Publicidade
Publicidade
first
  
last
 
 
start
stop
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 (15 Votos)

lulaBrasil - Laboratório Filosófico - [Rafael Silva] Há muito eu sei que a TV serve mais para fazer boi dormir do que para informar. Por isso, na madrugada do dia quatro de março de 2016, adormeci com a televisão ligada.


Só que, na manhã do mesmo dia, fui acordado por uma notícia que sequer o meu inconsciente conseguia acreditar: “o ex-presidente lula foi coagido a depor em Curitiba”. Desperto, acreditei menos ainda nos fatos ao ver que Lula estava sendo coagido em função de uma suposta delação premiada não legitimada dada por Delcídio do Amaral, senador envolvido em escândalos que, estes sim, mereciam prisão. Entretanto, Delcídio há pouco foi liberto e liberado para voltar às suas atividades parlamentares.

Porém, a minha incredulidade máxima com o espetáculo midiático em torno da indevida coação contra Lula. Sem dúvida, suspeitas sobre quem quer que seja devem ser investigadas e divulgadas pela imprensa, pois disso dependem a democracia e a justiça. Agora, não podemos nos alienar do fato de que a atuação da mídia era um espetáculo à parte, muito particular aliás. Sem medo de errar posso dizer que, para a mídia, tanto fazia a verdade, mas somente a sua própria ficção. O show golpista da Rede Globo em momento nenhum se preocupou em investigar se estava havendo injustiça por parte da justiça brasileira. Isso sim seria uma pauta com dignidade inquestionável. “Mas não”, disse Lula em resposta, “hoje, quem condena as pessoas são as manchetes. Hoje, amedrontam o poder judiciário. Hoje, amedrontam o ministério público. Hoje, amedrontam os políticos com essa pirotecnia midiática”.

Por isso, no dia 4, a minha televisão ficou ligada o tempo inteiro, e justamente na Rede Globo, o canal inimigo, pois mais importante que o teor do depoimento coagido de Lula, era não deixar de conhecer um pouco melhor, e ao vivo, o modus operandi do poder golpista. Há quem diga, todavia: “desligue a TV que a crise acaba”. Eu, porém, creio que, estrategicamente, a maior burrice é se privar da oportunidade de ouvir e de conhecer as táticas do inimigo. Apenas se fortalece o opositor enquanto se presta atenção somente no próprio umbigo. A ciência sobre o umbigo do inimigo é a outra metade do caminho em direção à vitória. Por isso, ainda que ideologicamente insuportável, eu taticamente suportei a Rede Globo e a sua bélica e poderosa pirotecnia golpista.

Minha incredulidade e angústia com o estado de exceção aventurado no Brasil nesse início de março de 2016 eram tamanhas que me senti como se estivesse diante dos fatídicos ataques às torres gêmeas de onze de setembro de 2001. Algo que certamente mudaria o mundo no qual vivo. Só que, para mim, os aviões kamikazes eram pilotados pela rege Globo e o seu rol de revistas dedicadas à oligarquia brasileira, e as torres que precisaram ser derrubadas eram o próprio Lula. A feliz diferença do terrorismo político que fez seu grande dia da terra tupiniquim foi que, aqui, as torres gêmeas puderam se manifestar depois do ataque. No final do dia, o ex-presidente deu um discurso vigoroso aos seus companheiros, à mídia toda, e também aos brasileiros, para deixar bem claro quem são os terroristas, quais são suas táticas, e não menos suas sórdidas ambições.

Sobre a coação assaz antidemocrática que Sérgio Mouro, juiz federal que comanda o julgamento dos crimes da Operação Lava Jato, imputou-lhe, o ex-presidente metalúrgico disse: “antes dele nós já éramos democratas. Antes dele, nós já fazíamos as coisas corretas nesse país. Porque enquanto muitos deles não estavam fazendo nada, nós já estávamos lutando para que nesse país se conquistasse o direito de liberdade de expressão”. Mais adiante, Lula colocou que, “enquanto nenhum destes que foram na minha casa trabalhavam, com onze anos a Marisa (sua esposa) já era empregada doméstica. E eu acho que ela merecia respeito”. E mais: “não há nenhuma explicação para eles terem ido atrás dos meus filhos além do fato de eles serem meus filhos”.

“Mas não”, segue o ex-presidente indignado, “antes mesmo de os advogados saberem que seus clientes serão chamados para depor, a imprensa já sabe”. Por quê? Ora, porque, nas palavras do próprio Lula, “é preciso incriminar o PT, é preciso incriminar o Lula, porque estes caras podem querer continuar no governo. Pois não há outra coisa para incomodá-los a não ser a gente ter trabalhado durante todos esses anos para fazer com que as pessoas do andar de baixo subissem um degrau na perspectiva de chegar no andar de cima”.

Sua indignação disse mais e melhor: “há tempos eu sei que a elite brasileira é muito conservadora. Ela tem complexo de vira-lata e não vai permitir que vocês cresçam. Mas nós crescemos. Chegamos à presidência. E nós provamos que os pobres, que eram a desculpa deles para não fazerem nada nesse país, não são o problema, mas que os pobres viraram a solução desse país”. Prossegue dizendo que os das elites “partem do pressuposto que pobre nasceu para comer em coxo. Mas eu aprendi que não”.

Só que, confessa Lula, “eu me senti prisioneiro hoje de manhã. Prisioneiro”. Uma das perguntas que Lula disse ter tido de responder no dia em que “esteve preso” foi sobre os presentes que recebeu ao longo de seus dois mandatos presidenciais estocados no midiatizadíssimo sítio de Atibaia, em São Paulo, que a imprensa diz ser dele, coisa que documento algum há para provar. O maior líder político brasileiro depois de Getúlio Vargas não conseguia crer que a polícia federal e a mídia estivessem “se preocupando porque eu usei a chácara de um amigo”. Porém, como o grande líder é aquele que não perde a espirituosidade nem nas piores situações, foi capaz de fazer troça contra seus inimigos: “eu usei de um amigo porque os inimigos não me oferecem. Bem que a Globo podia me emprestar o tríplex de Parati”, alfineta Lula com um sorriso que se repetiu em todos, tanto nos seus companheiros presentes na sede nacional do partido dos trabalhadores, quanto nos cidadãos que o assistiam pela tv ou internet .

Sobre a coação para esclarecer a origem dos presentes guardados em Atibaia, Lula não teve papas na língua para dizer que “se juntar todos os presidentes desse país desde Floriano Peixoto, eu fui o que mais ganhei presentes. Porque viajei mais, porque trabalhei mais”. O ex-presidente explode contra os ataques seletivos e explosivos que recebe: “isso é puro preconceito, isto é, todo mundo pode, menos essa merda de metalúrgicoque um dia resolveu desafiar esses capitães”.

Sobre o vil tratamento que está recebendo, que não é diferente do que o que sempre recebeu dos capitães, Lula disse corajosíssimo: “eles precisam aprender que eu aprendi a andar de cabeça erguida nesse país. Eu aprendi acordando às três horas da manhã para fazer assembleia em porta de fábrica. Eu aprendi fazendo comício em ponto de ônibus. E quero dizer que eu não vou abaixar a cabeça.

Emendando sua fala ás suspeitas sobre seus ganhos com palestras ao redor do mundo, o ex-presidente disse mais altivamente do que nunca: “eu virei um conferencista importante ... As pessoas queriam que o Lula falasse das coisas que foram feitas no Brasil. Que milagre vocês fizeram para aprovar as cotas? Que milagre vocês fizeram para aprovar o PROUNI? Que milagre vocês fizeram para levar energia à quinze milhões de pobres nesse país?. Era isso que as pessoas queriam saber”. Eleva-se mais ainda: “e por isso eu me transformei no conferencista mais caro do mundo junto com o Bill Clinton. Aliás, ele foi meu paradigma. Quem é que cobra mais, é o Clinton? Então vai ser igual ao Clinton. Paga quem quiser, contrata quem quiser. Eu não tenho complexo de vira-lata. Eu sei o que eu fiz nesse país”, arremata.

Abrindo seu coração aos companheiros petistas, ele disse com muito orgulho: “antes dos cinco anos de vida eu escapei de morrer de fome (no serão nordestino, é preciso frisar). Esse foi o primeiro milagre da minha vida. O segundo milagre: eu tive um diploma de torneiro mecânico (o que para a elite pouco deve valer). Aconteceu um terceiro milagre comigo: eu ter tomado consciência política e ter criado um partido (de trabalhadores, contrário aos interesses elitistas). Aconteceu um quarto milagre comigo: meus companheiros me levaram à presidência da república (o que para a elite obviamente sequer poderia ter se dado). Aconteceu um quinto milagre comigo: eu fui melhor do que todos eles que governaram esse país (Samba Lula na cara de seus opositores elitistas)”.

Por isso, segue o “metalúrgico de merda”, “o que aconteceu hoje era o que precisava para o PT levantar a cabeça”. Humilde, disposto ao trabalho e atento à realidade como poucos, Lula declara: “não sei se serei candidato em 2018, não sei. A natureza às vezes é implacável com a gente que ultrapassa os 70. Mas essas coisas que eu faço aumentam a minha tesão de participar das coisas nesse país. Eu percebi agora que nem tudo está acabado como eu pensei que estava... É preciso recomeçar. E portanto nós vamos recomeçar de novo ... O que eles fizeram com o ato de hoje foi fazer que, a partir da semana que vem, me convidem que eu estarei disposto a andar esse país”.

Acredito que frase mui banalizada e desacreditada depois das manifestações de junho de 2013, qual seja, “o gigante acordou”, ainda encontra concretude e invulgaridade justamente em Lula. Por isso ele pôde dizer do topo de suas grandes realizações ao longo de sua governança: “eu quero que vocês saibam que o que me aconteceu hoje, embora tenha me ofendido, embora tenha magoado a minha história (e bate no próprio peito), eu quero dizer: se quiseram matar a jararaca, não bateram na cabeça. Bateram no rabo. E a jararaca tá viva como sempre esteve”.

Portanto, não é nem o caso de o gigante ter acordado, pois um verdadeiro gigante nunca dorme! Além do que, gigante é aquele que sabe usar as balas dos inimigos contra eles mesmos. O gigantismo desse “metalúrgico de merda” não surpreenderá se ele usar a tábua de suicídio midiática, colocada na proa golpista da nau brasilis, como trampolim para se catapultar ainda mais alto e com muito mais força contra a histórica força oligárquica que sempre esteve contra ele e que não suporta ter de competir democraticamente pela berlinda política, muito menos com metalúrgicos. Só que Lula fez questão de relembrar que o “metalúrgico de merda” é uma jararaca, e que está mais vivo e com muito mais “tesão” do que nunca.


Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Microdoaçom de 3 euro:

Doaçom de valor livre:

Última hora

first
  
last
 
 
start
stop

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: info [arroba] diarioliberdade.org | Telf: (+34) 717714759

Desenhado por Eledian Technology

Aviso

Bem-vind@ ao Diário Liberdade!

Para poder votar os comentários, é necessário ter registro próprio no Diário Liberdade ou logar-se.

Clique em uma das opções abaixo.