Os Rastreros fôrom no rock do seu tempo os equivalentes aos Precursores da nossa literatura, mas em punk. Em punk de aldeia, claro.
No ano 91, do século passado, do milénio anterior, gravárom a fita-demo Nom lhe toques o rabo à vaca que pensa que é o boi e no ano seguinte o mítico EP em vinil Perigo! Animais ceives. Depois nada voltará a ser igual. Letras como Santa Cona, Santo Caralho, na casa de deus come-se a destalho ou a da Vida de Jam fôrom o presépio do punk-galaico. Umha declaraçom de princípios de sete estalos, ou mais.
Decerto, fôrom bons pioneiros como bons anfitrions. Na cantina do Cavaleiro, na paróquia chantadina de Viana, foi onde se assinou o particular Banquete de Conjo do rock galego. O rock galego fijo-se visível. Acabava de nascer o Rock Bravu. O evento era organizado polos Rasteros, e no almanaque marcava o ano 1994 depois de Cristo!
Como, quando e por que tivérom que nascer os Rastreros?
Quando um é novo e tem algumha cousa dentro que lhe ferve tem que sair por algures. Como predicavam os Clash, decidimos canalizar as nossas frustraçons em troca de com violência gratuita com umha saída criativa como era a música e ao mesmo tempo desafogávamos berrando ao mundo o que pensávamos dele.
Que alternativas havia em 1990 se tinhas 20 anos em Chantada para além de ser punk?
Podias ser heavy, ou mauricinho com uns flamantes levis 501 -se tinhas carto, claro-. Os hippis já entom estavam em perigo de extinçom -agora mutárom a hippongos para sobreviverem- e podias nom ser nada. Nem se nos pasava pola cabeça.
Érades os anarquistas da aldeia, continuades a sê-lo?
Desde que se descobre como é o poder perde-se-lhe o respeito. E desde que se lhe perde o respeito a algo é muito difícil voltar-lho a ter.
Por ser capazes de utilizar as tácticas mais rastreras –ruins- para conseguir qualquer objetivo que um moço de 17 anos pode desejar. Sexo, drogas e rock & roll, fundamentalmente.
Depois dos multitudinários concursos de juramentos que argalhávades... Continuavam a verder-vos fiado na loja do povo?
Sim, ho! Éramos uns clientes extraordinários da cantina!
Quem tivo a ideia de organizar o cozido de Viana, no concelho de Chantada, o particular banquete de Conjo do Bravu? Conta-nos os melhores momentos daquele dia
Foi o Ríchi, um dia falando com o Jurjo Souto reparou em que tinham surgido um monte de grupos por toda a geografia galega, que, sem saberem uns da existência dos outros, faziam rock em galego-português contando cousas próprias da sua realidade, sem tentar imitar clichés das bandas de fora. Havia que reuni-los como fosse. E que melhor jeito que combinar com um cozido de por meio, bem regado com vinho e licor-café. De ali nom podia sair nada mau, como ficou demonstrado.
O Jam da cançom Jam que vás fazer, Jam estás fodido, a mulher prenhada e os filhos saídos existiu?
Existiu, sim. Foi umha frase ouvida, como tantas outras das nossas músicas, na cantina de Viana.
Despois veu o disco da Uniom Bravu. Como fôrom esses anos?
Era todo farra. Os ensaios, os concertos, as gravaçons, as festas. Estávamos desejando ir ensaiar polo bem que o passávamos. Nom tínhamos a ideia de triunfar. Mais bem era a ideia de fazer o que nos petasse. Reivindicar o nosso jeito de vida na aldeia e o dos nossos vizinhos e vizinhas.
Figestes amizades?
Elas bem sabem quem som, dá para ver quando estamos com elas. Estamos muito contentes de tê-los como amigos. E também todos os das dedicatórias do CD.
E inimigos?
Fundamentalmente ramistas de comissons de festas, proprietários de salas, managers, gente que comprava tabaco, moços que ficassem sem namorada. Mençom especial merecem representantes de votantes sem representaçom real, representantes da ordem, representantes da lei e representantes de divindades diversas na Terra.
Aliás, algum de vós militou ativamente no importante movimento antimilitarista galego, que levou à cadeia muitos jovens galegos que se recusavam a fazer o serviço militar espanhol. As vossas letras eram insubmissas?
Com certeza, e como todo grupo de aquela época tivemos umha música antimilitarista que non se chegou a gravar mas sim se chegou a tocar.
Pensas que ao Bravu lhe faltou algumha cousa por dizer? Cuidas que morreu no momento certo, como os bons punks?
O Bravu nom sei, nós nom deixamos pedra sobre pedra... até nos cortárom a luz várias vezes quando o cantor se mostrava mais, digamos, criativo.
Pode ser que o que lhe faltasse fossem lugares onde dizê-lo -a televisom e a rádio galegas tinham-no praticamente vetado- e assim era mais difícil chegar dar o salto ao estrangeiro. Quanto ao de morrer, o que se di morrer... umha erva, ainda que for má, nunca morre se a sua semente floresce. Caralho! viste que poético ficou!
Fostes umha das poucas bandas bravu em sair no Jabarim Clube. Que lembranças tendes da vossa participaçom?
Outra festa. Porém, talvez fosse a música mais trabalhada porque havia que fazer umha letra para a rapaziada. Os rapazes e raparigas som pessoas muito espertas e som capazes de entender qualquer história. O problema era passar a censura das maes integristas que à mínima chamavam à direçom da TVG para darem queixa de que lhes pervertiam as crianças. Falo a sério!
Também lembro algumha experiência curiosa no programa Luar...
Nós íamos com a nossa festa a todos os sítios. E isso nom o entendia todo o mundo. Hai-che gente com muito pouco sentido do humor!
Resta algumha pegada na Galiza do Rock Bravu? E no concelho de Chantada?
Claro ho! Hoje qualquer pode fazer rock em galego-português, com gaita, sanfona... falando de vacas ou de marés... e ninguém acha esquisito.
Também a quantidade de festivais que há no ano demonstram a grande afeiçom polo rock and roll. Entre eles o Castanhaço Rock de Chantada.
Há rock agora na vossa aldeia?
Há. Há um grupo que está nos alvores, LIBIAO DE MARRAO, que apontam maneiras já que tenhem o valor de subirem ao palco para dizerem o que pensam.
Em Chantada sodes considerados uns...
Nom estou nem aí. Com certeza nada bom.
Há uns poucos anos voltastes a ajuntar-vos na vossa aldeia, polo Castanhaço Rock, e depois destes alguns concertos e todos com grande sucesso.
Pois foi sentir um pouco de vergonha -sim, meu, ainda que nom o pareça temo-la- porque agora há muitos grupos que tocam para caralho e nós saímos aí com o nosso quatro por quatro. Enfim, umha cousa simples.
Mas foi caralhudo reviver a festa, sempre acompanhados de velhos amigos.
Qual foi o melhor concerto que lembras? E o pior?
Dos melhores o que demos com os Papaqueijos e os Herdeiros para Corneta Objeta em Lugo, ou o da Iguana em Vigo e algum outro no que o passei tam bem que nom dou lembrado nada. Também o do retorno no Castanhaço 2007
E dos piores algum nalgumha festa onde nos levaram confundidos pensando que seríamos umha banda politicamente correta e acabárom por nos cortar a luz na metade do concerto. Ao final, quando fomos reclamar os nossos emolumentos respondiam todos cheios de razom: Cobrar? Vós o que tendes é que nos pagar!
Agora exerces de veterinário, como vês a evoluçom do nosso agro nos últimos 20 anos... há futuro no nosso país?
Futuro nunca há. Há que o fazer! Há que trabalhá-lo. Deixar-se de guerras cainitas por umha quarta de terra e pô-la a produzir de jeito eficiente. Mas a tua pergunta é a óstia. Isso dá para outra entrevista.
A cada dia há menos tratores... que alternativa de protesto tem a gente do rural?
É verdade que a cada dia som menos, ou somos -que muitos vivemos do campo ainda que seja indiretamente-. Mas também é verdade que nunca estivemos o suficientemente unidos. Portanto, informaçom e uniom sempre figérom a força. Nom pode ser que haja 4 sindicatos, vários dirigidos desde partidos políticos, quando os interesses do campo som os mesmos pra todos.
Quais fôrom as bandas que mais che influírom?
O primeiro foi La Polla e Kortatu. A partir de aí os Clash, os Ramones e os Pistols. Mais tarde os Red Hot Chili Peepers, Bad Religion, Cicatriz, Toy Dolls, Nirvana, MCD, Eskorbuto, Antonio Aguilar, Antonio Machine, Os Raiados, Os Diplomáticos... e 20 grupos mais mas já fiquei cansado!
Quais as bandas galegas de que mais gostas hoje?
Dios ke te Crew, Novidades Carminha, Ruge-Ruge... e nom vou continuar porque com certeza deixo algum amigo de fora e depois fica chateado.