Foto: contra o "comunismo" petista, manifestantes pedem interveção militar.
Os dados são de uma pesquisa coordenada pelo professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da USP, Pablo Ortellado, e pela professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Esther Solano, que ouviu 541 pessoas.
A pesquisa identificou que 47,3% dos entrevistados "confiam muito" em informações obtidas pelo Facebook. Outros 26,6% têm a mesma percepção de informações repassadas pelo aplicativo de celular Whatsapp. Dos participantes do ato, 77,4% eram brancos, 68,5%, tinham ensino superior completo e 72,8% tinham renda superior a R$ 3.940 mensais, sendo que 48% ganham acima de R$ 7.780 por mês.
O professor se disse surpreso com a crença nas informações do aplicativo de celular, que é relativamente recente. "Nas redes entra tudo. Uma boa parte do conteúdo compartilhado no Facebook é de matérias da imprensa convencional. Mas existe uma grande quantidade de informações sem verificação. E isso permite a difusão de boatos", avaliou.
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Os pesquisadores misturaram informações opinativas com boatos que têm destaque nas redes. Assim a estória de Lulinha teve aceitação equivalente à afirmação de que "os desvios da Petrobras são o maior caso de corrupção da história do Brasil", com 85% de concordância entre os manifestantes. Além desta, as afirmações "o PCC é um braço armado do PT" e "o PT trouxe 50 mil haitianos para votar na Dilma nas últimas eleições" foram aceitas como verdadeiras por 53,2% e 42,6%, respectivamente.
Coerentes com posições conservadoras, 70,9% dos manifestantes avaliam que "cotas raciais geram mais racismo" e 60,4% acreditam que o programa Bolsa Família "financia preguiçosos". E demonstrando crença de que a guerra fria não acabou, 64,1% concordam que o PT quer implementar uma ditadura comunista no Brasil.
Para o professor, essa aceitação dos boatos e a rejeição a essas políticas está ligada também a "ascensão de comentaristas políticos que são conservadores e polemistas". E que fazem parte da formação de opinião da maior parte dos manifestantes de domingo.
Pouco mais da metade dos manifestantes (51,8%) declarou "confiar muito" na revista Veja. E 39,6% têm um de seus colunistas como principal formador de opinião. Outros 49,4% têm a mesma perspectiva da apresentadora Raquel Sherazade, conhecida por considerar compreensível que justiceiros amarrassem, em um poste, um jovem negro acusado sem provas de ter cometido um roubo. No entanto, 37,1% disseram "não confiar" no principal jornalístico da TV Globo, o Jornal Nacional e outros 22,6% na Globo News, canal exclusivo de notícias da emissora.
Para Ortellado, também é relevante a descrença no sistema político percebida entre os manifestantes. "Os resultados são muito eloquentes. "Mesmo o PSDB só tem 11% de confiança. Então, a descrença não está somente no PT, mas em todo o sistema político, compreendido de forma ampla: partidos, imprensa, movimentos, ONGs", avaliou.
Além da já esperada rejeição ao PT (96%) e à presidenta Dilma (96,7%), houve ampla rejeição aos partidos em geral. O PSDB foi considerado "pouco confiável" por 41,4% dos entrevistados e "não confiável" por 47,6%. Outros 61,1% têm a mesma percepção da Rede Sustentabilidade, partido da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, e 81,8% não confiam no PMDB, partido dos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, além do vice-presidente da República, Michel Temer. Cunha, especificamente, foi considerado confiável por 3,2%.
Dentre os políticos, foi mais clara a simpatia com tucanos e conservadores. Quase um terço dos manifestantes (29,1%) declararam "confiar muito" no governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). Outros 22,6% têm a mesma percepção do candidato tucano derrotado na última eleição presidencial, Aécio Neves. O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) foi considerado confiável 19,4% dos manifestantes.
De outro lado, a candidata a presidência da República em 2014 pelo Psol, Luciana Genro, é considerada confiável por somente 4% dos entrevistados. O deputado federal Jean Willys, do mesmo partido, têm 3,9% de confiança. O prefeito da capital paulista, Fernando Haddad (PT), tem a mesma consideração de apenas 2,1% dos manifestantes. E o ex-presidente Lula, 1,4%.