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mexico desaparecidosMéxico - Carta Maior - [Blanche Petrich] "Achamos que o que eles nos disseram, que nossos filhos estão mortos, é mentira. Por que afirmam dessa forma, sem dar qualquer prova, qualquer certeza?"


Hilda Hernández Rivera, mãe de César Manuel González, e Cristina Bautista, mãe de Benjamín Ascencio, dois dos 43 estudantes de Ayotzinapa desaparecidos em Iguala no último dia 26 de setembro, asseguram que, "ainda que estejam bem irritadas" com o governo, não estão dispostas a cortar a comunicação que o grupo de pais dos estudantes têm com os funcionários da Procuradoria-Geral da República, da Secretaria de Governo e, inclusive, da Presidência.

"Nós não vamos romper, mas tampouco vamos lhes dizer sempre sim, certo? Para começar, achamos que o que eles nos disseram, que nossos filhos estão mortos, é mentira. Por que afirmam dessa forma, sem dar qualquer prova, qualquer certeza?"

Hilda e Cristina, que há dois meses vivem na escola Norma Rural Raúl Isidro Burgos de Ayotzinapa, mudaram e amadureceram nessas últimas semanas. No início de outubro, quando os dias do desaparecimento de seus filhos ainda eram contados com os dedos das mãos, qualquer pergunta as quebrava. Quando as semanas começaram a se acumular, elas permaneciam reservadas nas reuniões ou nos encontros com a imprensa. Nunca pediam a palavra.

Hoje, falam com firmeza. "Eles nos causaram muitas lástimas. Nesse dia em que nos reunimos com o senhor Jesús Murillo Karam (Procurador Geral da República) em Chilpancingo (7 de novembro), eles nos causaram muitos danos. Depois disso, já não podemos permanecer caladas", disse Hilda Hernández em Huamantla, Tlaxcala.

Naquele dia, depois de falar com os pais de família e seus advogados, Murillo Karam falou com a imprensa e deu a versão de que um grupo de 40 jovens, "provavelmente" os estudantes, foram assassinados, incinerados em uma grande fogueira humana em um lixão municipal nos arredores de Cocula. Depois, seus ossos foram triturados, empacotados em sacos de lixo, e suas cinzas foram jogadas no rio San Juan. Essas palavras foram como uma surra para aquelas mulheres.

"Não nos pegou de surpresa", conta Cristina, original de Ahuacotzingo, região de La Montaña Guerrerense. "Nós já sabíamos porque os advogados nos anteciparam a informação. Nós fomos preparadas. Mas sim, doeu".

Segundo Hilda, "quando ouvimos, nós o proibimos de dizê-lo publicamente, porque precisávamos antes falar com a nossas famílias. E ele não cumpriu. Anunciou tudo na televisão. Até usou vídeos".

Para os familiares dos estudantes que não estavam em Chilpancingo – irmãos, avós –, mas em suas casas, a narração dos fatos segundo a versão oficial foi dilacerante. "Minha filha estava vendo a televisão, imagina? Foi falar comigo chorando desesperadamente. Tive que lhe dizer que não ligasse, que era tudo mentira", conta Cristina.

Enquanto isso, em Huamantla, a casa de Hilda ficou cheia de vizinhos que foram dar os pêsames aos familiares. "Mas que pêsames estão dando, se não existe certeza sobre nada?".

Passado o primeiro impacto, em família e em grupo, os pais foram analisando os dados. "Por um momento, não assimilamos essa coisa tão feia que Murillo nos disse. Ou nos bloqueamos, ou não entendemos nada. Mas logo que fomos analisando as coisas com mais calma, começamos a pensar que não era possível que tivesse acontecido como eles disseram".

Alguns foram a Cocula, para ver o local da suposta fogueira. "Não parecia que tivesse havido uma grande fogueira. E nenhum rastro de ossos. Como poderia ter acontecido? Além disso, foram quatro dias de pura chuva. Por mais ignorante que se possamos ser, nos demos conta de que o que ele disse não procedia".

Desde 7 de novembro, a investigação não teve qualquer avanço.


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