Foto da Comissão de Assuntos Econômicos (CC by-nc/2.0) - Kátia Abreu.
A entrevista foi concedida à jornalista Mônica Bergamo e publicada na manhã desta segunda-feira, 05, com título destacando uma afirmação da ministra que, na avaliação do MLT, é equivocada e mentirosa: ‘Não existe mais latifundiário no Brasil, diz nova ministra da agricultura’.
Além de insultar os movimentos sociais de luta pela terra com esta declaração, Kátia Abreu continuou com o show de frases absurdas durante a entrevista. Em outro momento, questionada sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215, que tramita no Congresso Nacional e se aprovada passará a responsabilidade da demarcação de terras indígenas para o Congresso, a ministra afirmou que ‘os índios saíram da floresta e passaram a descer nas áreas de produção’. Uma frase que demostra a falta de sensibilidade em relação não só a situação dos povos indígenas, mas também sobre questões de desigualdades sociais do Brasil.
Desta forma, observando tais comentários e posicionamentos, do MLT acreditam que a escolha da presidente Dilma Rousseff pelo nome de Kátia Abreu foi um erro grosseiro e de mau gosto. "Não podemos admitir que a maior representante do agronegócio do país comande um Ministério de fundamental importância para o desenvolvimento do Brasil".
O abismo social causado pela concentração de terras sobre domínio de um pequeno grupo de ruralistas é um dos principais entraves para o desenvolvimento do homem do campo. Dados do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) reforçam a existência da alta concentração de terras nas mãos de poucos. A pesquisa mais recente do Instituto, realizada em 2010, demonstra que 55% das terras do Brasil pertencem a grandes propriedades. Deste total, cerca de 40% são terras improdutivas e apenas 15,8% são responsáveis pela produção da agroindústria.
Apesar de a presidente Dilma ter firmado o compromisso de mudar esta realidade durante os quatros anos de seu primeiro mandato (2001 – 2015), observamos que muito pouco foi feito. Mesmo com um mínimo avanço na Reforma Agrária no Brasil, o MLT se revestiu de esperança com a vitória, em 2014, de Dilma Rousseff, acreditando que um salto significativo seria alcançado no seu segundo governo, a partir do dia 01 de janeiro de 2015. Porém, a partir da indicação da ruralista, os militantes do MLT se mostraram extremamente ressabiados.
Toda a decepção por parte do movimento – que há 21 anos luta para conquistar dignidade para os povos campesinos do Brasil – veio à tona a partir do pronunciamento oficial da nova ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, durante a entrevista. A pouca esperança que o MLT nutria foi totalmente aniquilado a partir das declarações da senadora.
"Acreditamos que a postura do Governo Federal em não reconhecer a realidade do latifúndio no Brasil é uma forma de estagnar a luta pela terra e, como maior gravidade, iniciar um retrocesso que pode ter como consequência a perda de direitos e benefícios conquistados pelos assentados, agricultores familiares, homens e mulheres do campo" -explicam.
Afirmam, portanto, categoricamente, à sociedade brasileira, à ministra Kátia Abreu e à presidente Dilma Rousseff que o latifúndio não acabou, ao tempo que consideram que a declaração é uma inverdade que está revestida de intenções que não condizem com a realidade da luta pela terra no Brasil e nem com a representatividade de um Governo que se diz de progressista.
Desta forma, do MLT exigem, por parte do Governo Federal, uma retratação oficial em relação às declarações da nova ministra.