Disponibilizamos em formato de fácil leitura o caderno publicado por "Ediçons Voz Própria" sobre a figura do patriota galego Afonso Daniel Rodrigues Castelao homenageado na XIV ediçom do Dia da Galiza Combatente.
O caderno fai um repasso biográfico da sua intensa vida militante, que o converteu num mito de todos e todas aquelas que consideramos a Galiza a nossa única naçom, é um mito daquilo que chamamos projeto nacional galego.
Lembramos que também pode conseguir-se em papel a um preço de 2,00 euro mais gastos de envio solicitando-o ao correio nacional@nosgaliza.org.
Reproduzimos na integra a introduçom do mesmo.
Introduçom
Afonso Daniel Rodrigues Castelao é um mito de todos e todas aquelas que consideramos a Galiza a nossa única naçom, é um mito daquilo que chamamos projeto nacional galego. Um mito para o bom é para o mau, sendo um referente inescusável para o conjunto da política deste país.
E como mito que é, atualmente é um fenómeno que caminha de forma independente em relaçom à sua própria obra. Castelao nom é Daniel Afonso Rodrigues Castelao, mas umha construçom simbólica levantada de forma compartilhada na concorrência entre diversas visons, tendências e formas de ver a emancipaçom nacional da nossa pátria.
Castelao é para os e as patriotas galegas a voz emocionada de Tareixa Navaza enquanto o sinal autonómico da TVE mostrava as imagens tingidas polo castanho e as porras do regresso do rianjeiro para a Galiza pós-franquista em junho de 1984. Castelao é esse facto fundacional da consciência coletiva da esquerda nacional e é lugar de divergências e campo de batalha ideológica.
Na prática importa pouco o que dixou ou pensou, importa é a etiqueta que cada qual queira atribuir. Castelao pode legitimar a aliança com o espanholismo ou a auto-organizaçom nacional, tal como a assunçom da autonomia e o rejeitamento da mesma, porque afinal também dá nome a um reconhecimento honorífico que detém grande parte dos maiores criminosos deste país. Na sua funçom simbólica, atribuir qualquer postura política concreta a Castelao é absurdo, tal como é absurdo definir-se ideologicamente em torno dele. Castelao pertence ao conjunto do nosso projeto de emancipaçom nacional, independente da divergência ou nom com o seu pensamento original, pois o homem de carne e osso se converteu numha outra cousa.
Hoje, ao pensarmos em Castelao, nom visibilizamos nengumha vertente concreta da sua polifacética personalidade. Nom pensamos nem no genial artista nem no político brilhante, e sim numha figura enxuita e inclinada, com uns óculos grossos e um chapéu, assim como umha terrível história cantada por Suso Vaamonde. Talvez a principal figura de Castelao fosse a de propagandística, conseguindo converter-se ele mesmo em propaganda histórica.
Agora bem, Castelao como mito nom é qualquer cousa que deva ser interpretada negativamente. É possível que Castelao represente o protótipo de inteletual galeguista com a formalidade estética e retórica que aprisiona a esquerda nacional. Porém, também o padrinho dos fihos do nacionalismo popular que reclamavam "vingança e novo estado" na Transiçom, ou objetivo frustrado dumha das principais operaçons propagandísticas do EGPGC.
A chave situa-se em que Castelao simbólico e mitológico deve revindicar a esquerda independentista, situando-se afastada das leituras reducionistas da sua potencialidade política. Necessitamos um Castelao que posiciona a Galiza como centro de todas as suas atividades, como um patriota integral que contribui no maior número de ámbitos possiveis para a libertaçom da nossa pátria. Castelao como construtor nacional nas artes plásticas e literárias, na política institucional e no verbo fero do mitim, o artigo e a banda desenhada. Mas também um Castelao que configura a língua como umha das prioridades do movimento nacional galego e assume umha ótica radicalmente reintegracionista. E um Castelao de esquerda e democrático, um defensor da batalha sem quartel ao fascismo, sem metáforas literárias, mas nos campos de batalha.
Um Castelao como figura patriotica, reintegracionista e combatente. Um reduçom nom espúria e sim simbólica, como o resto de interpretaçons ideológicas que circulam pola superestrutura que é a política galega. Assumindo abertamente que é umha simplificaçom que nom recolhe nem pretende a totalidade complexa da figura de Alfonso Daniel Castelao, mas que se fundamenta numha realidade histórica. Na Galiza do século XXI, o verdadeiramente importante e necessario é o Castelao icónico e nom o Alfonso Daniel Rodrigues Castelao histórico, que nom pode ser umha resposta ao reptos que enfrenta o nosso povo trabalhador.
Esta é impossibilidade lógica que configura qualquer aproximaçom política a Castelao como um mero ponto de partida. Nom podemos fundamentar a nossa praxe política no Sempre em Galiza como se este fosse umha Biblia, porque o nosso país afronta problemas novos, diferentes e agravados. Mas também porque o desenvolvimento social, económico e político que sofreu a nossa pátria possibilita abordagens muito mais avançadas que no primeiro terço do século XX. Nos dias de hoje, a confluência entre socialismo e libertaçom nacional que em vida de Castelao só se enxergava nas margens dos seu próprio espaço político, é hoje umha realidade com umha imperiosa necessidade de vencer. Além de mais, o patriarcado como instituçom opressora de mais de metade de populaçom conforma umha tripla opressom nacional e social de género que nom existe na obra de Castelao. E nom existe porque é impossível que exista, mas por isso mesmo devemos ir além deste patriota exemplar.
A realidade muda a cada passo, mudando também as análises e construçons políticas fundamentadas nela. As demandas, as táticas e as estratégias que povo galego precisa nom se acham petrificadas em nengum autor ou personagem galego, umha vez que as nossas próprias formulaçons políticas avançam e retrocedem.
Castelao é um dos nossos, porque a sua perícia vital é fundamental na construçom das visons políticas hoje assentes no independentismo revolucionário galego. E é-o porque o seu próprio pensamento historiza-se consoante o agravamento da opressom espanhola sobre a Galiza. Nom podemos fazer o que fijo Castelao no ano 36, porque seguramente o próprio Afonso Daniel nom o repetiria.
A mímese é absurda, mas nom por isso devemos deixar de estudar a biografia de Castelao, nom por obrigatória fidelidade com a sua obra, e sim como mostra concreta da evoluçom do nosso movimento nacional e da existência de pontos de ruptura fundamentais com o pensamento anterior.