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080715 cazuzaBrasil - Esquerda Diário -  [Hélio] Segundo o "Caderno 2" (05/07/2015) do jornal "O Estado de São Paulo", disco com letras inéditas e livros marcam os 25 anos da morte de Cazuza, morto na manhã de 07 de Julho de 1990, em decorrência da aids.


A Sony Music irá lançar um álbum com canções inéditas de Cazuza e a Editora Globo vai relançar as edições atualizadas dos livros "Só As Mães São Felizes" (1997) e "Preciso Dizer Que Te Amo" (2001), projetos de Lucinha Araújo, mãe de Cazuza. "Só As Mães São Felizes" virou best-seller e serviu de base para outros dois projetos, o filme "Cazuza - O Tempo Não Para" (2004), dirigido por Sandra Werneck e Walter Carvalho e "Cazuza - Pro Dia Nascer Feliz, o Musical" (2013).

Muitos projetos em torno da obra e da vida do cantor. O tempo e o mercado não param. O "Estadão" não perde tempo. E preciso comemorar e lucrar. Tempo é dinheiro. Atualmente, Cazuza está presente na trilha sonora de três novelas da Rede Globo na novela "Sete Vidas", com a musica inédita "Sorte e Azar", "Babilônia", com "Um Trem Para As Estrelas" e em "Verdades Secretas", com a canção "A Vida É Um Moinho", autoria de Cartola e interpretada pelo cantor.

No último "Dia dos Namorados", a operadora Vivo em parceria com a Samsung, lançou um vídeo que transforma Cazuza em um cupido. Ao som de "Exagerado", desfere flechadas e desperta paixões. Entre os casais "flechados" estão o de um policial e uma manifestante que se beijam durante um protesto e o de duas mulheres que se encontram num show. Segundo a empresa, "o estilo de Cazuza de viver exageradamente tem tudo a ver com o posicionamento de marca da Vivo para o 4G, de que a vida passa rápido demais e que é preciso viver intensamente cada minuto"

Roberto Frejat, cantor, compositor e parceiro de Cazuza no "Barão Vermelho", diz que o cantor renovou "ao ser capaz de somar a tradição da música brasileira, a poesia beat, o tropicalismo, os anos 1970, Paulo Leminski e os grandes letristas do rock como Lou Reed, Jim Morrison e Bob Dylan...tudo isso com uma atitude catártica no palco".

Cazuza, filho do fundador-presidente da gravadora "Som Livre", apareceu no mercado fonográfico (primeiro como vocalista do "Barão Vermelho" e depois em carreira solo), como um poeta desregrado, "rebelde adorável", diz o " Caderno 2". Um poeta burguês, fã de Cartola, que aceitou e criticou sua vida burguesa. Leitor de poetas "malditos" como Arthur Rimbaud, causou polêmicas, cantou em programas de auditório e foi alçado a "porta-voz" de uma geração.

Bissexual assumido e depois vitimado por complicações decorrentes da aids, Cazuza cantou uma vida e um amor "menos careta" numa época de reação política e moral. A aids foi veiculada como "peste gay". O Papa João Paulo ll carregava a chave do cinto de castidade amarrada no pescoço e no Brasil, figuras como o pastor R.R Soares publicava livros e anúncios de "cura gay" em jornais como "O Globo".

Uma época de reação mas de muitas lutas operárias e democráticas no Brasil e no mundo. 1984-1985, mineiros ingleses, com o apoio histórico do movimento "LGSM" (Lésbicas e Gays Apoiam os Mineiros), se levantaram contra a "mão de ferro" do governo "neoliberal" de Margareth Thatcher. Aqui no Brasil, metalúrgicos, bancários e professores protagonizaram importantes greves contra o arrocho salarial e a carestia da vida num Brasil do "milagre econômico" que virou pesadelo para a classe trabalhadora e o povo pobre e negro.

Mas este espírito e perspectiva de luta, em geral, não apareceram no pop rock nacional, principalmente nos produzidos pelos grandes meios de comunicação. Exceto um trabalho ou outro, em geral, bandas como "Barão Vermelho", "Legião Urbana", "Paralamas do Sucesso", apresentaram uma rebeldia muitas vezes desiludida, apática, sufocada pela Ditadura Militar e pela censura das gravadoras e canais de televisão. "Um grito parado no ar" que "explodiu" nas rádios já costurado por pactos e concessões. Roqueiros adaptados a "década perdida". Cantaram um idílio urbano, mercadológico, hedonista e pequeno burguês.

Em 1988, Cazuza lança seu terceiro álbum, intitulado "Ideologia", vencedor do "Prêmio Sharp", inclui o "hit" "Brasil", "Um Trem Para As Estrelas" e a música-título "Ideologia", tema de abertura da novela "Vale Tudo" da Rede Globo". Em entrevista para o jornal "O Globo" (Janeiro de 1988), Cazuza reflete sobre sua geração. Segundo o cantor, "Ideologia fala da minha geração sem ideologia, compactada entre os anos 60 e os dias de hoje. Eu fui criado em plena ditadura, quando não se podia dizer isso ou aquilo, em que tudo era proibido. Uma geração muito desunida. Nos anos 60, as pessoas se uniam pela ideologia. ’Eu sou da esquerda, você é de esquerda? Então a gente é amigo’. A minha geração se uniu pela droga: ele é careta e ele é doidão".

Numa entrevista para a TV, Cazuza diz que antigamente ele era um rebelde autodestrutivo, "e agora eu tô usando minha rebeldia para ver se eu consigo, nem que seja só um milímetro, mudar alguma coisa nesse mundo. Mas eu contínuo com meu senso crítico aguçado, o artista não pode perder o senso crítico dele nunca, nunca pode achar que está tudo bem, a gente tem sempre que tentar ver o que não tá bem, remexer as coisas". O cantor crítica os governantes em "Brasil", apresenta um cenário de desilusão e busca de sentido em " Ideologia" e na canção "Um Trem Para As Estrelas", composta com Gilberto Gil, apresenta uma crônica do dia a dia da classe trabalhadora que enfrenta inúmeras dificuldades.

No "Jornal da Tarde" (04/03/88), Cazuza faz um breve "balanço" sobre sua produção artística. "Eu achava que não podia falar sobre política, por não ser uma pessoa política. Eu tinha muito preconceito em falar no plural, achava que só falava bem do meu mundinho. Isso começou a mudar quando fiz a letra de um "Trem Para As Estrelas ", com música do Gil, a partir do roteiro de Cacá Diegues. Depois conversando com mil pessoas, inclusive Gil, pensei por que não mostrar a minha visão, por mais ingênua que ela seja? Não sei quanto é a dívida externa, qual é o rombo das estatais... Não estou por dentro destas coisas, tenho uma visão romântica, mas a maioria da população deve ter uma visão ingênua, então por que não me posicionar".

Em 1989, com a saúde bastante debilitada, Cazuza grava "Burguesia", seu quinto e último álbum. Lançado pela Polygram, vendeu 250 mil cópias. O álbum duplo abre com a faixa-título "Burguesia", uma crítica as classes dominantes do Brasil e um grito de indignação.

Como poucos artistas burgueses do pop rock nacional, Cazuza assume que "veio do seio da burguesia", "Eu sou rico mas não sou mesquinho. Eu também cheiro mal. Eu também cheiro mal". Cazuza declara as classes dominantes como inimiga do povo. "A burguesia não repara na dor da vendedora de chicletes. A burguesia só olha pra si. A burguesia só olha pra si. A burguesia é a direita é a guerra". Denuncia a mediocridade e os crimes dos grandes proprietários e incita a revolta popular. "Vamos pra rua. Vamos pra rua". "Vamos acabar com a burguesia. Vamos dinamitar a burguesia".

Apesar de nunca ter abandonado a "indústria cultural" e manter algumas confusões, pois acredita na existência do "bom burguês" que trabalha honestamente, "Burguesia" mostra um Cazuza indignado com a sua própria classe social e disposto a sair do "mundinho" rico e medíocre das festas badaladas dos bairros nobres do Rio de Janeiro.


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