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putinRússia - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] Um dos principais componentes da política do imperialismo norte-americano é impedir o fortalecimento da aliança da Rússia com a Alemanha/ França. Estes últimos dois países representam potências imperialistas de primeira ordem e a Rússia uma fonte quase infinita de recursos naturais.


O que está por trás do aumento das contradições entre a Rússia e o imperialismo norte-americano?

As contradições entre os Estados Unidos e a Rússia têm escalado na Ucrânia, em primeiro lugar, como consequência do aumento da pressão imperialista após o colapso capitalista de 2008. O imperialismo tenta se apropriar dos recursos naturais, conter o desenvolvimento da Rússia como uma potência de primeira ordem e controlar a indústria militar, que hoje representa o segundo maior volume de exportações do setor em escala mundial.

Na década de 1990, após a implosão da União Soviética, a Administração Ronald Reagan optou pela manutenção da Rússia como um país único, ao invés de dividi-la em vários países menores. Por quê? Por causa do gigantesco arsenal nuclear que teria ficado muito mais difícil de ser controlado se ele tivesse sido dividido entre estados menores e mais fracos.

No início da década passada, o aprofundamento da crise capitalista, que tinha dado lugar a crises localizadas na década anterior, levou à disparada da especulação financeira e à tentativa dos Estados Unidos de se apropriar diretamente do petróleo do Oriente Médio. Desde 2002, o imperialismo entrou num pântano do qual não conseguiu sair até hoje. As derrotas militares no Afeganistão e no Iraque estiveram na base do colapso capitalista mundial de 2008, da mesma maneira que a derrota no Vietnã tinha sido determinante na crise mundial de 1974. Justamente, durante esse período, as potências regionais se fortaleceram nos quatros cantos do mundo. Na América Latina, proliferaram os governos nacionalistas. A China fortaleceu a presença na Ásia e na África.

A Rússia, encabeçada pelos sucessivos governos da Rússia Unida, liderada por Vladimir Putin, conseguiu estabilizar o caos interno e avançou no sentido da retomada do controle de várias das antigas repúblicas da União Soviética.

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As potências da zona do euro, encabeçadas pela Alemanha e a França, buscam desesperadamente uma saída para a crise e o relaxamento das sanções contra a Rússia. A Grécia representa apenas a ponta de lança. A Rússia é uma fonte de negócios de primeira linha que se encontra afetada por causa das sanções impulsionadas pelo imperialismo norte-americano. Por esse motivo, a OTAN (Organização do Atlântico Norte) não consegue atuar de maneira integrada. O imperialismo norte-americano tem como uma prioridade conter a aproximação da Rússia e a Alemanha.

O aumento da agressividade imperialista sobre as potências regionais tem como objetivo manter o controle do mercado mundial. A Rússia, da mesma maneira que acontece com a China e os demais governos nacionalistas, seguem uma política estruturalmente defensiva. Se trata de governos burgueses, mais fracos, que buscam favorecer setores que lucram com recursos domésticos, que temem o desenvolvimento das tendências revolucionárias, que têm fraquezas econômicas importantes, como todo país atrasado, e que têm muito medo de enfrentar o imperialismo.

O aperto do "cerco profilático" contra a Rússia

Na segunda metade da década passada, o imperialismo norte-americano, baseado na política de 2001, denominada Full Spectrum Dominance (domínio total do espectro), aumentou o cerco contra as potências regionais, principalmente a China e a Rússia. Após a derrota no Iraque, em 2007, a metade do orçamento do Pentágono foi direcionado para a região Pacífico da Ásia. O cerco contra a Rússia foi apertado por meio do fortalecimento das bases da OTAN nos países vizinhos. O objetivo? Impedir o desenvolvimento desses países e conter a disputa do mercado mundial.

A composição do cerco militar contra a Rússia tem sido estruturada em cima da inclusão de vários países do leste europeu na OTAN, que foram inundados por bases direcionadas contra a Rússia e que representam pilares do chamado escudo antimísseis. Os países Bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia) levaram a ameaça militar a apenas 300 quilômetros da segunda cidade russa, São Petersburgo. Trata-se de uma situação muito mais perigosa que o status posterior à Segunda Guerra Mundial e mesmo que a situação anterior à invasão da Alemanha nazista em 1941. O cerco busca fechar a fronteira ocidental da Rússia, por meio da Polônia, a Eslováquia, a Romênia e a Bulgária.

O Pentágono acabou de tomar posse da base de Deveselu, no sul da Romênia, onde está instalando mísseis balísticos de intercepção SM-3, como primeira fase de um plano que envolve também a Polônia. Depois de ter realizados exercícios militares com os países Bálticos e a Polônia, a cerca de um ano, agora os realizará com a Bulgária e a Romênia. O objetivo se relaciona com a tentativa da conter o desenvolvimento das relações da Rússia com a Bulgária, a República Tcheca e a Eslováquia.
No sul, o cerco é completado com a Turquia, a Geórgia e o Azerbaijão.

Com o objetivo de impedir o aumento da influência da Rússia e principalmente o desenvolvimento como uma potência de primeira ordem, um dos principais componentes da política do imperialismo norte-americano é impedir o fortalecimento da aliança da Rússia com a Alemanha/ França. Estes últimos dois países representam potências imperialistas de primeira ordem e a Rússia uma fonte quase infinita de recursos naturais. Esse bloco, apesar das contradições, tem o potencial de fortalecer as ligações com a China, na retomada do chamado "Caminho da Seda", que já começou a ser estruturado. A construção do trem de alta velocidade Pequim-Moscou faz parte dessa política. Da mesma maneira, o fazem os acordos comerciais energéticos e militares, o fortalecimento da OSC (Organização de Cooperação de Xangai) e o Novo Banco de Desenvolvimento liderado pela China. Em oposição ao Banco Mundial, controlado pelos Estados Unidos, passaram a fazer parte, além da Rússia, várias potências europeias, inclusive a própria Grã Bretanha. É a conhecida política do "salve-se quem puder".

A política da Rússia para enfrentar a agressão do imperialismo

A política da Rússia para conter os países do Báltico e a Polônia está baseada no enclave russo de Kaliningrado, onde se encontra estacionada a Frota do Báltico e onde foram instalados mísseis balísticos de última geração, os Iskanders.

Ao mesmo tempo, em grande medida, a Rússia compensa as rachaduras existentes no seio da OTAN por meio do desenvolvimento de relações bilaterais com a maioria dos países do leste europeu. Não por acaso, Putin esteve recentemente na Hungria e na Sérvia. Com esta mantém relações estreitas.

Sobre o ponto de vista das influências e alianças regionais, o ponto de partida da política da Rússia tem consistido na manutenção de dois "amortecedores", que fazem parte dos pilares da política defensiva dos últimos governos liderados por Vladimir Putin, a Bielorrússia e a Ucrânia.

Os acontecimentos do Maidan, do ano passado, e, principalmente, a pressão imperialista para que a Ucrânia entrasse na OTAN, elevaram os alertas russos ao nível crítico. As fronteiras ficaram muito expostas. O apoio do governo Putin às repúblicas populares do Donbass busca, além de conter o desenvolvimento das tendências revolucionárias no interior da Rússia, impedir o ingresso da Ucrânia na OTAN. A política é defensiva e está baseada no pressuposto de que a manutenção do atual status impede que a situação evolua neste sentido. A incorporação da República Autônoma da Crimeia, que historicamente é parte integrante da Rússia, tem como objetivo impedir o sufocamento da Federação Russa pelo Mar Negro, o que inviabilizaria a saída ao Mar Mediterrâneo e deixaria o acesso aos recursos energéticos do Cáucaso altamente expostos.

A mesma política tem sido aplicada na Moldávia, onde a Rússia apoia um pequeno território, denominado Transnístria, que impede movimentações agressivas por parte do governo de Chisinau. A Geórgia tem sido controlada por meio das repúblicas separatistas da Ossétia do Sul e da Abkházia. A política russa ficou evidente não somente no apoio aos separatistas desde a década de 1990 contra o governo de Tbilisi, mas na intervenção direta em 2008. Um recente acordo colocará a defesa da Ossétia do Sul sobre a responsabilidade do Exército russo.

O Azerbaijão tem sido controlado por meio do território separatista de Nagorno Karabakh, encravado na região ocidental do país. Nagorno Karabakh mantém fortes vínculos com a Armênia, que é um aliado próximo da Rússia. A hostilidade entre os dois países têm escalado no último período. A Rússia mantém uma relação privilegiada com o governo de Yerevan, mas, ao mesmo tempo, fornece armas para o Azerbaijão.

A Rússia, a Bielorrússia, o Cazaquistão e a Armênia fazem parte da União Euroasiática, que passou a vigorar neste ano. O Quirguistão ingressará no próximo dia 1º de maio.

A política defensiva no restante do Transcáucaso se dá por meio do controle hegemônico das cinco repúblicas da Ásia Central, com as quais a Rússia possui uma relação privilegiada e inclusive várias bases militares. O problema colocado na região é que o aprofundamento da crise na Rússia conduz à desestabilização, ao aumento da inflação e da carestia da vida, a diminuição das remessas e ao aumento do desemprego, piorado pelo número crescente de imigrantes que retornam da Rússia. Crescem as condições para o fortalecimento dos grupos guerrilheiros, especialmente os ligados ao Talibã e ao Estado Islâmico.

(Os aspectos militares e a economia russa serão avaliados em matérias específicas.)

A política da Rússia em relação à Turquia

Um dos componentes mais importante da política russa de defesa contra a OTAN é a Turquia. A Turquia é um país membro da OTAN, mas o governo liderado por Erdogan possui contradições, ao mesmo tempo que procura desenvolver um papel de potência regional no Oriente Médio.

Este fato, a participação em manobras militares da OTAN no Mar Negro e o controle turco da saída ao Mar Mediterrâneo pelo Bósforo impõem a necessidade do relacionamento privilegiado. Recentemente, o parlamento turco aprovou a compra de mísseis chineses contra a política da OTAN. A isso se soma a influência turca nos países que fazem parte da comunidade turca, como o Azerbaijão e as repúblicas da Ásia Central.

A Rússia tem favorecido os negócios e em várias ocasiões tem realizado visitas de alto nível. O próprio Putin e o primeiro ministro russo, Dmitri Medvedev, estiveram em Ankara e em Istambul em várias ocasiões, no último período.

O comércio bilateral passou de US$ 18,5 bilhões em 2010 para mais de US$ 30 bilhões no ano passado. A Turquia importa da Rússia a metade do gás que consome, inclusive a um preço muito superior ao que a União Europeia paga, mas tenta pressionar por maiores descontos sobre a ameaça de importar gás do Azerbaijão e do Irã. A primeira planta nuclear turca, um projeto de US$ 22 bilhões, será construída pela empresa estatal russa Rosatom.

Isso não significa que as contradições com a Turquia tenham desaparecido. As políticas seguidas na Síria e no Oriente Médio são opostas. Mas a política turca em relação aos ex-países da União Soviética é extremamente cautelosa e busca evitar o confronto com a Rússia.

O governo Erdogan tem pressionado Moscou por causa do recente fechamento do único canal de televisão tártaro (uma minoria de origem turca) na Crimeia e na tentativa de impor o distanciamento da Armênia para privilegiar a relação com a Turquia.

A Turquia possui conflitos com a Armênia e é um aliado próximo do Azerbaijão. Devido ao aprofundamento da crise capitalista, assim como as ambições de tornar-se uma potência regional, tem procurado desenvolver uma política própria no Oriente Médio. Mantém acordos com os sionistas israelenses e o imperialismo norte-americano, e tem impulsionado o Estado Islâmico. O eixo da política turca passa pela procura por tornar-se um nó no fornecimento de gás à Europa. Fornecedores não faltam, apesar dos altos custos envolvidos na construção dos gasodutos; desde o Irã, o Azerbaijão e as repúblicas da Ásia Central, até a própria Rússia.

Com o objetivo de minimizar as contradições com a Turquia, ao mesmo tempo que aumenta a pressão sobre os golpistas de Kiev, a Rússia desviou o fornecimento de gás para a Europa, da Ucrânia para a Turquia. A Grécia passou a fazer parte dessa política, como ficou evidente na recente visita do primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, a Moscou.

A Gazprom já anunciou que a partir de 2019 não fornecerá mais gás à Europa através da Ucrânia, ao mesmo tempo em que tem diminuído crescentemente essa via de fornecimento. O gasoduto do Sul (South Stream) não passará mais pela Ucrânia; será desviado pela Turquia conforme o próprio Putin anunciou em dezembro em visita ao país. A Europa será obrigada a pagar uma sobretaxa para os turcos. É um dos efeitos bumerangue das sanções impostas contra a Rússia, sobre a pressão dos Estados Unidos.

Alejandro Acosta está atualmente na Rússia cobrindo os acontecimentos geopolíticos na região como jornalista independente.


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