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fmiRevista Rubra - [José Martins] Parece que toda a máfia de economistas de Wall Street estava naquela reunião do FMI para homenagear Stanley Fischer, atualmente ministro da Economia de Israel, e discutir “as lições da crise”.


Não faltou nenhuma figurinha carimbada. Dentre elas, Olivier Blanchard, autor de infecto manual de Macroeconomia que é empurrado aos estudantes pela goela abaixo por nove entre cada dez professores de Economia em todo o mundo.

Monsieur Blanchard, que nas horas vagas também é economista chefe do FMI, discorre sobre as lições da crise. Vale a pena verificar o pensamento oficial desta perigosíssima instituição imperialista encarregada de aplicar o terrorismo econômico na periferia do sistema. Mas sem ilusão. É muito raro encontrar nessas tertúlias keynesianas sobre a “economia monetária” algo que esclareça alguma coisa da dinâmica real do ciclo econômico. Talvez a única sacada correta de Blanchard – e que serve para dar título ao seu artigo [1] – é que a política monetária dos Estados Unidos nunca mais será a mesma depois da crise de 2008/2009. Corretíssimo. Mas por quê? Isso ele não sabe dizer. Tudo bem, não se deve forçar demais.

Ele faz malabarismos em torno de coisas importantes. Como o aparecimento da armadilha da liquidez nos EUA: “ Sobre a armadilha da liquidez: descobrimos, infelizmente com um grande custo, que o limite inferior zero pode ser realmente obrigatório e ser obrigatório por um longo período – até agora já foram cinco anos. Descobrimos também que, mesmo assim, existem muitas possibilidades para a política monetária. Mas, permanece o fato que comparada com as políticas tradicionais, os efeitos das políticas não convencionais são muito limitados e incertos.”

É verdadeiramente muito sério o fato que a taxa básica de juros da economia de ponta do sistema, rebaixada para o “limite inferior” próximo de zero, não poderá ser elevada pelo Federal Reserve, o banco central do planeta, por um bom tempo.

Blanchard lembra que “não se pode descartar a possibilidade, levantada por Larry Summers, de que os Estados Unidos vão precisar de taxas de juros negativas por um bom tempo”. Summers é um tipo raro de economista do sistema que ainda conserva um mínimo de sanidade mental. Ele está correto nesta previsão. Mas o que fazer diante da situação? Blanchard procura uma resposta fácil. Busca na política “não convencional” dos helicópteros de Bernanke inundando o mercado de moeda desde 2008/2009 instrumentos supostamente originais criados no enfrentamento da crise bancária norte- americana. Medidas ‘macro prudenciais’ que os incompetentes japoneses, por exemplo, não teriam aplicado nos anos 1990: “ Depois da crise financeira é essencial sanear e recapitalizar os bancos. Isso não aconteceu no Japão nos anos 1990 e teve custos muito grandes. Mas aconteceu nos Estados Unidos nesta crise e ajudou na recuperação” – disserta de forma altamente incorreta nosso economista.

Ele está sendo injusto com os japoneses e falseando a realidade dos bancos dos Estados Unidos. Se ele verificar os números dos três maiores bancos japoneses (Mitsubishi, Mizuho e Sumitomo Mitsui), nos últimos dezoito meses, vai encontrar principalmente uma rápida valorização das suas ações na Bolsa de Tóquio. Este movimento altista é indica objetivamente certa disposição dos investidores privados em capitalizar esses bancos. O jornal Financial Times, de Londres, está em cima do lance: “ Os maiores bancos japoneses lucram em um ambiente de negócios drasticamente conturbado. Mitsubishi e Mizuno, os dois maiores grupos bancários, publicaram lucros maiores que o previsto no trimestre terminado em Junho. Esses resultados decorrem da alta da bolsa de valores e da expansão da demanda por empréstimos das empresas, que mais que compensaram o declínio das receitas com bônus do governo” [2].

Mesmo que esse espasmo de valorização dos bancos japoneses no seu mercado de capitais não queira dizer que seus problemas acabaram. Muito longe disso. Mas nem essa revitalização temporária dos japoneses acontece com grandes bancos norte- americanos como CitCorp., Bank of América, etc., cujas ações não reagiram, até agora, um milímetro à queda catastrófica dos preços ocorrida em 2008/2009. Ninguém se interessa por esses micos de ações que apenas aguardam o próximo período de crise para serem definitivamente incinerados.

Na verdade, o stress dos bancos norte-americanos é o mesmo dos japoneses. Muito grande. Um teste de stress bem realista destes bancos mostraria agora que só seriam capazes de suportar novo e pesado choque econômico se forem socorridos com massivas injeções de recursos pelo governo, muitas vezes maiores que aquelas já ocorridas em 2008/2009. O próximo choque, dentro de 18 a 20 meses, o mais tardar, será bem mais pesado que o anterior. O risco sistêmico aumenta. Os economistas presentes no encontro do FMI procuram inovar as possibilidades de garantir o lema “too big to fail”, quer dizer, “muito grande para quebrar”. Para o sistema, esses bancos estão proibidos de quebrar. Se esses grandes bancos quebrarem, seja nos Estados Unidos, seja no Japão, todo o sistema financeiro e monetário mundial quebra junto. O resultado seria uma abrupta crise catastrófica (depressão global).

Em 2008/2009 os governos fizeram o papel que lhes cabe no sistema capitalista de lender of last resort (emprestadores de ultima instância). E agora, que os principais governos não dão mais conta de pagar nem suas próprias dívidas? O economista Paul Krugman, que, como Blanchard, não tem nem um pouco da seriedade de Summers, afirma ingenuamente que “é essencial ter um lender of last resort em condições para emprestar não só para instituições financeiras, mas também para os governos”!

Blanchard cita essa nova pérola de imbecilidade de Krugman e também se esquece de perguntar onde, no próximo choque, se localizaria o providencial emprestador de última instância para resgatar o Banco Central do planeta, localizado em Washington, nosso conhecido Federal Reserve (Fed). Os dois endereços alternativos e mais próximos do nosso planeta são exatamente o Banco Central da Lua e o Banco Central de Marte. Resta saber se eles também não estão enrascados com alguma armadilha de liquidez mais complicada que a que os economistas reunidos pelo FMI tentarão inutilmente desarmar.

Notas:

1 Olivier Blanchard – Monetary Policy Will Never Be the Same - in EconoMonitor, 19/Novembro/2013 http://www.economonitor.com/blog/2013/11/olivier-blanchard-monetary-policy-will-never-be-the-same/.

2 “Financial Times – Japan’s biggest banks profit under Abenomics [Maiores bancos japoneses lucram sob a politica econômica de Abe]– 31/Julho/2013  http://search.ft.com/search?queryText=Japan’s+biggest+banks+profit+under+Abenomics&ftsearchType=on. - See more at: http://www.revistarubra.org/fly-moon/#sthash.vRFgyPAj.dpuf.

 
CRÍTICA SEMANAL DA ECONOMIA
 
EDIÇÃO Nº 1174 – Ano 28; 1ª semana Dezembro 2013.
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