Que sentido tem que mantenha umha participaçom reformista prática similar à de Podemos ou IU na crise do regime, quando umha das linhas fortes de critica a ambas forças foi afirmar que nengum regime espanhol servirá para a liberdade da Galiza? O que pode aguardar o povo dumha colónia da reforma do sistema político que exprime e perpetua a sua exploraçom económica, o seu domínio político e a sua opressom cultural? Que benefício neto tiraria o povo galego dessa reforma constitucional?
Todas as respostas que encontro reforçam a crítica do que já se perfila na névoa em boca e em artigos de Jorquera, De Toro, Vence, etc. Aliás, há um limite aritmético insalvável que @s propositantes, de terem um ápice de vontade independentista, parecem obviar: a realidade é que nunca, por numericamente poderosa que for a presença parlamentar galega em Madrid, se poderá abrir umha via soberanista legal a nom ser que acreditemos na possibilidade de o Congresso espanhol fazer o harakiri ao seu projeto nacional. Esta é a razom primária –logo das tentativas do Estatut, do Plan Ibarretxe e do que acontece agora em Catalunya- pola que bascos e cataláns perspetivam o futuro de posiçons de unilateralidade e rutura da legalidade constitucional.
Evitemos a este país a auto-humilhaçom histórica de ser o último que decidiu abandonar um barco no que nos subiram, maltrataram e mantiveram à força, e evitemos também a vergonha coletiva de que o naufrágio nos pesque esfregando a cuberta, ou dando lustre às cristaleiras da ponte de mando. Entre a reforma constitucional que perpetue este presente miserável e a construçom dum processo independentista unilateral a meio e longo prazo existe o salto abismal dumha decisom de país. Nom somos mais incapazes nem menos inteligentes que nengum outro povo para dá-lo. Ergamos esse facho sem medo, desouvamos aos pragmáticos que nos ensarilham em labirintos mentais e, com paciência e determinaçom, sabendo que a viagem será longa e dura, comezemos dar os passos necessários para tronçar definitivamente a cadeia.