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tatuagens de andorinhas 48Galiza - Sermos Galiza - [Carlos Garrido] Som consideráveis as vantagens que para a sociedade galega acarretaria o efetivo reconhecimento da unidade lingüística galego-portuguesa.


Tal progresso —que, só por si, constituiria um marco na história da língua autóctone da Galiza—, quando acompanhado de umha coordenaçom normativa do galego com as variedades lusitana e brasileira da língua, suscitaria umha intensa sintonia comunicativa galego-portuguesa, que, num plano projetivo, facilitaria a difusom dos produtos culturais (e de outra ordem) galegos no resto da Lusofonia (ou Galaicofonia) e, num plano injetivo, indispensável para a regeneraçom formal e funcional da nossa variedade galega, determinaria um maciço aproveitamento social na Galiza dos produtos culturais, científicos e artísticos daqueles países em que o galego-português é língua socialmente estabilizada. Como exemplo eloqüente deste vantajoso aproveitamento na Galiza de bens culturais produzidos noutros países da Lusofonia, com nítidos efeitos benéficos sobre a qualidade e o prestígio social do galego, desejo traguer aqui à baila um género de produtos culturais, com releváncia nos ámbitos educativo e profissional, de que eu, professor de traduçom, fago uso assíduo: os dicionários bilingues.

Hoje em dia, na Galiza, tanto no sistema educativo como no campo profissional, quando as pessoas (de fala galega) tenhem de entender ou tenhem de traduzir para galego um texto composto numha língua estrangeira, infelizmente, elas recorrem, na esmagadora maioria dos casos, a dicionários bilingues que confrontam a correspondente língua de partida com o castelhano (ex.: ingl. swallow > cast. golondrina) ou a um procedimento duplo e demorado, com o castelhano como ponte: primeiro consultam um (bom) dicionário que combina a língua de partida com o castelhano e, em segundo lugar, caso seja preciso, pesquisam a pertinente palavra castelhana num dicionário bilingue castelhano-galego (ex.: ingl. swallow > cast. golondrina, cast. golondrina > gal. andoriña). Duas penosas circunstáncias (estreitamente ligadas entre si!) explicam esta subordinaçom cultural dos galegos ao castelhano neste mundializado século XXI: por um lado, a inexistência de dicionários bilingues de qualidade profissional (impressos, digitais, internéticos) que, elaborados na Galiza, incluam o galego, e, por outro lado, a referida ignoráncia social da unidade lingüística galego-portuguesa, a qual, tristemente, hoje torna invisível a umha maioria de galegos o magnífico recurso educativo e a eficaz ferramenta profissional constituída polos dicionários bilingues de qualidade profissional (impressos, digitais, internéticos) editados em Portugal e no Brasil, os quais, ao confrontarem o léxico de diversas línguas estrangeiras com o de umha variedade geográfica do galego, ótimo serviço podem fazer aos utentes de galego.

Com o intuito de evidenciarmos, entom, o triste e o absurdo desta renúncia, que se repercute em subordinaçom cultural e desprestígio social para a nossa língua, e para exortarmos o nosso público a difundir o aproveitamento deste recurso por parte de todos os galegos, com independência da norma ortográfica que utilizarem, lancemos mao aqui de uns poucos exemplos de consulta de dicionários bilingues elaborados em Portugal ou no Brasil e, nomeadamente, daquelas duas obras que eu mais utilizo no meu trabalho, os bons dicionários de inglês e de alemám da Porto Editora, tanto na sua versom impressa quanto na internética. (Hoje estám disponíveis na Galiza vários dicionários de inglês-galego, mas nem o melhor deles atinge qualidade profissional [v. infra]; já em relaçom ao alemám, diga-se que, como acontece com a maioria dos outros idiomas estrangeiros, nom existe qualquer dicionário bilingue geral que confronte essa língua com o galego [da Galiza]). 

À partida, consideremos o meu elenco zoonímico favorito, que patenteia a unidade lingüística galego-luso-brasileira: ingl. earthworm > [dicionário de inglês-português supracitado:] > minhoca, ingl. owl > [dic. ingl.-port. supracit.:] coruja, ingl. slug > [dic. ingl.-port. supracit.:] lesma, ingl. snake > [dic. ingl.-port. supracit.:] cobra, ingl. swallow > [dic. ingl.-port. supracit.:] andorinha; al. Eule > [dicionário de alemám-português supracitado:] > coruja, al. Nacktschnecke > [dic. al.-port. supracit.:] lesma, al. Regenwurm > [dic. al.-port. supracit.:] minhoca, al. Schlange > [dic. al.-port. supracit.:] cobra, al. Schwalbe > [dic. al.-port. supracit.:] andorinha. Alguns galegos necessitarám, por agora, alterar a grafia de alguns destes resultados (para andoriñacuruxamiñoca), mas nada que empeça o reconhecimento e a utilidade na Galiza atual destas soluçons galego-portuguesas, representativas do léxico patrimonial surgido antes do século XVI (a propósito, como é possível que alguém sustente serem línguas independentes modalidades lingüísticas que compartilham as palavras andorinhacobra, coruja, lesma, minhoca...?!) [1]

Agora, reparemos em duas grandes vantagens e duas pequenas dificuldades associadas à consulta de dicionários bilingues luso-brasileiros por parte dos galegos. Primeira grande vantagem: em larga medida, tais dicionários dam-nos já resolvida a problemática davariaçom geográfica sem padronizaçom que hoje ainda sofre o léxico galego (v. artigo anterior da nossa série). Assim, por exemplo, consideremos os seguintes cinco casos: ingl. axis / al. Achse > [dic. ingl.-port. supracit./dic. al.-port. supracit.:] eixo (variante galega supradialetal sobreposta à variaçom eixe ~ eixo), ingl. elder / al. Holunder > [dic. ingl.-port. supracit./dic. al.-port. supracit.:] sabugueiro (variante galega supradialetal sobreposta à variaçom bieiteiro ~ birouteiro ~ sabugo ~ sabugueiro ...), ingl. ladybird / al. Marienkäfer > [dic. ingl.-port. supracit./dic. al.-port. supracit.:] joaninha (variante galega supradialetal sobreposta à variaçom avelinha ~ barrosinha ~ joaninha ~ rei-rei ...), ingl. leech / al. Egel > [dic. ingl.-port. supracit./dic. al.-port. supracit.:] sanguessuga(variante galega supradialetal sobreposta à variaçom amexuga ~ samessuga ~ sanguessuga~ zambezuga ...), ingl. window / al. Fenster > [dic. ingl.-port. supracit./dic. al.-port. supracit.:] janela (variante galega supradialetal sobreposta à variaçom fiestra ~ janela ~ jinela ~ (*)ventá ...) [2]. Soluçons, estas, que, mais umha vez, com as pequenas adaptaçons gráficas que para algumhas pessoas forem pertinentes (sanguesugaxanelaxoaniña), se revelam ótimas para todos os galegos.

Segunda grande vantagem: no caso da designaçom dos conceitos surgidos entre nós com posterioridade ao século XV, o ámbito em que o léxico galego hoje sofre estagnaçom e suplência castelhanizante, os dicionários bilingues luso-brasileiros oferecem-nos, em geral, soluçons otimamente idiomáticas e funcionais em galego, incluindo-se aqui a correçom dos tremendos dislates perpetrados pola neologia da RAG e que víamos nalgum artigo anterior. Por exemplo: ingl. cobra / al. Kobra ‘cobra muito venenosa da fam. Elapídeos que dilata a regiom cervical quando excitada’ > [dic. ingl.-port. supracit./dic. al.-port. supracit.:] cobra-capelo, ingl. hot dog / al. Hotdog [= cast. perrito caliente] > [dic. ingl.-port. supracit./dic. al.-port. supracit.:] cachorro quente, ingl. icon / al. Ikone > [dic. ingl.-port. supracit./dic. al.-port. supracit.:] ícone, ingl. jam / al. Marmelade [= cast. mermelada] > [dic. ingl.-port. supracit./dic. al.-port. supracit.:] doce de frutas + compota, ingl. locker / al. Schließfach‘armarinho num centro de ensino’ [= cast. taquilla] > [dic. ingl.-port. supracit./dic. al.-port. supracit.:] cacifo, ingl. macaw / al. Ara [= cast. guacamayo] > [dic. ingl.-port. supracit./dic. al.-port. supracit.:] arara, ingl. space shuttle / al. Raumfähre [= cast. lanzadera espacial] > [dic. ingl.-port. supracit./dic. al.-port. supracit.:] vaivém espacial [3]. Mais umha vez, poderemos precisar de adaptar ortograficamente algumhas destas soluçons, mas elas funcionam perfeitamente em galego!

Duas pequenas dificuldades: Nalguns poucos casos, a utilizaçom em galego das soluçons fornecidas polos dicionários bilingues luso-brasileiros poderá requerer de umha adaptaçom morfológica, a qual, no entanto, na maior parte dos casos, será evidente, como, por exemplo, ingl. fennel / al. Fenchen > [dic. ingl.-port. supracit./dic. al.-port. supracit.:] funcho, que passa para galego como fiuncho, ou ingl. rye / al. Roggen > [dic. ingl.-port. supracit./dic. al.-port. supracit.:] centeio, que alguns galegos (mas nom os reintegracionistas!) terám de tornar centeo. Só num número reduzidíssimo de casos enquadrados no léxico patrimonial, enfim, é que os utentes galegos de dicionários bilingues luso-brasileiros poderám ficar perplexos perante as soluçons lusitanas ou brasileiras propostas, que nom coincidirám com as galegas legítimas (ex.: ingl. lunch / al. Mittagessen > [dic. ingl.-port. supracit./dic. al.-port. supracit.:] almoço, equivalente do gal. jantar), mas a existência deste conjunto de casos, polo seu reduzido caudal (c. 1-2%?), é claro que nom detrai valor e utilidade a esta nossa potente estratégia galego-portuguesa [4].

Em conclusom, em matéria de dicionários bilingues (de inglês, de francês, de alemám, de italiano, de neerlandês...), o galego nom é inferior ao castelhano e, para capacitarmos a esse respeito o galego, apenas precisamos de lembrar que, como acontece com as andorinhas do nosso exemplário, também esses bens culturais emancipadores nos chegam do sul.

[1]. A patentear o seu caráter nom profissional, assaz incompleto, o melhor dos dicionários de inglês-galego hoje disponíveis, em relaçom ao nosso elenco zoonímico, apresenta omissom (= equivalência nula) no caso de slug e equivalência insuficiente no caso de earthworm (pois aqui dá como único equivalente galego lombriga [cujo significado principal, em bom galego, é o de verme nematode intestinal!]).

[2]. A patentear o seu caráter nom profissional, assaz incompleto, o melhor dos dicionários de inglês-galego hoje disponíveis, em relaçom a estes cinco exemplos, apresenta omissom (= equivalência nula) nos casos de elderladybird e leech, e nom resolve a variaçom geográfica nos casos de axis (dá como equivalentes eixe e eixo [enquanto só dá eixo no caso de ingl. axle!]) e de window (dá como equivalentes fiestraventá xanela).

[3]. A patentear o seu caráter nom profissional, assaz incompleto, o melhor dos dicionários de inglês-galego hoje disponíveis, em relaçom a estes sete exemplos, apresenta omissom (= equivalência nula) nos casos de cobra, hot dogjamlocker, macaw e space shuttle, e umha soluçom disfuncional (*a icona) no caso de icon.

[4]. De resto, esses poucos casos de divergência entre legítimas palavras patrimoniais galegas e palavras patrimoniais lusitanas podem consultar-se em O Modelo Lexical Galego, da Comissom Lingüística da AGAL (2012).

 


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