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220815 edGaliza - PGL - Eduardo Sanches Maragoto, professor de língua portuguesa e co-autor do documentário Entre Línguas, é um dos responsáveis por umha proposta de caráter reintegracionista para grafar a língua do vale do Xálima, na Estremadura espanhola.


Foto: Eduardo Maragoto e António Corredera

Nesta iniciativa é acompanhado polo xalimego António Corredera Plaza (Valverde do Freixo) e ainda José Luis Martín Galindo (Cáceres).

Em declaraçons para o PGL, Eduardo Maragoto explica de maneira alargada o porquê da proposta e as vantagens que esta teria para a sobrevivência do xalimego e para o bem-estar das pessoas que o falam.

Quanto tempo trabalhastes na proposta que apresentais esta semana?

Nesta proposta concreta estamos a trabalhar desde agosto passado. Realmente é muito mais ampla; o que apresentamos agora é apenas um resumo (que chamamos Critérios para Oriental a Ortografia da língua do Val de Xálima) que entregamos à associaçom A Nosa Fala, para que o tivesse em conta na sequência de um debate interno em que se pretendia fixar a ortografia daquelas falas. Nesse debate existiam duas posturas definidas, umha que pretendia fundar a nova ortografia nas Normas Ortográficas e Morfolóxicas do Idioma Galego e outra puramente foneticista, que parece ter mais apoio. Nós valorizamos muito o trabalho das pessoas que estám por detrás destas duas posturas, mas ambas tenhem umha desvantagem, que na prática usam o modelo da ortografia castelhana, algo que carece de lógica para umha variedade fronteiriça do português. Por isso, decidimos que era o momento de fazer umha proposta que assentasse na ortografia portuguesa, começando a explicar, com toda a paciência pedagógica do mundo, que a ortografia portuguesa pode representar perfeitamente as falas locais, sem que estas perdam nada de genuinidade, polo contrário, elas vam ficar muito melhor protegidas com a ortografia portuguesa.

Quando surgiu a iniciativa? De quem foi ideia?

A iniciativa assenta numha já longa relaçom de amizade entre mim e António Corredera, um escritor local que nos orientou na filmagem de Entre Línguas (co-dirigido por mim, Vanessa Vilaverde e João Aveledo). Este escritor foi evoluindo para o reintegracionismo desde há muitos anos; de facto, quando o conhecemos, em 2009, já ensaiava alguns traços gráficos portugueses nos seus escritos. Mais tarde, em agosto passado, como já dixem, após longas conversas sobre a situaçom da fala, decidimos que tínhamos que pôr isso sobre o papel, e nisso estamos a trabalhar. Mais tarde pugemo-nos em contacto com José Luís Martín Galindo, um historiador manhego-cacerenho que é o verdadeiro precursor da filosofia lusista na zona desde os anos 90. Juntos melhoramos a proposta e decidimos que na nossa estratégia devia ser prioritário conseguir que o português fosse língua do ensino no Xalma. Pensamos que ninguém perde e toda a gente ganha com o que propomos, por isso cremos que seremos ouvidos polas adminstraçons estremenhas, onde existe grande simpatia pola relaçom com Portugal.

Como é sentida a identidade da língua pola gente do Xalma?

É difícil traçar umha identidade comum a todas as pessoas, pois cada umha responde de forma bastante particular a esta questom. Por um lado, há quem se identifique mais e quem menos com as outras duas localidades com que compartilham “a fala” e por outro há quem se sinta mais próximo ou menos do português vizinho. Em geral, as pessoas mais velhas sentem mais essa proximidade e as mais novas vam-na perdendo à medida que a fala se vai castelhanizando; é o que acontece aqui também. Nas últimas décadas surgírom teorias muito variadas para a origem da fala (leonês antigo, repovoaçom galega…) e isso fijo aumentar a confusom, mas creio que a maior parte das pessoas continuam a pensar na sua fala como um dialeto fronteiriço do português.

Tem vitalidade no dia-a-dia?

Muita, muitíssima, e as pessoas sentem um enorme orgulho na sua fala. É a língua falada pola esmagadora maioria da populaçom se nom estiverem com um foráneo e é a língua que falam com pessoas galegas e portuguesas quando visitam o vale. Mas nom se pode negar que isto está a mudar, mais rápido do que nunca. Cada vez mais rapazes novos falam castelhano, quer por virem de fora quer por terem recebido já umha educaçom em castelhano. Antes, no ambiente falante passavam a falar xalimego em pouco tempo, mas isto cada vez acontece menos. Depois, toda a gente reconhece que a castelhanizaçom da fala é mui visível e quase imparável. Creio que a nossa proposta chega a tempo de corrigir isso. A ‘fala’ necessita de reforçar-se, de preparar-se para comunicar com o mundo, nomeadamente com os vizinhos próximos.

Apesar de o vale estar em Espanha, há um relacionamento fluido com Portugal?

Sim, é mui fluido. As pessoas conhecem-se, o mercado complementa-se, celebram-se juntas determinadas festas locais e na praia fluvial de Meimoa há mais valverdeiros que portugueses. Ora, também isto está a mudar, evidentemente. Cada vez se olha mais para Hoyos ou Acebo. É normal, e mesmo bom, mas nós pensamos que a relaçom com o outro lado também deve continuar a ser privilegiada.

O que teriam a ganhar os xalimegos e xalimegas com umha estratéga reintegracionista para a sua língua?

A língua pode fazer muito no sentido que dizíamos na resposta anterior. Da mesma maneira que ao longo de séculos uniu mais do que afastou, agora nom deve ser convertida numha barreira artificial. A ortografia é umha convençom, sabemo-lo, por isso deve ser convencionada para nom afastar artificialmente. Isso seria um empurrom enorme para a cultura local, porque facilitaria que as pessoas quefalam reconhecessem em palavras tam suas como ginja,canhoto; em expressons tam próprias como vamulá! ou ao léu; ou em pronúncias tam emblemáticas como distinguir sonoras de surdas (queijoqueixoasaassa), um grande valor acrescentado à sua cultura. De repente, isso que eles tenhem serve para comunicar com 200 milhons de pessoas. Por outro lado, o português reforçaria os traços mais particulares da fala. Há pouco tempo, um manhego queixava-se comigo de que a gente nova já nom sabia distinguirapanhar de colher, que agora usavam sempre colher como o castelhano. Esse senhor usava agarrarapanhar ecolher com os mesmos significados diferentes que tem na atualidade em português, língua à qual eu tivem que recorrer para aprender esses mesmos valores. É um exemplo de como o contacto com o português pode reforçar as próprias características xalimegas.

Quando foi a primeira vez que escuitaste falar das falas xalimegas? Quando foi a primeira vez que colocaste um pé no vale? Quantas vezes voltaste desse essa altura?

Bem, nom me lembro bem, mas suponho que estaria relacionado com algum artigo que defendia a teoria de que ‘a fala’ era produto de umha repovoaçom galega. Eu nom o via claro e viajei várias vezes ali interessado no tema. Pensava, como pensam muitos historiadores portugueses, que era produto de umha conquista portuguesa anterior. Hoje isso penso que já está demonstrado. Antes de começarmos a gravar o Entre Línguas, nesta zona e noutras froteiriças portuguesas, eu já tinha feito algumha visita rápida ao Xalma, com pessoal doNovas da Galiza: Carlos Barros e Irene Cancelas. Depois, com Vanessa Vilaverde e João Aveledo começou umha profunda relaçom com aquela zona, nomeadamente com a família do nosso guia, António Corredera, e eu figem praticamente umha ou duas viagens anuais desde entom. Ultimamente, o contacto com Galindo também foi em aumento, mas para um galego nom é difícil fazer e manter amigos no Xalma; a hospitalidade connosco por parte de todas as pessoas é total.


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