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080815 belGaliza - PGL - «No liceu conheci o PGL e o reintegracionismo; achei que o de escrever ‘em modo NH’ tinha bastante sentido»


Alonso Beltrán é professor de informática. Tem participado em projetos coletivos como no CS A Esmorga, de Ourense ou na cooperativa agroecológica de Granada, Las Hortigas. Quando ainda estudava no liceu foi que descobriu o Portal Galego da Língua (PGL) e o reintegracionismo em geral. Atualmente acha que o futuro da língua passa pela melhora do galego no ensino, pelo cumprimento dos direitos linguísticos na administração pública e pela assunção da Lusofonia como própria.

A tua família é metade galega, metade andaluza… Como foi a tua chegada ao galego?

Pois surpreendentemente parecida à de muitas das pessoas da minha geração. Explico-me: nasci na década de 80. Criei-me num bairro de classe meia-baixa de Ourense em que a maioria dos seus moradores procediam das aldeias dos arredores. O galego era língua familiar e da rua, entre as pessoas maiores de 40 anos. Connosco falavam tudo em castelhano, exceto quando nos repreendiam e pouco mais. Na escola, um colégio público superlotado na altura, nem uma palavra de galego até 5º de EGB. Deveu ser nessa altura quando lembro ter falado por primeira vez em galego. Queria praticar algumas palavrinhas das que aprendera na escola e experimentei com a minha madrinha. Estava eu na rua a me despedir dos colegas e ela disse-me de ir para casa. Acho que lhe disse «agarda um intre». Ficou chocada, suponho que não esperava tanta perfeição, he, he…

Quando e de que maneira deste o passo ao galego internacional?

Pois não sei. Deveu ser ao pouco de surgirem os foros de Internet e toda aquela trapalhada. Comecei a escrever em (pseudo)norma AGAL de jeito bastante natural. Anteriormente tivera o meu primeiro contacto no liceu, via companheiros e companheiras que estavam na AMI e que me passaram algum Terra Livre. Achei que o de escrever ‘em modo NH’ tinha bastante sentido. Foi na altura que conheci o PGL e o reintegracionismo em geral.

Na atualidade és professor de informática num liceu da Galiza… Qual achas que é a situação da língua no espaço educativo?

Bom, vou falar da minha experiência, limitada a um estabelecimento do ensino do Barbança. Fui professor de FP, portanto os meus alunos andavam nos vinte e poucos anos. Entre eles, falavam galego habitualmente algo mais da metade. Com o professorado que dávamos as aulas em galego (30 % do departamento, aproximadamente) a percentagem subiria até 85% – 90%, dependendo dos grupos. Fiquei com a ideia de que o ensino é um âmbito no que a presença do galego é maior do que em outros campos, se bem que na área de Formação Profissional a presença da língua galega em geral e da sua abordagem, depende quase exclusivamente da vontade do professorado e os alunos. Portanto, não há estratégia nenhuma de normalização por parte da Administração se bem que as possibilidades sejam imensas. Apenas colocarei dois exemplos:

Primeiro, o ano passado enviámos quatro alunos para fazer um estágio no Porto. Quase desde o minuto um, a comunicação com os seus chefes e companheiros foi fluida. Sem muito esforço, estes rapazes experimentaram como o galego pode abrir portas.

Segundo, na área de Informática há infinidade de documentação técnica em português, de facto às vezes existe em português e não em espanhol. Com a ajuda da Internet e com algo de empenho por parte do professorado mais consciente, poderíamos elaborar e, ainda mais importante, compartilhar com o resto da comunidade educativa, materiais para as aulas de muita mais qualidade dos que andam por aí e a custo praticamente zero. Existe portanto uma oportunidade fantástica para vincular língua e qualidade no ensino que devíamos aproveitar. A minha mão está estendida.

Alonso Beltrán 2A Esmorga foi o centro social de referência de Ourense na última década e Beltrán colaborou e participou de maneira ativa nele. Como foi essa experiência? Do teu ponto de vista como foi acolhido o projeto na cidade?

Pois houve de tudo mas agora, com a perspetiva do tempo que passou desde o encerramento da Esmorga, acho que em geral o balanço deve ser bastante positivo. Houve erros, obviamente, coisas que podiam ter sido feitas de outra maneira mas muita gente diferente passou por aí, muitas atividades foram feitas e muitos preconceitos caíram abaixo. Valeu a pena, em definitivo, embora só seja por muitas das pessoas que conheci e que hoje posso contar com orgulho entre os meus amigos e amigas.

Tens interesse pela agroecologia. De facto, colaborou em Granada com uma cooperativa, Las Hortigas, ao igual que na Esmorga, em Ourense, ao realizar atividades viradas para este tema. Como resultou ser toda esta aprendizagem? Achas que na Galiza os sistemas agrícolas são sustentáveis, tanto a nível ecológico quanto a nível social?

Pois foi uma aprendizagem que se tornou essencial no meu modo de (tentar) entender não só o mundo, como também a maneira de nos relacionarmos com ele. A experiência com as companheiras de Hortigas foi brutal. Nunca estive num coletivo que a nível organizativo funcionasse tão bem, com tanta implicação por parte das sócias e com uma trajetória com a qual anos depois continue a me identificar tanto. Falo duma cooperativa de autoconsumo que acho que deve estar perto de fazer 10 anos de vida, que gere várias terras perto de Granada, que gerou vários postos de trabalho de qualidade e que distribui hortaliças, conservas vegetais, queijo, azeite… para 150 sócias todas as semanas. Um coletivo que funciona por consenso e no que noções como empatia, cuidados… estão presentes em toda a parte. Um luxo, enfim. Evidentemente, há muitos aspetos desta experiência que podem funcionar na Galiza. De facto, tenho certeza de que há anos que estão a ser desenvolvidas iniciativas similares. Definitivamente, soberania alimentar, respeito ao meio ambiente, relações de proximidade, preservação de saberes e valores que quase desapareceram como as ajudas mútuas ou a importância do comunal são questões que encaixam perfeitamente com a agroecologia. Por favor, não confundir esta com os produtos BIO do Carrefour só para ricos.

Do teu ponto de vista, como achas que está a ser percebido o reintegracionismo na sociedade? E por onde deve caminhar?

Pois eu diria que há vários reintegracionismos, embora estes felizmente adotassem uma estratégia comum. Está o reintegracionismo de tipo mais académico, está a malta dos centros sociais que leva anos a desenvolver um trabalho constante e acho que pouco reconhecido e depois há um boom de iniciativas, de discursos, de sotaques diferentes que acho que estão a visibilizar cada vez mais o discurso reintegracionista, o de que a proximidade de galego e português é uma oportunidade que vale a pena aproveitar. Para quê? Pode ser para procurar legendas para as tuas séries favoritas, para conhecer bandas novas na Antena 3, para ler um romance sem esperar, no melhor dos casos um ou dois anos, a que saia uma tradução ou para ler um manual sobre bases de dados. Em poucas palavras, acho que o rumo é o correto, apenas temos que acreditar mais em nós próprios e aprofundar mais nessa linha.

Alonso Beltrán 1Que visão tinhas da AGAL antes de te associares e que foi o que te motivou a fazer-te sócio?

Pois há anos via-o como um coletivo de sábios/freaks com muita boa intenção, muito preparados, mas cujo discurso tinha um impacto próximo a zero na sociedade galega. Mas felizmente as coisas mudaram e hoje em dia vejo muitas coisas de que gosto: vejo pluralidade, vejo trabalho a rês-de-chão assim como uma grande disposição a fazer coisas embora às vezes cometam erros. Olha, há muitas maneiras de gerar discurso. A melhor para mim é a via dos factos. Como diria o meu velho, «hechos son amores y no buenas razones». E quase o mais importante, vejo como há alternativas ao discurso este choramingueiro de «não nos entendem não», discurso de que gostemos ou não, a maioria deste país nem aderiu nem vai aderir.

Como gostarias que fosse a “fotografia linguística” da Galiza em 2030?

Faltam apenas 5 anos assim que não vou pedir impossíveis, ou sim, depende. Vou nomear apenas três objetivos que, ao meu modo de ver, são assumíveis se houver vontade e um bocadinho de sorte. 1) Que as galegofalantes tenhamos os nossos direitos básicos garantidos em todos os níveis da administração, independentemente da normativa que usemos. 2) Que exista a possibilidade de educar as nossas filhas em galego em todos os níveis educativos. 3) Que a sociedade galega ou pelo menos os sectores mais dinâmicos, descubram que têm um lugar na Lusofonia. Noutras palavras, não me importo com que sejamos 300.000 ou dois milhões de falantes, sempre que o objetivo seja viver em galego a tempo completo e devagar devagarinho, que vamos construindo e ganhando mais e mais espaços. Querer é Poder, amigas.


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