Na entrevista a seguir, concedida com exclusividade ao Jornalismo B, ele fala sobre o mundo das charges e o mundo fora delas, ambos tão grandes e complexos. A entrevista foi publicada originalmente no Jornalismo B Impresso.
Jornalismo B – As charges sempre foram, pra ti, um recurso político?
Carlos Latuff – É a minha maneira pessoal de exercer meu pensamento sobre temas sociais e políticos, já que sou melhor desenhando do que escrevendo.
Qual a importância do “chargismo” na disputa política?
A charge pode servir para expor algo deliberadamente escondido por um político. Pode servir também para expressar um ponto de vista que é, também de maneira deliberada, omitido pelo mainstream media. A charge pode ser muitas coisas, inclusive inócua. Tudo depende da vontade do artista.
Como nasceu teu interesse pela causa palestina? E tua participação nas recentes rebeliões árabes?
Meu apoio à causa palestina se deu por conta de uma viagem aos territórios ocupados por Israel na Cisjordânia em 1999. O contato com os palestinos serviu também para abrir meus olhos para a realidade do mundo árabe.
Recentemente acompanhaste de perto a situação dos moradores de Pinheirinho. O que tens para relatar do que aconteceu lá?
Poucas vezes fui testemunha de um evento tão triste e tão covarde. Famílias que construíram uma vida sobre aquele terreno foram expulsas de maneira vil. Um verdadeiro complô se levantou contra aquela gente humilde: Judiciário paulistano, governador Alckmin, prefeito Cury, o especulador Nahas e empreiteiras. Fomos todos testemunhas de um crime.
A temática da recuperação da memória da Ditadura Militar tem sido recorrente nas tuas charges. Gostaria que falasses um pouco sobre a importância dessa pauta.
Num país em que sequer é possível resgatar a memória dos que combateram e foram torturados e mortos pela ditadura militar, sem ser taxado de revanchista, ações como do Levante da Juventude, e mesmo a restrita Comissão da Verdade, servem para trazer de volta a agenda do dia essa discussão.
Como vês o papel desempenhado pela mídia brasileira, de modo geral?
O papel de sempre, de instrumento de manutenção das coisas como estão.
Analisando a conjuntura mundial atual, e a situação do Brasil, em específico, devemos ficar otimistas ou pessimistas?
Devemos ser realistas e não nos deixarmos levar pelas promessas falsas de mudança. Tudo o que tenho visto são reformas, uma mãozinha de tinta aqui e ali, pra nos fazer crer de que estamos indo bem.