Em algumas capitais, principalmente Belo Horizonte, houve queda oficial nos preços dos imóveis, o que colocou em pauta a discussão da bolha financeira que o governo e a imprensa burguesa tentam negar a qualquer custo. Foto: M. Santos (CC BY-NC 2.0)
Embora as operações especulativas não tenham adquirido o volume dos países desenvolvidos, trata-se de um jogo de peixes grandes e com grande potencial de provocar quebradeiras generalizadas.
A construção civil emprega mais de quatro milhões de trabalhadores no Brasil. Uma forte freada levaria ao aumento do desemprego e ao consequente aumento da instabilidade social. A perda do poder de compra e a deterioração da economia provoca o aumento da inadimplência, o que tem o potencial de provocar enormes rombos e quebradeiras no setor financeiro. Por esse motivo, o governo se esforça para não deixar o mercado colapsar.
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As ações das construtoras e incorporadoras se encontram na linha de frente da especulação financeira, que são mantidas artificialmente altas, se valendo da enxurrada de recursos públicos subsidiados transferidos para o setor pelo governo.
No Brasil ainda não são realizadas operações em larga escala com derivativos financeiros, como acontece nos países desenvolvidos, mas poderá tornar-se o próximo passo devido à queda dos lucros no setor. Os derivativos funcionam em cima de cestas de títulos de diversas origens e graus de podridão, em torno dos quais está estruturado um mercado de apostas e contra-apostas com um gigantesco arsenal de outros “instrumentos” financeiros que, como resultado final, geram altas taxas de lucro para um punhado de abusados especuladores. O sistema funciona de maneira muito parecida com um casino, ou com o jogo Banco Imobiliário, e sempre conduz a perdas que devem ser cobertas com recursos públicos.
Um ponto de destaque importante é que o eminente estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos, e na Europa, foi negado até o mesmo dia da quebra do banco Lehman Brothers e da maior asseguradora do mundo, a AIG, em 2008. Após o colapso imobiliário nos Estados Unidos e na Europa, um volume importante de capitais especulativos migrou para os países atrasados.
Outros dois sintomas do avanço da bolha imobiliária são o aumento dos estoques e do número de imóveis que têm sido colocados para alugar devido à dificuldade para conseguir compradores.
Sobre a “bonança” do mercado imobiliário
Várias evidências mostram, de maneira cada vez mais clara, o crescimento da bolha imobiliária. As principais empresas do setor imobiliário têm enfrentado crescentes problemas de caixa devido à dificuldade para desovar estoques, ao estancamento dos preços e à fuga de capitais especulativos. Esse tem sido o caso da PDG, da Brookfield, da Gafisa e da Rossi.
“A revisão de práticas contábeis” para “o aprimoramento das demonstrações financeiras”, inclusive com efeitos retroativos, têm se tornado a norma.
As notas creditícias, outorgadas pelas agências qualificadoras de riscos, de todas as incorporadoras e construtoras têm sido degradadas.
De acordo com o Índice FipeZap de Preços de Imóveis Anunciados, que é o principal termômetro usado no mercado imobiliário para medir a evolução do setor, os preços dos imóveis à venda teriam aumentado, no Brasil, em 0,9% no mês. Mas o índice utiliza como base de cálculo os preços dos imóveis anunciados e, portanto, o preço cheio, sem considerar os descontos e promoções, e subestimando a verdadeira dimensão da desaceleração do mercado imobiliário. Em algumas capitais, principalmente em Belo Horizonte, houve queda (oficial) nos preços, o que colocou em pauta a discussão da bolha financeira que o governo e a imprensa burguesa tentam negar a qualquer custo.
Outro mecanismo largamente usado pelas construtoras é deixar os preços sempre mais altos e viabilizar as vendas com desconto ou em feirões e promoções.
A alta dos preços dos imóveis desde 2007 até o presente momento supera os 150% nas principais capitais, enquanto a inflação (oficial) no período foi de 30%, o que colocou forte pressão sobre o poder de compra da população.
O setor da construção civil tem sofrido sucessivas contrações de acordo com o índice da Sondagem da Construção, elaborado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), e o ICCC (Índice de Confiança da Construção Civil), medido pela FGV.