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110615 lozadaColômbia - ANNCOL - Em entrevista com o delegado das FARC-EP Carlos Antonio Lozada, [ele] diz que essa guerrilha chegou à mesa de negociação convencida de encontrar uma saída dialogada a um conflito de caráter político e socioeconômico, porém o governo Santos continua pensando numa saída militar.


Carlos Antonio Lozada, membro do Secretariado do Estado-Maior Central das FARC-EP, assumiu há poucos meses um importante papel na Delegação de Paz de Havana, em particular nas subcomissões sobre o fim do conflito e desminado humanitário, fundamentais para diminuir a intensidade do conflito e aplanar o caminho para a paz estável e duradoura.

A Lozada, o mataram em manchetes de imprensa. Alguns meios de comunicação e militares chegaram a comemorar, porém não foi assim, está vivinho e puxando o touro pela cauda como protagonista da construção de um acordo para a paz com democracia e justiça social.

Há algumas semanas esteve em Colômbia, explicando à guerrilheirada do Bloco Oriental os avanços e dificuldades do processo e o especial significado que tem o acordo pactuado sobre o desminado humanitário. Outro dos tantos gestos de paz da insurgência. (Ver detalhes da viagem à Colômbia)

VOZ entrevistou ao comandante guerrilheiro depois do massacre de seus companheiros em Guapi (Cauca), ainda que não se conhecia nesse momento que entre os caídos estava Jairo Martínez, quem havia atuado em Havana como membro da Delegação de Paz e se encontrava em Guapi fazendo pedagogia de paz, atividade política que as FARC-EP encarrega a vários quadros de sua organização. Martínez, por muitos anos membro do Estado-Maior do Bloco Sul, era conhecido pelo papel que desempenhou na zona de distensão do Caguán e nas posteriores libertações humanitárias.

Carlos Antonio Lozada se pergunta: Que sentido tem continuar provocando morte, dor e sofrimento entre irmãos? Para advertir que o caminho é o do cessar bilateral de fogos na busca da paz definitiva.

A suspensão do cessar unilateral de fogos

— Por que suspenderam o cessar unilateral de fogos, se o Governo Nacional diz que estão dialogando em meio à guerra?

— O massacre de Guapi, no estado do Cauca, onde morrem 27 guerrilheiros, é um fato demonstrativo do uso desproporcional da força por parte do Estado colombiano. Ante uma situação desta natureza não tínhamos outra alternativa que suspender nossa decisão de cessar-fogo unilateral e por tempo indeterminado. Dialogar em meio ao conflito tem sido a teimosa decisão do Governo.

As FARC-EP, desde o início do processo, têm insistido na necessidade de um cessar-fogo bilateral. Para nós outros é uma questão de princípios, de humanismo. Se chegamos à mesa convencidos de que este conflito, por sua natureza política e socioeconômica, não tem solução militar, então, que sentido tem continuar provocando morte, dor e sofrimento entre irmãos?

— Segundo o ministro Juan Fernando Cristo, as FARC-EP já haviam rompido o cessar unilateral de fogos.

— A declaratória do cessar-fogo unilateral e por tempo indeterminado foi um gesto essencialmente humanitário e esperávamos que esta decisão unilateral fosse correspondida de maneira equivalente por parte do Governo; no entanto, o que se produziu foi um incremento das operações nas áreas, tal como o denunciamos de maneira reiterada em nossos comunicados e foi documentado pela Frente Ampla pela Paz, em cumprimento de sua patriótica empreitada de seguimento e verificação do cessar-fogo. Nesse contexto de assédio permanente a nossas unidades é que se produzem os fatos na vereda Buenos Aires, no Cauca, onde morrem 11 soldados e mais 20 ficam feridos. Ver mais detalhes deste acontecimento

No momento em que decretamos o cessar-fogo unilateral, deixamos claro ante o país que se nos atacassem nos veríamos obrigados a responder. Essa é a realidade.

— Alguns meios de comunicação asseguram que é a guerrilha quem põe em perigo os diálogos de paz com a suspensão do cessar-fogo unilateral.

— Se algo caracteriza a maioria dos meios de comunicação colombianos, é sua falta de ética, sua parcialidade a serviço dos interesses dos que se consideram donos do país. Não é senão verificar a quem pertencem estes meios para compreender que interesses defendem e por que apresentam de maneira distorcida as notícias e as análises que fazem das mesmas. A informação sobre o processo de paz não é a exceção.

Quem põe em risco os diálogos de paz é o Governo com suas vacilações, sua ambivalência e falta de firmeza para assumir a defesa do processo frente a seus inimigos. Também a mídia tem uma grande cota de responsabilidade na rarefação do ambiente contra o processo. Basta analisar a forma em que se apresentam as notícias para compreender o papel que jogam instigando os ódios e a guerra. (Recomendo: A paz, os editoriais e a má imprensa)

Crises e soluções

— Continuam sentados na mesa? Há uma crise no processo?

— Ao contrário do que passa com o presidente Santos, nas FARC-EP não há dúvidas acerca de que a saída política é a única alternativa que os colombianos temos para superar este conflito. Apesar das dificuldades, seguiremos insistindo em encontrar caminhos que nos levem a deter a confrontação e encontrar o caminho da reconciliação da família colombiana. Este é um compromisso indeclinável para com nosso povo, que é quem finalmente põe os mortos nesta guerra injusta que nos impuseram.

— As FARC mantêm a proposta do cessar bilateral de fogos?

— Sim, essa é outra bandeira irrenunciável e os fatos estão nos dando a razão. Todos os processos de paz anteriores fracassaram por fatos gerados no marco da confrontação. Acordar um cessar-fogo bilateral, já, é a melhor maneira de blindar o processo; porém, é ademais uma necessidade ética, um compromisso moral inevitável para com os milhões de compatriotas vítimas deste conflito.

— Que passa com o Governo Nacional e o presidente Santos? Concessões ao militarismo? Estão cansados? Descumprem com os eleitores que votaram nele para que promova a paz e não a guerra.

— São vários os fatores que há por trás das vacilações do Governo.

Em primeiro lugar, está sua ideia de uma paz limitada à desmobilização da guerrilha, sem soluções de fundo para os desajustes políticos, econômicos e sociais que deram origem ao conflito armado e o alimentaram durante estes anos.

Porém, ademais, a classe dominante, incluindo os setores que neste momento apostam na solução política, continua crendo na possibilidade da derrota militar da guerrilha. Daí a arrogância e o tom de ameaça com o qual apresentam o que consideram vitórias militares, que não são outra coisa que covardes massacres de guerrilheiros.

Por outro lado, tampouco renunciam ao terrorismo estatal e paraestatal contra o movimento popular, algo evidente nos contínuos assassinatos de dirigentes sindicais e populares, de defensores dos direitos humanos; nas ameaças, na criminalização e penalização do protesto social.

Porém, está também o oportunismo de Santos que, quando o pediu, utilizou os diálogos para buscar respaldo e apoio dos setores majoritários que desejam a paz, como o fez em sua campanha reeleitoral, sem que isto se traduza em fatos concretos na mesa.

Todo o anterior explica por que o Governo não tem sabido assumir uma posição decidida em defesa do processo de paz frente a seus inimigos e, pelo contrário, cada vez são maiores as concessões à ultra direita guerreirista.

Defender os diálogos

Para vocês, o que garante a continuidade do diálogo e chegar ao ponto de não retorno?

— Frente as vacilações de Santos e as crescentes pressões do militarismo contra o processo de paz, a única garantia de continuidade e consolidação definitiva do mesmo é que os setores majoritários que creem na saída política ao conflito se mobilizem em sua defesa. A paz com justiça social para nosso povo não será uma dádiva da oligarquia; teremos que conquistá-la na mais árdua batalha contra seus inimigos. Mais de 900 organizações pedem cessar-fogo bilateral

Ainda que tenhamos avançado nesse sentido, como o evidenciou a marcha do 9 de abril, é claro que ainda não se consegue estruturar uma frente ampla que aglutine e mobilize de maneira decidida todas as forças sociais e políticas que desejam uma paz com mudanças democráticas, com soluções aos mais sentidos problemas econômicos e sociais das massas.

Ali há um desafio grande para aqueles que apostamos na solução incruenta do conflito. Não há, não pode haver tarefa mais importante neste momento que a mobilização e a luta pela saída política. A esta tarefa devem estar subordinadas as demais. É necessário entender que, se não consigamos conquistar a paz, se novamente se impõem os que se nutrem e vivem da guerra, não haverá espaços para a participação política com plenas garantias e direito a ser governo para as propostas alternativas que hoje emergem em Colômbia. A paz com justiça social não será o produto de um acordo de insurgência com o Governo; será o resultado da mais ampla mobilização e luta de todos os setores que cremos num amanhã melhor para nossa pátria.

A paz digna

— O Governo volta a expresar o tema do tempo. Paz express, tempos fatais ou tempos razoáveis?

— Esse é um tema recorrente. Se equivoca novamente o presidente Santos se crê que com pressão militar e política vai impor na mesa uns prazos que não consultam a realidade do problema que estamos tratando de resolver. Esse conto vulgar de que ao povo colombiano se lhe está acabando a paciência, o que esconde é uma inaceitável ameaça. Assim não vamos avançar; pelo contrário, o que se consegue é entorpecer o normal desenvolvimento das discussões que nos devem levar a encontrar consenso frente aos complexos temas que nos faltam por abordar.

— Que significa a paz digna para as FARC-EP?

— O conflito armado em Colômbia não tem vencedores nem vencidos. A Agenda, como um acordo entre partes iguais, é um documento que reflete e recolhe essa realidade. Sendo assim, na mesa não cabem pressões, imposições, nem muito menos ultimatos.

Do que se trata, então, é de chegar a consenso uns mínimos, umas mudanças de ordem econômica, política e social que assentem as bases para que seja possível a participação política aberta em igualdade de condições, com plenas garantias de segurança e direito a ser governo, das forças alternativas ao regime opressor que hoje existe em Colômbia; e aqui nos referimos não só às forças rebeldes alçadas em armas; essas mesmas condições devem se dar para todas as organizações sociais e políticas que lutam por abrir esses espaços dentro do estreito marco do sistema atual.

Em poucas palavras: Se trata de criar as condições para que os colombianos possamos resolver nossas diferenças sem necessidade de recorrer às armas, porque existem as garantias para fazê-lo de outra maneira. Avanços na mesa Comissão para o esclarecimento da verdade, da convivência e da não repetição.


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