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310810_luitaGaliza - Galizalivre - [José Manuel Lopes] Este verao foi frutífero na recuperaçom da nossa memória colectiva. Pugemos na primeira linha dos nossos recordos três figuras chave. Mostras de que a nossa luita é longa, penosa e permanentemente interrupta, mas que ainda assi perdura e se pom nas maos das novas geraçons.


Quijo o azar que coincidiram neste 2010 três nomes, três tempos e três projectos. Também três iniciativas do movimento popular, na rua ou na rede, que recordárom os caídos: um em 1947, outro em 1975, outro em 1980. Com as suas diferenças e singularidades, os três som retratos mui acaídos da Galiza combatente, com os seus logros e as suas contradiçons.

Antes de qualquer outra cousa, eram galegos até o cerne. A galeguidade está nos seus apelidos, e também e sobretodo nas suas atitudes. 'Os meus últimos pensamentos vam para a minha amada Galiza', diz Segundo Vilaboi na carta de despedida antes da sua execuçom; Moncho Reboiras, como é sabido, era um arredista; e Abelardo Colhaço foi soterrado com simbologia nacional acarom da simbologia da classe obreira. Dous deles nom militavam em organizaçons de ámbito galego, é bem certo: esta estrangeiria relativa foi a resposta dos mais rebeldes, e dos mais consequentes, às vacilaçons, coqueteos culturalistas e desbarres literários do nosso movimento nacional. Na década de 40 e na década de 70. É triste, mas assi foi.

Eram trabalhadores e, diremos mais, pobres e austeros. Nengum deles valorava o dinheiro nem os bens materiais. Polo menos em dous dos casos (Reboiras e Colhaço) eram netos e bisnetos da Galiza labrega que chegou às cidades nas enxurradas das décadas de 60 e 70, para se proletarizar e sobreviver num mundo novo.

Eram, à sua maneira, intelectuais. Produziam pensamento e expressavam-se com correcçom. Isto verá-o quem se achegue à carta póstuma de Segundo Vilaboi, fermosamente escrita. Também quem lea a propaganda do arredismo dos 70 ou dos comunistas vigueses da mesma década. Se por trás nom estava a pluma de Reboiras ou Colhaço (que nom o sabemos) estava a sua inspiraçom. Também os respectivos movimentos dos que participárom, com a sua prática material, com os seus erros e acertos, fôrom filhos de muitas horas de reflexom, estudo e debate.

Os três cumprírom, em dous contextos mui diversos, aquela consigna do clássico comunista: 'passar da arma da crítica à crítica radical polas armas'. Por isso morrêrom novos: Vilaboi com 29 anos, Reboiras com 25, Colhaço com 34.

Os tempos em que tomárom as suas respectivas decisons a vida ou morte fôrom -contra o que diz a mixtificaçom histórica- tempos duros e terríveis. Dos anos corenta, essa plena posguerra na que luitou segundo Vilaboi, já nem cumpre dizer nada pois todo é sabido; Reboiras milita no momento álgido dos grandes movimentos populares do tardofranquismo, mas já quando as elites cozinhavam eficazmente um vasto plano contrarrevolucionário, e quando as maiorias sociais se transformavam para aterrar na democracia, o consumo e o benestarismo; quanto a Colhaço, cai tiroteado no ano 80, com as esperanças de ruptura mais esvaídas, e baixo o esfarelamento generalizado da esquerda radical.

As três figuras oscilam entre o silenciamento e a recuperaçom. Vilaboi e toda a guerrilha antifranquista fôrom, num primeiro termo, clausurados da memória militante quando a luita armada perdeu vigência para o PCE, e ainda mais adiante, ao assinar este partido os pactos de silêncio da reforma política. Quando toda perspectiva insurreccional se confinou ao imaginário, entom os guerrilheiros som recuperados parcialmente polas instituiçons. Mas como uns genéricos 'militantes da democracia', nom como os revolucionários intransigentes que foram na realidade.

A memória de Reboiras, em termos gerais, foi reivindicada nos espaços mais acoutados da militáncia nacionalista e independentista. Caiu num tiroteio, defendeu a luita armada, e inspirou umha corrente arredista que corenta anos depois persevera no enfrentamento violento com Espanha. Os mais dos seus ex-companheiros assumírom a democracia, o eleitoralismo e a Galiza autonómica. Com toda legitimidade, também comemoram cada ano a sua figura. Entre o mundo da velha militáncia e a nova política medeia, porém, um abismo. Por isso estas celebraçons som desafectadas e um pouco incrédulas.

Colhaço, finalmente, recebe da democracia um sonoro silêncio. Fundou umha corrente política que o poder define, sem hesitaçons, como terrorista. Desde aquela até hoje mesmo, esta linha provou as receitas da cadea, a tortura e a censura. Neste espaço nom há recuperadores nem oportunistas a exaltá-lo. O resultado é dialéctico, porque ainda que a sua figura se conserva íntegra e sem distorsom, o seu conhecimento nas novas geraçons diminui por falta de altavozes.

Nestes três homens representam-se as grandes ondas que configuram a reivindicaçom social e nacional da Galiza recente. Ondas que se preparam, engrossam, elevam-se, estoupam e desintegram-se para dar lugar a outros momentos históricos e outros protagonistas. Como em todos os ámbitos da vida, os seus restos concitam reacçons distintas: a reivindicaçom ética e afectiva da sua gente, amigos e familiares; a vindicaçom militante de quem quer aproveitar as suas ensinanças morais e políticas para hoje; o oportunismo de quem engrandece as suas necessidades tortas de hoje com propaganda do dia de onte. Também como sempre na vida, as intençons nom aparecem puras, senom mesturadas e mesmo confusas.

Para quem já nom somos contemporáneos destas figuras, e para quem nos aproximamos a elas com umha vocaçom mui prática, há duas impressons que sobressaem por cima do resto: pensamos que nom fôrom heróis. As suas grandezas morais acometêrom-se, estamos certos, com grandes dúvidas, sofrimentos e dilemas. Por isso som personagens reais admiráveis e nom seres de outro mundo: por saberem conviver com a adversidade e superá-la, sem ser imunes a ela. Tampouco fôrom, cremos nós, seres esclarecidos que descobriram em leituras reveladoras as chaves mestras que explicam os movimentos dos povos e das classes populares. Fôrom pessoas esforçadas e inquisitivas que, desde a sua particular atalaia, contemplárom o mundo nas coordenadas que o seu tempo lhe permitia contemplar. Desde esta visom parcial, insuficiente e relativa -que é a nossa e a de todas as pessoas- apostárom com toda sinceridade por aquilo em que realmente acreditavam.


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