1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 (1 Votos)

200914 Cuba-Escola-no-CampoCuba - PGL - [José Paz Rodrigues] Escolhi três documentários realizados pelo diretor cubano Jorge Fraga nos anos 1961, 1970 e 1973, para o meu comentário dentro da série de “As Aulas no Cinema”, coincidindo com o início do curso escolar no nosso país.


Foto: Escola no campo cubano. Imagem de um dos documentários.

Hoje poucos são os que põem em dúvida que o sistema educativo cubano é um dos de maior qualidade do mundo e o sucesso escolar dos estudantes do país caribenho é muito elevado e importante, por causa da alta valia do sistema. Como tão-pouco se pode pôr em dúvida que, ademais da educação, a medicina, a saúde e os desportos em Cuba estão a um nível muito superior aos dos países da América Latina, e muitos outros do resto do mundo. Embora, como é natural, haja bastantes pessoas que não aceitem o sistema político cubano, nascido da revolução de finais dos cinquenta e princípios dos sessenta, por considerá-lo totalitário e ditatorial noutros campos e, no entanto, progressista nas áreas acima mencionadas. Para analisar a alta qualidade do sistema educativo cubano e as razões de seu grande sucesso, apoio-me nas pesquisas que fez o economista americano Martin Carnoy da Universidade de Stanford. Nas suas investigações sobre o tema compara o sucesso e fracasso de vários sistemas educativos de América, e conclui que a bem-sucedida educação cubana é proveniente de cinco fatores básicos:

  1. Os estudantes cubanos destacam em todo o tipo de provas, e a principal causa é que os seus professores dominam muito bem a matéria que ensinam e têm uma clara ideia de como devem ensiná-la, dominando a sua didática e os métodos de ensino adequados à mesma. Em Cuba, com grande acerto, dá-se muita importância à formação inicial e permanente dos docentes, onde o ensino integral do currículo é um tema central. Procura-se nesta formação que os professores tenham um grande domínio das disciplinas que ensinam e têm que aprender muito bem a didática específica das mesmas, entendida como didática especial, na qual se aprendem as estratégias didáticas para saber ensinar e saber mobilizar e incentivar os alunos em sala de aula.
  2. Os diretores e vice-diretores dos estabelecimentos cubanos de ensino supervisionam de perto o trabalho docente, entrando amiúde na sala de aula para comprovar se o currículo está a ser cumprido e como ele é ensinado. Os educadores estão acostumados a serem apoiados didaticamente e serem avaliados pelos gestores.
  3. O docente cubano exige de seus estudantes muita dedicação aos estudos e atividades. “O modelo cubano contribui para que o aluno veja no professor mais que um exemplo, mas que tenha com ele uma relação próxima de confiança e cumplicidade”, diz Carnoy.
  4. O tempo da sala de aula é monitorado, o que permite comprovar que as aulas cubanas estão mais focadas para as diferentes aprendizagens, do que sucede noutros países. Em Cuba, a turma trabalha mais, as perguntas do educador levam todos a pensar e ele não para a toda a hora para pedir atenção. O estudante cubano fica na escola todo o dia, com apenas um professor, reservando 41 % do tempo a tarefas individuais, com a vantagem de que os alunos trabalham um 38 % do período resolvendo problemas e fazendo exercícios e atividades variadas. Enquanto isso, o professor circula entre as carteiras, orientando e tirando dúvidas. Por outro lado, o período dedicado à cópia de instruções é baixo, de apenas um 2 %. É este um modelo denominado de escola de tempo integral.
  5. Os melhores estudantes cubanos são incentivados para a carreira docente e para que se formem para ser professores. O mesmo acontece na Finlândia e Coreia do Sul, ambos com escolas de alta qualidade. Era o mesmo que acontecia no período da nossa Segunda República dos anos trinta, época em que tivemos os melhores mestres de toda a nossa história, com um modelo de formação inicial ainda não superado no dia de hoje.

Do sistema educativo cubano, contudo, poderia criticar-se a pequena autonomia que têm os professores para desenvolver o seu labor docente nas suas aulas, e o “centralismo” do sistema escolar, aspetos que caraterizam outros sistemas educativos, e não só o cubano. Convém esclarecer porém, que o papel do diretor-supervisor não é o de controlar ideologicamente o docente, mas sim de um acompanhamento sobre “como o professor dá a sua aula”, tendo um sentido claramente didático-pedagógico, com o que isto tem de positivo. O diretor-supervisor assiste às aulas, pelo menos duas vezes por semana, anota as falhas do estilo do professor e depois uma reunião é marcada para “trabalhar” como o professor deve corrigir o seu estilo ou as suas estratégias didáticas, para melhorar o resultado do seu ensino, que deve ser aferido na aprendizagem dos alunos. No sistema educativo cubano, com grande acerto, preocupam-se de ter excelentes professores (pessoas com valores, com conhecimentos e inteligência), que saibam ensinar, que se relacionem bem com os seus alunos e fomentem entre eles o interesse por aprender e por trabalhar na aula com entusiasmo e alegria. Por isto, o sistema procura docentes que tenham verdadeira vocação pelo ensino e pelo ofício de ensinar.

Nos estupendos documentários de Jorge Fraga, pode observar-se também, entre outros aspetos, como no sistema educativo cubano nascido da revolução, se soube magistralmente integrar a teoria e a prática, sendo um autêntico exemplo disto as mais de 50 Escolas Secundárias no Campo que foram criadas por todo o território da ilha caribenha. E a grande campanha de alfabetização empreendida, que elevou muito o nível cultural do povo e a quase total desaparição do analfabetismo entre todos os cidadãos cubanos, homens e mulheres. Sobre estes temas ninguém pode discutir que Cuba ocupa de forma destacada um dos primeiros lugares entre todos os países do mundo.

FICHAS TÉCNICAS DOS 3 DOCUMENTÁRIOS:

1.- Y me hice maestro (E fiz-me mestre):

  • Diretor: Jorge Fraga (Cuba, 1961, 20 min., a preto e branco).
  • Roteiro: Jorge Fraga. Fotografia: Julio Simoneau.
  • Edição: Carlos Menéndez. Produção: Nelson Rodríguez.
  • Produtora: ICAIC. Som: Eugenio Vesa Figueras.
  • Argumento: A capacitação de jovens nas montanhas para converter-se em mestres voluntários de ensino primário.
  • Prémio: Medalha de Ouro do Conselho Mundial da Paz, no Festival Internacional de Cinema Documental e de Curta-metragens de Leipzig (RDA) em 1962.
  • 2.- Escuela en el campo (Escola no campo):

  • Diretor: Jorge Fraga (Cuba, 1970, 16 min., a preto e branco).
  • Roteiro e Edição: Jorge Fraga. Fotografia: Iván Nápoles.
  • Som: José León, Juan Rafael Rodríguez e Raúl Pérez Ureta.
  • Produtora: ICAIC.
  • Argumento: A primeira escola nova cubana concebida e construída a partir dos delineamentos do plano de “a escola no campo”.
  • 3.- La nueva escuela (A nova escola):

  • Diretor: Jorge Fraga (Cuba, 1973, 89 min., cores).
  • Produção: Orlando de la Huerta. Produtora: ICAIC.
  • Edição: Gloria Arguelles. Som: Héctor Cabrera.
  • Fotografia: Rodolfo López.
  • Argumento: Símbolo da revolução educativa cubana e exemplo a seguir para o mundo do ensino. Em imagens reais aparecem os estudantes nas suas atividades escolares, culturais, desportivas, lúdicas, científicas e mesmo dando opiniões, especialmente nas escolas secundárias no campo, em que se levam à prática as teorias científicas, realizando experiências agrárias e sociais. No filme aparece o principal dirigente da revolução, o galego Fidel Castro.
  • Para ver em Youtube (Resumo de 23 min.)
  • Prémios: Diploma de Honra e prémio da FIPRESCI no Festival de Cinema Documental e de Curta-metragens de Leipzig (RDA) em 1973. Certidão de Excelência no Festival Internacional de Cinema de Georgetown, Guiana, em 1976. Seleção Anual da Crítica de Havana, Cuba, em 1973.
  • O realizador: Jorge Fraga nasceu, de família galega, em 1935, e faleceu na Colômbia em 5 de maio de 2012. Desde 1952 trabalhou como camarógrafo e produtor da CMQ-TV, sendo fundador em 1959 do Instituto Cubano de Arte e Indústria Cinematográfica, conhecido com as siglas ICAIC. Desempenhou múltiplas profissões relacionadas com o cinema: camarógrafo, produtor, assessor artístico e diretor. Foi ademais realizador de numerosas edições do “Noticiero ICAIC Latinoamericano”, assessor artístico e subdiretor de programação do mesmo. O seu labor como mestre não se limitou à prática cinematográfica, senão que lecionou aulas de Estética e História do Cinema na Universidade de Havana, entre 1970 e 1977. Foi também fundador da Escola Internacional de Cinema e TV de S. Antonio de los Baños (EICTV), formando parte da equipa que iniciou a redação dos seus programas académicos, e na qual deu aulas e ocupou cargos de direção. Em 1978, ocupou o cargo de Vice-diretor de produção cinematográfica do ICAIC. Os seus trabalhos fílmicos foram reconhecidos no seu país e internacionalmente, recebendo muitos dos seus filmes numerosos e importantes prémios em diversos festivais cinematográficos. Participando também como membro em júris de certames internacionais, e publicando textos especializados sobre cinema. Na década de sessenta e parte de setenta Fraga foi uma peça importante na narração épica e fílmica das façanhas do povo e da revolução cubanas.

    CUBA, UMA NOVA ESCOLA PARA UMA NOVA ERA:

    O filme-documentário “A Nova Escola” de Jorge Fraga é um exemplo da antecipação, sobre as escolas secundárias no campo cubanas. Há 96 anos José Martí, poeta e líder cubano, disse que “era necessário desenvolver no rural da ilha caribenha uma campanha de ternura e de ciência”. De alguma maneira, no plano artístico, o filme de Fraga faz parte dessa campanha, que se iniciou em 1961 com a grande campanha de alfabetização por toda a ilha.

    “A Nova Escola” é um velho sonho revolucionário, que antes sonharam Carlos Marx e José Martí. Marx entreviu “o germolo da educação do porvir” num experimento que combinasse o estudo e o trabalho, já realizado na Inglaterra cara 1865. Ao seu juízo, essa combinação permitiria não só “intensificar a produção social”, como também “produzir homens plenamente desenvolvidos”, que explicava num belo texto em que diz: “No ato mesmo da produção não só se modificam as condições objetivas, como se modificam também os produtores, porquanto estes tiram novas qualidades de si mesmos, desenvolvem-se a si mesmos na produção e transformam-se, criando novas forças e representações, novos modos de relacionamento, novas exigências e uma nova linguagem”. Pela sua parte, José Martí, grande homem de América, concebeu a “Nova Escola” como oposição aos centros de ensino clericais e puramente literários. Por isso pôs a ênfase no conteúdo da educação, na necessidade de converter em científico o ensino escolástico. Em 1883 escreveu: “Nos nossos países tem que fazer-se uma revolução radical na educação… Contra teologia, física; contra retórica, mecânica; contra preceitos de lógica, preceitos agrícolas”. Ele concebeu o homem novo como resultado da educação científica e natural, quer dizer, como um homem capaz de dominar teórica e praticamente a natureza. Detrás de cada escola tinha que fazer-se “um obradoiro ou oficina agrícola, à chuva e ao sol, onde cada estudante plantasse e semeasse a sua árvore”. Só assim se obteria “o pleno e equilibrado exercício do homem, de maneira que seja como em si mesmo pode ser, e não como os demais já foram”. Nestas ideias baseou a revolução o seu conceito de “cultura de intempérie” na contraposição à cultura de salão e gabinete, própria da sociedade de classes. A revolução cubana, desta forma, encontrou em Martí e Marx o fundamento teórico da nova pedagogia, e com as escolas secundárias no campo, em número superior a cinquenta, por todo o território, começou a realizar esse velho sonho revolucionário.

    Os protagonistas de “A Nova Escola” são adolescentes de 13 e 14 anos que ao contar as suas experiências escolares e analisar a mudança que teve lugar neles, raciocinam como verdadeiros marxistas sem terem lido Marx. É o caso, por exemplo, da mocinha loira que nunca pegara nas suas mãos uma “guataca”, ou da outra loira que explica a diferença que há entre comer laranjas e comer as laranjas que uma mesma cultivou. Lembro estas imagens cheias de frescura e espontaneidade, de quando projetei este filme numa edição das Jornadas do Ensino de Galiza e Portugal em Compostela, na década de oitenta, dentro do programa das mesmas. Como lembro também aquela imagem em que uma estudante na aula de ciências olha placidamente uma pequena ratazana e um segundo depois vê-se arrastada a um verdadeiro conflito dramático. Ou, noutro nível, os jovens compositores que tentam compor um hino escolar e fazerem, ou assim acreditam fazer, uma canção protesto; ou esse rapaz que pela primeira vez se enfrenta, estupefato, ao mistério da gravata. É igualmente comovedor ver no filme o entusiasmo dos rapazes por se fazerem mestres. Uma das cenas mais formosas da fita é quando uma jovem se olha, de repente, refletida nos seus alunos, descobrindo perante a mesma câmara o sentido último da sua profissão docente. Esta cena mostra o belos que são os raros momentos em que cada silêncio e cada gesto vale por milhares de palavras.

    A visita de Fidel Castro ao vivo e em direto é uma festa para os jovens espetadores, precisamente porque com ela parece culminar o espírito juvenil e dinâmico que brota do ambiente e atravessa todo o filme, como uma contagiosa alegria. De repente o líder cubano se converte num moço, e muito em especial quando como um rapaz mais reclama aos berros que a bola entrou e não saiu fora da risca numa partida de voleibol, ou quando desafia o campeão local de pingue-pongue, ou anima os seus companheiros de equipa no jogo do basquete.

    O filme mostra também, apoiando-se em imagens a partir do céu dos edifícios escolares que se estendem pelas chairas rurais da ilha, tentando apagar as diferenças entre a cidade e o campo. E também as sessões de crítica e autocrítica, a expetativa perante os resultados da emulação e da motivação educativas, as opiniões dos jovens sobre o trabalho manual, intelectual e doméstico, outras peças possíveis, que encaixariam na criação de uma nova ética, permeada de coletivismo e sentido de responsabilidade individual, dando muita importância à participação de todos nas decisões que competem a todos, e ao instinto sempre renovado das massas de combinar a funcionalidade com a beleza. A longa-metragem abre-se com as imagens dos estudantes dizendo “adeus” às suas famílias ao início do ano escolar. Estas transmitem o desejo de aventura misturado com a tristeza da separação dos pais. Dentro já do autocarro, falando e cantando entre os amigos, sabendo que se está no caminho ao trabalho e ao estudo, e no de participar na formação de uma nova sociedade cubana forte, muitas das dores da separação ficam minoradas. Ao pouco de iniciar-se, uma mulher, professora ou administradora, descreve-nos como se implementam os princípios do trabalho e do estudo nas novas escolas. Todos os alunos do ensino secundário participam no trabalho-estudo. Os estudantes que assistem a escolas diurnas nas cidades passam 45 dias ao ano no campo, fazendo trabalho agrícola. Nos internatos no campo, os jovens passam a metade de todos os dias na sala de aulas, e a outra metade trabalhando nos campos. Ao participarem do trabalho produtivo, os estudantes estão a fazer uma contribuição concreta para a economia nacional, o que lhes proporciona uma educação totalmente gratuita, incluídos os livros, vestuário e recursos didáticos.

    Entrevistas e narrações frequentes são acompanhadas por cenas de diversas atividades das escolas: eventos culturais, desfiles, assembleias, sessões na aula, o trabalho agrícola, a visita do líder carismático, completando tais cenas com a imagem da bandeira, uma estátua de Martí, um grande cartaz do “Che” Guevara, um desfile dos estudantes no Primeiro de Maio e um aforismo de Martí que diz: “Pela tarde a caneta, pela manhã o sacho”. O diretor da fita, com acerto, para sugerir visualmente o princípio fundamental, que está atrás destas novas escolas e da nova sociedade cubana no seu conjunto, de que todo o grupo se compõe de indivíduos, e cada individuo é um integrante decisivo no grupo, emprega cenas das salas de aula nemas que a câmara mais amiúde se centra no indivíduo (estudante ou professor) e depois, com um “travelling” de profundidade em retrocesso, mostra toda a sala, com todos os alunos.

    Muitos estudantes destas escolas nunca tinham passado uma noite fora da sua casa, pelo que ao assistir a uma escola destas no campo cinco dias e meio por semana, viver em comunidade, pela vez primeira, com um calendário de estudo exigente e trabalho físico, nomeadamente agrícola, requeria destes jovens uma importante adaptação à nova realidade. A câmara, por momentos, centra-se nos alunos com primeiros planos, trabalhando juntos em pares, a depois afasta-se para mostrar todo o campo cheio de pares de estudantes a realizar o seu trabalho produtivo. Enquanto têm lugar animadas conversações entre eles, das quais também muito aprendem, incluídas canções e anedotas. Na nova realidade escolar os estudantes conhecem também o trabalho dos labregos, o de todos os dias da sua vida, com as suas curtidas mãos. Igualmente como a tecnologia moderna (medicina, tratores, aspersores…) pode ser muito importante, sabendo valorizá-la, sem chegar a ser dela dependentes. E de que o desenvolvimento é fundamental para um povo, pelo que o trabalho físico dos estudantes transmite neles a ideia de que é necessário que todos trabalhem para contribuir para o progresso da sociedade.

    Numa importante cena, a câmara segue um rapaz sério que sobe a um autocarro escolar, enquanto os que o rodeiam estão aplaudindo e cantando. Depois caminha por um carreiro de terra, chegando à humilde casa de teito de palha da sua família, que o espera vestida com os melhores trajos para dar-lhe as bem-vindas. O pai expressa o orgulho de que os seus filhos estão assistindo a uma escola de grande qualidade, e sorrindo afirma: “Os meus filhos agora têm o que eu não tive”. A diferença entre a cabana labrega tradicional e as novas escolas é mais que evidente. Percebe-se o progresso da revolução, a não só da tecnologia, senão do potencial humano, o desenvolvimento dos subdesenvolvidos. Mas, infelizmente, desde há umas décadas em que a URSS desapareceu e deixou de enviar a ajuda económica para manter estas inovadoras escolas, muitas terminaram por fechar e são muitas as que estão hoje abandonadas e algumas se converteram em prisões. O estado cubano não tem dinheiro suficiente para manter o seu sistema educativo nascido da revolução, que chegou a conquistar elevadas cotas de qualidade.

    O MODELO PEDAGÓGICO DAS ESCOLAS SECUNDÁRIAS NO CAMPO:

    Através da formulação e desenvolvimento das ideias que constituem os princípios básicos das Escolas Secundárias Básicas no Campo (ESBC), para estudantes de 7º a 10º graus do primeiro ciclo do secundário, podemos compreender a transcendência desta inovação educacional cubana, nascida da revolução. De forma muito resumida, desenvolvo a seguir os seus quinze importantes princípios:

    1º.- Educação na coletividade: A prática social é fator transcendente da formação da consciência social. Para isto se fomenta o trabalho por equipas e brigadas de trabalho produtivo, nomeadamente agrícola.

    2º.- Combinação do estudo com o trabalho: Importância de adquirir hábitos de trabalho como um dever mais natural e elementar de todo o cidadão. Ligar a escola com a vida, levando a teoria à prática. Educar para a vida. Atrás deste princípio estão os pensamentos de Martí e de Marx, e de muitos pedagogos da Escola Nova.

    3º.- Formação do estudante produtor: Fomentar nos estudantes o amor ao trabalho e aos trabalhadores, pois o trabalho em si é um poderoso fator de desenvolvimento da personalidade. O trabalho produtivo é o que ajuda mais à formação da mentalidade do que produz.

    4º.- Educação universal: Educação para todas as crianças e jovens do país, tanto elementar como média e também universitária, sem discriminações, e para homens e mulheres em igualdade.

    5º.- Unir a educação aos planos de desenvolvimento económico: Combinar os dous fatores de educação social e as necessidades do desenvolvimento económico do país, dentro dos planos de produção agrícola: citrinos, árvores de fruto, cafezeiros, vegetais, etc. Em muitos casos suficientes para sufragar os custos de funcionamento das escolas.

    6º.- Educação através do relacionamento do jovem estudante com o trabalhador do campo: Importância da tomada de consciência dos jovens de que a principal fonte de vida está na terra, e que jovens de zonas urbanas e rurais devem trabalhar juntos na produção de bens materiais.

    7º.- Educação para a formação de hábitos de trabalho intelectual: Valorização do trabalho intelectual, tanto do ponto de vista teórico como prático, não contrapondo-o ao manual. Ambos nestas escolas têm o mesmo valor e equilíbrio.

    8º.- Desenvolvimento das inclinações e aptitudes individuais: O respeito à personalidade do educando está sempre presente. Mas evita-se fomentar o individualismo, dado que a arma mais forte é a coletividade, organizada de modo consciente e racional, para não limitar o desenvolvimento da personalidade do individuo, o que sempre há favorecer o coletivo.

    9º.- Educação pelo estímulo da emulação e motivação socialista: Formação de todos os jovens no âmbito da nova sociedade cubana que se está a construir.

    10º.- Educação pelo trabalho de autosserviço e socialmente útil: Satisfação das necessidades mínimas, como a higiene e asseio pessoal, limpeza dos dormitórios, albergues, cozinhas, refeitório e locais de lazer. Por equipas os alunos realizam estas tarefas com um calendário previamente estabelecido.

    11º.- Educação dos jovens no cuidado e conservação da propriedade social: Inculcar no jovem estudante o conceito de que o homem é um produto do trabalho social, e que, mediante o trabalho e o esforço constante dos trabalhadores, se cria a riqueza da comunidade e o bem-estar pessoal de cada um dos membros da sociedade.

    12º.- Educação pela formação vocacional e orientação profissional: Só a educação de todos e a integral garante que não se perca uma só inteligência. Importância de fomentar os interesses e respeitar gostos e preferências vocacionais dos estudantes, dando as oportunas orientações profissionais.

    13º.- Educação pela solidariedade internacional: Realizar nas escolas atividades para fomentar a solidariedade com outros povos da Terra: costumes e manifestações artísticas, estudo da vida e obra de combatentes internacionalistas como Gandhi e Luther King, criação de círculos de filatelia internacional, desenvolvimento de grupos de ativistas de história em todos os centros, comemoração de datas históricas, criação de grupos juvenis solidários, etc.

    14º.- Educação pela participação dos jovens no governo das instituições escolares:Organização de grupos e federações juvenis, conselhos e assembleias de aula, e funcionamento de conselhos e grupos representativos para tomar decisões que afetam todos.

    15º.- Educação dentro dos princípios do marxismo-leninismo: O fim da escola cubana após a revolução, dentro da qual as ESBC são um elo fundamental, é educar as novas gerações de modo a que crianças e jovens alcancem o desenvolvimento integral de todos os valores favoráveis da personalidade humana, com especial destaque nos de ordem cívica, ao efeito de que participem de maneira consciente e ativa na construção do socialismo em Cuba.

    TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR:

    Utilizando a técnica do “Cinema-fórum” analisar os conteúdos e a linguagem cinematográfica dos três documentários realizados por Jorge Fraga, depois de visioná-los.

    Consultando livros e a internet, elaborar uma monografia dedicada a Cuba, ilustrada com textos e fotos. Na mesma devem incluir-se aspetos geográficos, históricos, culturais, económicos, artísticos, etc.

    Seria interessante incluir nela uma seção dedicada ao relacionamento entre Cuba e a Galiza ao longo dos tempos. Com tudo o recolhido e elaborado poderiam organizar-se amostras nos nossos estabelecimentos de ensino.

    José Paz Rodrigues é Professor de EGB em excedência, licenciado em Pedagogia e graduado pela Universidade Complutense de Madrid. Conseguiu o Doutoramento na UNED com a Tese Tagore, pioneiro da nova educação. Foi professor na Faculdade de Educação de Ourense (Universidade de Vigo); professor-tutor de Pedagogia e Didática no Centro Associado da UNED de Ponte Vedra desde o curso 1973-74 até à atualidade; subdiretor e mais tarde diretor da Escola Normal de Ourense. Levou adiante um amplíssimo leque de atividades educativas e de renovação pedagógica. Tem publicado inúmeros artigos sobre temas educativos e Tagore nas revistas O Ensino, Nós, Cadernos do Povo, Vida Escolar, Comunidad Educativa, Padres y Maestros, BILE, Agália, Temas de O ensino, The Visva Bharati Quarterly, Jignasa (em bengali)... Artigos sobre tema cultural, nomeadamente sobre a Índia, no Portal Galego da Língua, A Nosa Terra, La Región, El Correo Gallego, A Peneira, Semanário Minho, Faro de Vigo, Teima, Tempos Novos, Bisbarra, Ourense... Unidades didáticas sobre Os magustos, Os Direitos Humanos, A Paz, O Entroido, As árvores, Os Maios, A Mulher, O Meio ambiente; Rodrigues Lapa, Celso Emílio Ferreiro, Carvalho Calero, São Bernardo e o Cister em Ourense, em condição de coordenador do Seminário Permanente de Desenho Curricular dos MRPs ASPGP e APJEGP.


    Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

    Microdoaçom de 3 euro:

    Doaçom de valor livre:

    Última hora

    Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

    Contacto: info [arroba] diarioliberdade.org | Telf: (+34) 717714759

    Desenhado por Eledian Technology

    Aviso

    Bem-vind@ ao Diário Liberdade!

    Para poder votar os comentários, é necessário ter registro próprio no Diário Liberdade ou logar-se.

    Clique em uma das opções abaixo.