1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 (0 Votos)

110915 cincoCuba - Opera Mundi - [Lucas Rohan] Exclusivo: Gerardo Hernández, um dos cinco agentes da inteligência cubana presos nos Estados Unidos no fim da década de 90 e libertados recentemente, vê retomada de relações com 'otimismo e cautela'.


O cubano Gerardo Hernández, 50 anos, mal chegou à Festa do Avante, no sul de Lisboa, e foi cercado por centenas de pessoas. O agente da inteligência cubana que ficou 16 anos preso nos Estados Unidos estava se sentindo em casa na feira promovida pelo Partido Comunista Português (PCP). Hernández veio a Lisboa para participar de um ato de solidariedade ao povo de Cuba dentro da programação do evento que acontece há 40 anos no sul da capital portuguesa. A região, considerada bastião do comunismo português, recebeu milhares de pessoas no primeiro fim de semana de setembro em mais uma edição da festa.

Acompanhado pela esposa, Adriana Pérez, e pela embaixadora cubana em Portugal, Johana Tablada, Hernández visitou os espaços do Partido Comunista de Cuba e do movimento pela independência da Catalunha. Não conseguia dar um passo sem que alguém o parasse com um pedido de fotografia ou um abraço emocionado. Deu autógrafos e ouviu frases de apoio. “Valeu a pena, Gerardo” foi a mais repetida por militantes comunistas de vários países, confirmando a alcunha de “herói” dada aos cinco agentes de Cuba considerados presos políticos dos Estados Unidos.

Em entrevista exclusiva a Opera Mundi, Gerardo Hernández mostrou desconfiança no diálogo com os norte-americanos. Ele vê a retomada de relações entre os dois países como um processo normal entre nações vizinhas e alerta para “os riscos que isso implica”, porque, segundo ele, “quem conhece a história sabe que é perigoso confiar nos Estados Unidos”. Após deixar a prisão, ele tem se preocupado em divulgar a existência de presos políticos de outras nacionalidades em solo norte-americano. “Muitos estão em situação de risco para sua saúde e precisam de ajuda”, alerta.

Gerardo Hernández foi preso em setembro de 1998, em Miami, junto com Antonio Guerrero, Ramón Labañino, Fernando González e René González. Eles foram acusados, entre outros crimes, de conspiração para homicídio por dar informações que possibilitaram à Força Aérea Cubana derrubar dois aviões da organização norte-americana Brothers to the rescue em 1996. Os quatro tripulantes morreram. Na época, o governo de Fidel Castro alegou que os agentes estavam nos Estados Unidos para investigar organizações terroristas cubanas que agiam em Miami. Eles foram condenados em 2001.

René e Fernando González cumpriram a pena e foram soltos em 2011 e 2014, respectivamente. Os três que continuaram presos só foram liberados com uma canetada do presidente Barack Obama no dia do anúncio da retomada das conversações entre Cuba e Estados Unidos. Entre eles, Gerardo Hernández, convertido em personagem central desse importante episódio da história recente. Los Cinco voltaram a Cuba no dia 17 de dezembro de 2014, foram declarados heróis por Fidel Castro e condecorados pelo presidente cubano, Raúl Castro.

A seguir, os principais trechos da entrevista exclusiva de Gerardo Hernández com o Opera Mundi:

Opera Mundi: Como está a sua vida nestes 9 meses de liberdade?

Gerardo Hernández: Assim como você viu hoje, é assim que está. Bem agitada, não? Vivo com muita pressa porque são muitos compromissos. Tenha em vista que foram 16 anos, três meses e quatro dias na prisão e ao longo desse tempo muitas pessoas se somaram à luta por nossa libertação. Nós não temos nada mais a dizer que obrigado a todas essas pessoas. Não pude nem sequer percorrer Cuba inteira ainda. Há províncias em Cuba onde estão esperando Los Cinco, ainda não pudemos ir porque temos muitos compromissos. Em resumo, tenho uma vida muito agitada e também cheia de alegria e de momentos muito emocionantes para nós. Temos recebido carinho dos cubanos e também de outros amigos do mundo inteiro.

OM: Como você encontrou Cuba após 16 anos ausente? Que mudanças verificou ao voltar ao seu país?

GH: Encontrei um país diferente, o que é normal. Estranho seria se, 16 anos depois, tivesse encontrado Cuba igual. Assim, Cuba é um país diferente. A maior parte para o bem, algumas coisas para o mal. Por exemplo, digamos, alguns fenômenos que encontramos que não se conheciam no nosso tempo e são defeitos nos quais devemos seguir trabalhando. Nós cubanos sabemos quais são os problemas do nosso sistema e sabemos que devemos seguir trabalhando. Encontrei um país melhor, um povo com muito otimismo no momento histórico que estamos vivendo, com muito entusiasmo e com muito desejo de continuar avançando e promovendo uma sociedade mais justa para os cubanos.

OM: Qual a sua opinião sobre a retomada de relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos, já que a libertação dos Cinco foi parte desse acordo?

GH: Primeiramente, acho que é um processo normal o que está acontecendo. Vê-se como algo muito estranho, mas na verdade estamos há mais de meio século vivendo em condições completamente anormais. O que está acontecendo agora é que é normal. O normal é que os países vizinhos se deem bem, tenham boas relações e nessa direção estamos trabalhando. Não quero dizer com isso que os cubanos não estão conscientes dos riscos que isso implica, porque quem conhece a história sabe que é perigoso confiar no império. É perigoso confiar nos Estados Unidos. O povo de Cuba está unido, não há nenhum problema. O povo de Cuba deseja ter relações normais. O problema está nesses setores com mentalidade imperial, como os Estados Unidos, que sempre, geração após geração, ao longo da história, têm visto Cuba como algo que lhe pertence. O perigo está nesses setores. Estou certo que nesse momento de conversações vai haver uma oportunidade para Cuba conseguir o que não conseguimos em mais de meio século de bloqueio e agressões. Os cubanos revolucionários estão conscientes disso e entram nesse processo com otimismo, mas também com cautela. Confiamos e temos toda a disposição de ter a melhor relação com os Estados Unidos, mas com respeito mútuo, respeito à vontade da grande maioria dos cubanos, que decidiu no passado que Cuba teria uma revolução socialista. E foi isso que aconteceu. Nós não renunciamos a nenhum dos nossos princípios nesse processo. Eram eles que diziam “não temos nada para conversar com Cuba enquanto houver revolução e os Castro estiverem no poder”. Pois aí está a revolução, aí está Raúl Castro no poder, quer dizer, o povo de Cuba no poder e, no entanto, estamos conversando. Não renunciamos a nenhum dos nossos princípios.


Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Microdoaçom de 3 euro:

Doaçom de valor livre:

Última hora

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: info [arroba] diarioliberdade.org | Telf: (+34) 717714759

Desenhado por Eledian Technology

Aviso

Bem-vind@ ao Diário Liberdade!

Para poder votar os comentários, é necessário ter registro próprio no Diário Liberdade ou logar-se.

Clique em uma das opções abaixo.