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210615 dtaBrasil - Diário Liberdade - [Roberto Bitencourt da Silva] Muito já se escreveu e foi veiculado pelo jornalismo alternativo e pelos conglomerados de mídia, a respeito da hostil visita de senadores brasileiros conservadores à Venezuela.


O webjornalismo, sintonizado com a produção de uma informação contra-hegemônica, problematizou, com especial pertinência, as alegações dos senadores sobre pseudo “agressões” recebidas de manifestantes chavistas no país co-irmão.

Os meios massivos e comerciais de comunicação, por seu turno, espetacularizaram e reforçaram as pretensas denúncias dos senadores, legitimando balbucios de esdrúxulas alegações, que tendem a reiterar imagens muito negativas da Venezuela e, em particular, da experiência da esquerda chavista, na opinião pública do nosso país.

Os perfis de alguns integrantes da comitiva são por demais conhecidos, de modo que se faz desnecessário mencioná-los. Basta recordar que os senadores pertencem a partidos políticos (PSDB/PPS/DEM) que governam dois estados, São Paulo e Paraná, em que o uso da violência é notório contra os trabalhadores, com especial furor sobre os professores, nos últimos meses.

Outro senador é membro do PMDB: legenda que governa o estado e o município do Rio de Janeiro, também caso célebre de violação de direitos humanos. Adepto de agressões e prisões contra manifestantes e professores nas ruas, bem como da prática de remoção de casas pertencentes a setores populares, com vistas a saciar a gula da especulação imobiliária. Assassinatos de inocentes fazem parte do cotidiano das favelas, por conta de uma política de segurança que criminaliza a pobreza.

Assim, se realmente estivessem preocupados com violação de direitos humanos, poderiam perfeitamente acompanhar o que ocorre em seus próprios “quintais”. Mas, não. Sem absolutamente nada de construtivo para oferecer ao próprio País e ao Povo Brasileiro, preferem ir à Venezuela, visando aparecer no noticiário e reforçar a agenda reacionária da grande mídia, criando hostilidades e desrespeitando a soberania nacional venezuelana.

Nesse sentido, a subscrição de parlamentares das esquerdas institucionais (PT, PDT, PC do B, PSOL) a uma moção de repúdio “contra agressões sofridas na Venezuela” foi, para dizer o mínimo, uma baita bola fora. A despeito de uma ponderação ou outra, de maneira açodada foi produzida e aprovada tal moção na Câmara dos Deputados, que se baseou exclusivamente nos relatos da comitiva de senadores. O governo Dilma Rousseff (PT) não deixou por menos, caminhando na mesma esteira.

No Senado, proposição de igual natureza feita por Ana Amélia (PP/RS) deparou-se com menor consenso, de modo que a casa legislativa não produziu documento comum. Contudo, senadores de partidos também de esquerda, como Lasier Martins (PDT/RS) e Randolfe Rodrigues (PSOL/AP), apoiaram críticas às alegadas “hostilidades” contra a comitiva.

Há séculos, Aristóteles argumentava que a retórica possui força persuasiva e capacidade de atenção do público, na exata medida em que a imagem dos oradores possui credibilidade, fruto da dedicação desinteressada aos negócios da coletividade. Com efeito, aos integrantes da comitiva na Venezuela se pode atribuir tal imagem e dedicação? A resposta é um rotundo não, ao menos, é o que se pode supor, a partir de um público e de pares no Legislativo situados à esquerda.

O apoio irrefletido e covarde das esquerdas institucionais, aos apelos reacionários contra o governo venezuelano, pode ter algumas razões, não excludentes:

· Receio de confrontar a agenda jornalística e o enquadramento narrativo dos veículos massivos de comunicação. Essa hipótese tenderia a refletir um esvaziamento do papel politicamente pedagógico dos representantes e dos partidos de esquerda, incapazes de produzir e defender esquemas próprios de percepção sobre o mundo.

· Sentimento de casta parlamentar, assentado em um corporativismo, que poderia revelar um distanciamento expressivo em relação aos setores da sociedade civil, que dizem representar.

· Esquerdas nascidas no processo de redemocratização, ou absorvidas pelo paradigma da transição pactuada e consensual, que tomam a atuação restrita à institucionalidade e a social-democracia europeia, já diluída na cosmovisão neoliberal, como referências.

Adicionalmente, um aspecto marcante nas esquerdas brasileiras que possuem assento parlamentar é a mobilização da temática dos direitos sociais. Na reflexão e atuação em torno da questão social, do tema das desigualdades sociais, na melhor das hipóteses, laivos de caridade católica tendem a nortear a atuação política.

Todavia, a questão nacional, assunto que guarda relação direta com as vicissitudes da inserção do país na divisão internacional do trabalho e com as relações na cena mundial, consiste em item ausente no imaginário das esquerdas em destaque.

A hesitação, a debilidade e a inconsistência na defesa de um país cujo governo norteia-se pelo anti-imperialismo e pela pregação em torno de novas e menos assimétricas relações entre as nações, por extensão, são extremamente compreensíveis nesse quadro. O que denota a distância das esquerdas contemporâneas em relação às esquerdas anteriores ao golpe de 1964, que tomavam a questão nacional, ao lado da temática social e distributiva, como fonte de preocupação e inciativas políticas. A ditadura, forçoso é reconhecer, foi muito eficiente em seu “trabalho” destrutivo.

Mirando o passado, é possível imaginar o então deputado federal Leonel Brizola (PTB) assinando moção contra Cuba, a pedido da conservadora UDN? O ex-senador e capitão do Exército Luis Carlos Prestes (PCB) se pronunciando a favor de choradeira reacionária de líder latifundiário? Ou o deputado federal Francisco Julião (PSB) apoiando pedido de playboy conservador, que nunca trabalhou? Convenhamos, impensável.

Bobagem e covardia flagrantemente desnudadas, o mínimo que se pode esperar das esquerdas institucionais é o exercício de uma profunda reflexão sobre os seus papeis políticos. Esforços de retificação da vergonhosa capitulação à agenda midiática, aos partidos e parlamentares reacionários, também não seriam nada mal.

Roberto Bitencourt da Silva – doutor em História (UFF), professor da FAETERJ-Rio/FAETEC e da SME-Rio.


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