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230511_paramilicosLa Jornada - [Raul Zibechi, Tradução de Diário Liberdade] Qualquer plano de ação dos movimentos antissistêmicos deve partir de uma compreensão, a mais completa e abrangente possível, dos objetivos estratégicos que os grupos dominantes perseguem, ou seja, a tecnoburocracia que gerencia as principais linhas do poder global. Não se trata de eleger uma estratégia alternativa em relação à simetria, mas de compreender como as classes dominantes planejam se perpetuar na posição atual, para nos prepararmos e manobrarmos consequentemente.


Nos últimos anos, vem tomando corpo a opção fascista. O nascimento e a expansão do Tea Party nos Estados Unidos, a ascensão da extrema direita na França e a “direitização” até limites perigosos de algumas direitas europeias, como a espanhola, são sinais de alerta. Na América Latina, a consolidação da oligarquia colombiana no poder estatal e o provável retorno dos Fujimori ao governo são sintomas mais do que preocupantes.

Por fascismo não entendo uma ideologia, mas sim, a militarização e extermínio dos de baixo organizados em movimentos. É evidente que esses passos podem ser dados sem se deixar de pronunciar frases democráticas, e que o extermínio pode ser realizado por governantes saídos das urnas, toda vez que o sistema político seja reduzido a um exército eleitoral que não se traduza em mudanças estruturais. Haiti, Colômbia e México nos ensinam que militarização, extermínio e democracia são inteiramente compatíveis. A recente proposta de Douglas Fraser, chefe do Comando Sul, para abrir uma nova frente de guerra no sul do México e no triângulo Guatemala-El Salvador–Honduras, que se define como a zona mais letal do mundo fora das zonas de guerras ativas, ensina quem são os que tomam as grandes decisões que nos afetam.

A tendência mais importante que vive a humanidade é a concentração de poder. Estamos diante do poder mais concentrado que a história conhece, e esse enorme poder é o que permite uma brutal concentração de riqueza e a cada vez maior concentração de pobreza na metade da população mundial. Tão grande é esse poder que escapa ao controle dos estados. Esse enorme poder transnacional utiliza alguns estados muito poderosos, como os Estados Unidos, para se perpetuar na cúspide. Para esse poder, a humanidade é hoje um estorvo, como já disseram os Zapatistas em A quarta guerra mundial, um texto de rigorosa atualidade que já tem 10 anos.

Fernand Braudel apontava que até o século XVIII a demografia havia conhecido períodos de fluxo e refluxo mais ou menos constantes, com raras e excepcionais situações de equilíbrio. Somente a partir do século XVIII é que se produziu uma ruptura das fronteiras do impossível e a população começou a crescer sem que se tenha registrado, em quase três séculos, retrocesso algum (A dinâmica do capitalismo). Este é um dos dados concretos do mundo atual: a enorme expansão do que William I. Robinson denomina como população global supérflua, que em sua opinião já representa um terço da humanidade (Al Jazeera, 8/5/2011).

Este terço excluído é um dos objetivos do poder. E o é de diversas formas: é o terço da população do Brasil que é assistido pelo programa Bolsa Família; o mesmo terço que se alimentava em cantinas populares durante o regime de Alberto Fujimori, administradas pelo seu clientelismo mafioso. E assim sucessivamente. O outro lado da moeda, claro, é a militarização das favelas brasileiras e o assassinato de 70 mil peruanos na mesma década, ademais da esterilização forçada de 300 mil mulheres indígenas. Em cada país e região podem se produzir números e concluir quantos sobram e como se estão implementando programas para neutralizá-los/assassiná-los.

Na Colômbia, por exemplo, a guerra deslocou 4 milhões de campesinos de suas terras e provocou centenas de milhares de mortos. O mais terrível é que o genocídio segue em diante, como vem denunciando a Associação de Cabildos Indígenas do Norte de Cauca (ACIN). A guerra e a militarização, ao serviço do que Robinson denomina como acumulação militarizada, realizam-se há alguns meses sob os novos modelos democráticos esboçados pelo presidente Juan Manuel Santos, que sendo ministro inventou os falsos positivos (civis assassinados pelo exército para se fazerem passar por guerrilheiros mortos em combate) e que agora serve ao mesmo tempo como amigo da Unasur e da Aliança do Pacífico, dois projetos antagônicos.

Para os movimentos antissistêmicos, compreender que a variante genocida dos de cima vai ganhando espaços maiores supõe olhar a realidade de frente, não para paralisarmos, mas para definirmos com maior nitidez as formas de ação. Distrair forças em disputas pequenas não tem o menor sentido. Há quem tenha ainda a ilusão de que os de cima podem tolerar outra política sem antes neutralizar ou dinamitar os espaços coletivos. Não devemos incitar-nos em disputas verbais sobre os caminhos a seguir. Dividem e paralisam; devemos criar e inventar.

Os fatos mostram que é necessário criar espaços para que os de baixo nos relacionemos, possamos debater e questionar, organizar e mobilizar. O que vem acontecendo estes dias na Porta do Sol de Madrid ou no bairro Exarxia de Atenas, seguindo mais ou menos os mesmos passos que levaram a ocupar a Praça Tahrir no Cairo, mostram que é um caminho tão necessário como possível. Um caminho distinto ao da tradicional greve seguida de manifestação para pressionar o poder, que não olha para cima, mas sim horizontalmente, que busca tecer vínculos não sistêmicos para delinear o outro mundo.

Estes movimentos tendem a ser criminalizados, perseguidos e reprimidos. Os de cima podem optar pelo massacre como fizeram tantas vezes e seguem fazendo agora no Oriente Médio. Impõe-se a necessidade de defender estes espaços, uma tarefa na qual os movimentos estão muito atrás do poder. Mas que deverão enfrentar antes que seja tarde demais.

Fonte: http://www.jornada.unam.mx/2011/05/20/index.php?section=opinion&article=025a1pol

Tradução: Gabriela Blanco


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