Mais de 3 mil pessoas participárom na jantarada musical e de exaltaçom do chefe provincial da direita ourensana, Xosé Luís Baltar, amo e senhor indiscutido dessa Deputaçom durante os últimos 25 anos, até ceder o posto ao seu filho, José Manuel Baltar.
Com 71 anos, é tido por um dos últimos representantes do PP mais regionalista e tolerante com a identidade galega, mas também, e sobretodo, representa o paradigma do nepotismo e a corrupçom institucionalizada, com um forte aparelho burocrático e político ao seu serviço a nível provincial. De facto, na Deputaçom que dirige quase metade dos empregos públicos som propriedade de dirigentes e cargos públicos do PP, sendo os restantes maioritariamente militantes de base dessa mesma força política, incluindo famílias inteiras de integrantes do Partido Popular.
Para a história da impunidade fica a pergunta atribuída ao próprio Baltar, quando chegou a justificar a repartiçom massiva de postos de trabalho públicos entre parentes do PP ourensano: "Que culpa temos nós de que os nossos filhos tenham umha melhor formaçom, sejam mais espertos e estudem mais que os filhos doutros?"
Poder Popular em Expo Ourense
O ato de homenagem em Ourense foi umha encenaçom do poder do Partido Popular, principal organizaçom de massas da província, dirigida já pola "dinastia" dos Baltar, após a transmissom do cargo por parte de Xosé Luís Baltar ao seu filho, José Manuel Baltar. O evento foi conduzido polo televisivo Xosé Manuel Pinheiro, "Super Pinheiro", alaricano agradecido polas cunhas com que o próprio PP ourensano o incorporou de maneira vitalícia aos meios públicos galegos: "Estou aqui porque me peta e porque te quero", declarou.
Mais de três milhares de pessoas convidadas partilhárom mesa no recinto de Expo Ourense, num evento gastronómico-musical protagonizado polo chefe provincial do PP.
Vídeos e fotos do homenageado alternárom com a leitura de adesons de representantes das "forças vivas" ourensanas, como o presidente dos empresários, Francisco Rodríguez, ou o próprio Núñez Feijó, presidente da Junta e máximo dirigente do PP na Galiza, que mostrou agradecimento e dirigiu-se a Baltar com um "ajudaste-me a ser presidente da Junta". Numerosos cargos públicos do PP e mesmo algum do PSOE, o ex-banqueiro Mario Conde, o padre Benigno Moure, que ficou conhecido pola condena imposta por ter roubado a umha mulher idosa. Também chegou a adesom do presidente espanhol, Mariano Rajoi.
Dous poetas "revolucionários" aderem ao Poder Popular ourensano "a título pessoal"
Provavelmente nesse recinto se juntou ontem o maior número de casos de corrupçom institucional por metro quadrado da história ourensana (e nom só) mas, impossibilitados de conhecer e explicar todas, conformamo-nos com salientar duas presenças, por sinal representativas de certa inteletualidade "antissistema" e cheia de "galons" por umha vida de compromissos... contraditórios.
Referimo-nos a dous poetas com passado glorioso nas filas da revoluçom nacional-popular, autoafirmados como "comunistas" e, num dos casos, ainda militante da independentista FPG.
O primeiro deles, Luís Gonçales Tosar, presume em simultáneo de ter sido camarada de militáncia de Henrique Líster no PCOE e de participar como cargo político de livre designaçom num governo de Manuel Fraga. Este inteletual "comprometido" marcou presença em Ourense para participar "a título pessoal" na homenagem ao seu amigo Baltar. Nom era preciso que explicasse o do "título pessoal", porque ninguém pensaria que estava ali representando o PCOE, cuja militáncia abandonou décadas atrás.
O segundo, de maior peso na história literária galega, foi o presidente da Real Academia Galega (RAG), Xosé Luís Mendes Ferrim, que enviou umha adesom também "a título pessoal", o que deveremos interpretar como livre de compromissos para a RAG e para a FPG. O motivo terá sido mostrar o agradecimento polo apoio económico da instituiçom presidida por Baltar à 'Casa dos Poetas' de Cela Nova. Todo um reconhecimento ao papel essencial, pessoal e intransmissível do presidente de umha Deputaçom que, supostamente, deveria atribuir as ajudas com critérios objetivos e de benefício social.
Tendo em conta as contínuas mostras de amizade e gratidom de Ferrim às forças vivas da grande burguesia galega (ainda lembramos o prémio que lhe foi atribuído polo dono de La Voz de Galicia), assim como as recentes acusaçons de dar trabalho a familiares na própria RAG, admira a capacidade deste escritor e inteletual para manter a sua áurea de enfant terrible, ícone antissistema com reconhecimento simultáneo da grande burguesia e dos seus camaradas de militáncia política.
[Acréscimo às 22:00 de 24.06.12. Informaçons de um leitor do DL confirmam-nos mais um ilustre representante do "galeguismo de esquerda" aderindo à festa de Baltar ontem em Ourense. Foi Xesús Alonso Montero (militante 'comunista' de IU) que, tal como Ferrim, enviou um escrito de adesom, no seu caso agradecendo mais um favor do patriarca ourensano: ter aceitado custodiar o seu valioso arquivo histórico. Agradecemos a colaboraçom dos nossos leitores e das nossas leitoras para melhorarmos as informaçons oferecidas polo nosso portal.]
Protestos no exterior contra a corrupçom e o nepotismo
Para dizer todo o que sabemos, deveremos acrescentar que no exterior do recinto houvo concentraçom de protesto de coletivos sociais ourensanos, nomeadamente vítimas dos enganos bancários das chamadas preferentes e do movimento 15M.
Na concentraçom, leu-se um manifesto lembrando que a homenagem é "do seu partido e da sua familia, a qual é colocada sem qualquer aval profissional". Por isso, reclamárom "a nulidade de centenas de empregos em fraude de lei", asssim como intervenom imediata da Procuradoria Anticorrupçom.
Fotos: 1. Baltar brande um trombone de varas na homenagem de ontem (Martiño Pinal) / 2. Emotivo abraço entre dous tocaios: Xosé Luís Baltar e Xosé Luís Mendes Ferrim / Concentraçom às portas do recinto Expo Ourense, contra o nepotismo e a corrupçom (Jorge M. de la Calle).