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boticarioBrasil - Diário Liberdade - [Carlos Rico] No "Manifesto do Partido Comunista" escrito em 1848, Marx e Engels assinalaram com primazia e especial devoção o papel da burguesia como agente civilizatória na expansão do capitalismo e das relações sociais e culturais oriundas dele.


Foto: Fm P@s (CC BY-SA 2.0)

Mesmo que o texto não exprima o arcabouço teórico desenvolvido por Marx em "O Capital", já sinalizava a compreensão do revolucionário alemão acerca do capitalismo. Antes de negar o capitalismo no sentido de não aceitar os enormes avanços humanos engendrados a partir dele, Marx exaltava sua importância histórica:

A burguesia desempenhou na história um papel altamente revolucionário.

A burguesia, lá onde chegou à dominação, destruiu todas as relações feudais, patriarcais, idílicas. Rasgou sem misericórdia todos os variegados laços feudais que prendiam o homem aos seus superiores naturais e não deixou outro laço entre homem e homem que não o do interesse nu, o do insensível "pagamento a pronto". Afogou o frémito sagrado da exaltação pia, do entusiasmo cavalheiresco, da melancolia pequeno-burguesa, na água gelada do cálculo egoísta. Resolveu a dignidade pessoal no valor de troca, e no lugar das inúmeras liberdades bem adquiridas e certificadas pôs a liberdade única, sem escrúpulos, de comércio. Numa palavra, no lugar da exploração encoberta com ilusões políticas e religiosas, pôs a exploração seca, directa, despudorada, aberta.

Para Marx, a burguesia desempenhava, e continua desempenhando, um papel extremamente revolucionário. Ela não só tomava o lugar da religiosidade como instrumento de dominação sócio-cultural, como estabelecia novas relações sociais e culturais, além das econômicas. Passados mais de 130 anos da morte de Marx, o capitalismo continua a desempenhar um papel altamente revolucionário, civilizatório, ocidentalizador. É só pensar na inclusão que o mercado publicitário tem feito nos últimos cinquenta anos, além do mercado de trabalho, da indústria cultural etc., de grupos antes marginalizados. Não é à toa, por suposto, a inclusão de negros, LGBTTs e mulheres em espaços reservados quase sempre unicamente para um padrão europeu-cristão-masculino.

A "polêmica" peça publicitária do "O Boticário" para o dia dos namorados, em que casais héteros e homoafetivos presenteiam-se com perfumes da marca, exprime muito bem essa constatação. É óbvio que o objetivo central da empresa é a conquista de mais um nicho do mercado consumidor. Independente do objetivo da empresa, o movimento que várias empresas de vários segmentos fazem é demonstrativo da posição que as relações capitalistas têm na sociedade. As formas religiosas e outras tantas culturais têm que se adaptar ao que o mercado determina. Grandes corporações como Coca-Cola, Microsoft e o Facebook, pra lembrar algumas dos ramos que apoiam a união e os direitos civis homoafetivos, ditam, com a força que só o capital tem, além de modos de comportamento, direta e indiretamente a inclusão de grupos e estratos sociais antes excluídos, segregados e violentados pelas formas sociais e culturais que não condizem com a crescente necessidade de expansão de capital:

A burguesia despiu da sua aparência sagrada todas as actividades até aqui veneráveis e consideradas com pia reverência. Transformou o médico, o jurista, o padre, o poeta, o homem de ciência em trabalhadores assalariados pagos por ela.

A burguesia arrancou à relação familiar o seu comovente véu sentimental e reduziu-a a uma pura relação de dinheiro.

A burguesia pôs a descoberto como a brutal exteriorização de força, que a reacção tanto admira na Idade Média, tinha na mais indolente mandriice o seu complemento adequado. Foi ela quem primeiro demonstrou o que a actividade dos homens pode conseguir. Realizou maravilhas completamente diferentes das pirâmides egípcias, dos aquedutos romanos e das catedrais góticas, levou a cabo expedições completamente diferentes das antigas migrações de povos e das cruzadas.

Não é exagero apontar a centralidade das relações sociais capitalistas em todas as instâncias da vida social, em qualquer espaço em que elas sejam os principais organizadores econômicos, sociais e culturais. É necessário ressaltar, entretanto, que essa inclusão na vida social por meio do mercado publicitário e da indústria cultural não é suficiente para garantir o respeito e a integral inclusão desses grupos em todos os espaços possíveis, mas aponta o poder devastador com que as relações de produção capitalista subjugam todas as formas sociais e culturais arcaicas, especialmente as religiosas.

Bibliografia

ENGELS, F; MARX, K. Manifesto do Partido Comunista. 1848. em: <https://www.marxists.org/portugues/marx/1848/ManifestoDoPartidoComunista/index.htm>. Acesso em 06 de jun. 2015.


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