O oligopólio da mídia revela um afã em desestabilizar o governo Dilma (PT), visando acentuar a lógica e as práticas neoliberais e, em decorrência, defender os interesses privatistas do grande capital no país. Com isso, o oligopólio tem explorado uma retórica demasiadamente negativa sobre a Petrobras, operando com enquadramentos noticiosos que visam manipular a opinião pública a favor da privatização integral da estatal do petróleo. Nesse sentido, é muito importante a realização de iniciativas em defesa dos recursos minerais e energéticos brasileiros, bem como da empresa.
Passando os olhos no noticiário dos meios comerciais e massivos de comunicação, o ato teve como ângulo privilegiado a ocorrência de uma confusão na entrada da ABI, entre petistas e adeptos da cantilena do impeachment da presidente. Seguramente, uma abordagem que silencia as causas dos trabalhadores que promoveram o ato.
Portanto, sem desconsiderar as investidas antinacionais do oligopólio midiático contra a Petrobras, vale destacar algumas questões assinaladas por Lula, em seu discurso feito na ABI. Particularmente interessantes por denotar flagrantes contradições e fragilidades. O ex-presidente explorou uma retórica que apelava à mobilização nas ruas, que tecia ácidas críticas à imprensa, assim como exaltava a "capitalização da Petrobras" em seus governos.
Com efeito, apelar à mobilização popular demanda um mínimo de coerência com atitudes passadas. Desde que assumiu em 2003, Lula e a sua sucessora sempre abdicaram da participação popular nos rumos decisórios do país e do governo. Apostaram naquilo que Rosa Luxemburgo chamava de cretinismo parlamentar. Hoje, grossa parte dos cretinos já não dão tanta bola para Lula, o PT e o governo.
Durante as manifestações de junho de 2013 e as que se seguiram até a Copa do Mundo, no ano seguinte, o governo federal e o PT recorrentemente apresentaram uma postura hesitante, não raro comungando o discurso midiático contra os pretensos "vândalos". O Ministério da Defesa, inclusive, chegou a tratar a cidadania mobilizada nas ruas como "forças oponentes".
No Rio de Janeiro, as greves dos professores da rede municipal, em 2013 e 2014, conviveram com agressões, desqualificações e perseguições aos profissionais de educação, promovidas pelos diletos aliados do PMDB, em especial o prefeito Eduardo Paes. Uma prefeitura que ainda conta(va) com Adilson Pires (PT), na cadeira de vice-prefeito.
Dessa forma, qual o posicionamento contumaz do PT e do governo federal em relação aos trabalhadores e à cidadania, em geral, mobilizada nas ruas? Silêncio, receio e crítica impera(ra)m. Cumpre ainda observar que as palavras de Lula denotam uma concepção altamente hierarquizada a respeito da cidadania. Detém um viés conservador, pois a cidadania tende a ser concebida como conjunto de atores sociais sujeitos aos interesses e aos imperativos do partido e do governo.
Mobilização? A "gente liga e desliga da tomada", é o que dão a entender as palavras do ex-presidente. Sem envolvimento com as experiências e as vicissitudes do cotidiano das classes trabalhadoras, populares e médias, a relação entre o líder, o partido e o governo junto a parcelas da sociedade, acaba denotando uma mera concepção instrumental do dispositivo democrático participativo e mobilizatório. Precisamente esse matiz conservador e oportunista foi o que apresentou o ex-presidente Lula no discurso da ABI.
Ademais, quanto às críticas tecidas à mídia, importa recordar que Lula e Dilma não tomaram qualquer providência para regulamentar os meios de comunicação e democratizar o direito à voz no país. Ainda hoje, por meio da publicidade oficial, enchem o caixa do oligopólio. Qual o sentido de críticas destituídas de ações mudancistas? Conversa para boi dormir.
No tocante à "capitalização da Petrobras", em seus dois governos, Lula não poderia, igualmente, ser tão infeliz. Tal "capitalização", em outras palavras, correspondeu a uma intensificação da venda de papeis acionários da empresa na bolsa de Nova Iorque. Acrescente-se a entrega de boa parte da exploração das áreas do pré-sal para o capital estrangeiro. É para se orgulhar com a preservação de uma mentalidade e de medidas que correspondem ao entreguismo e ao privatismo, que tanto marcam o hostil adversário tucano?
Noves fora o entreguismo do oligopólio da mídia e a cantilena demagógica e oportunista de Lula, sobre a Petrobras só dá para respeitar a história da empresa – um verdadeiro patrimônio tecnológico, econômico e simbólico do país –, bem como aos seus trabalhadores. Estes, por meio de seus representantes, têm veiculado a "estatização integral" como resposta às mazelas que afetam a empresa.
Argumentam a favor, também, de um maior controle e envolvimento direto dos trabalhadores na gestão, em particular, por meio de uma presidência ocupada por técnicos de carreira da empresa. Precisamente bandeiras socializantes e nacionalistas que se chocam com a retórica midiática e a prática lulista.
Roberto Bitencourt da Silva – doutor em História (UFF), professor da FAETERJ-Rio/FAETEC e da SME-Rio.