No que tange às referidas manifestações, aquela é a única mensagem ou ideia com a qual tendo a concordar com a turma reacionária, vestida com o verde-amarelo "by CBF". Uma turma teleguiada, sobretudo, pelas Organizações Globo.
Do ponto de vista histórico, remotamente, Brasil e Venezuela guardam em comum a experiência de um passado colonizado, escravista e oligárquico, que ainda hoje possui força de incidência sobre as suas respectivas estruturas sociais.
Contemporaneamente, ambos os países, na condição de periferia capitalista, apresentam uma inserção econômica e tecnologicamente dependente no "sistema-mundo" (como chama Immanuel Wallerstein ao capitalismo mundial, hierárquico e desigualmente espoliativo).
Entretanto, em relação às vivências políticas dos últimos anos, nos respectivos países, é difícil discordar da mensagem veiculada pela faixa dos manifestantes reacionários. Realmente, o Brasil não é a Venezuela, porque se fosse:
1. Já teria implementado a reforma agrária.
2. Já teria investido mais de 20% do orçamento do governo federal em educação pública (a).
3. Já teria reestatizado empresas estratégicas, que permitem ao país exercer alguma soberania efetiva sobre o seu destino.
4. Já teria incrementado mecanismos constitucionais de participação popular direta nos rumos dos governos e maior controle público sobre as ações dos governantes e partidos, como o instituto do "recall".
5. Já teria implementado o marco regulatório das comunicações e a Globo, senão perdesse a concessão de radiodifusão, teria decisivamente reduzido o seu poder de influência semimonopólica, simbólica, política e socialmente perniciosa.
6. Em vez de um governo, dito de esquerda, subserviente ao capital e que se submete docilmente às forças sociais e políticas mais reacionárias, teríamos um governo anti-imperialista e popular, que não tergiversa com os guardiões de uma ordem social, econômica e internacional anacrônica.
Noves fora as diferenças em destaque, o único traço de semelhança entre o Brasil, de hoje, e a Venezuela bolivariana é a existência de uma empedernida direita reacionária. Por ora, nas ruas brasileiras, especialmente paulistanas, essa direita abraça a polícia, tira suas "selfies", é incentivada, entre outros, pelo telejornalismo da Globo e da Band e rumina inúmeras barbaridades antidemocráticas. No mais, por razões radicalmente distintas, concordo com a faixa: "Aqui não é a Venezuela". Seguramente, nada a ver.
(a) Consultar: http://www.vermelho.org.br/noticia/244336-7 ; http://www.ebc.com.br/educacao/2015/04/paises-precisam-aumentar-investimento-em-educacao-diz-unesco ; http://www.brasil.gov.br/governo/2015/03/orcamento-de-2015-e-aprovado-pelo-congresso .
Roberto Bitencourt da Silva – doutor em História (UFF), professor da FAETERJ-Rio/FAETEC e da SME-Rio.