Lá chegados, encontraram apenas um polícia à porta, que ficou branco depois de ter ficado roxo e pouco antes de se tornar verde (pálido). Palavras de ordem, insultos ao Sérgio, cânticos («a estiva em Portugal somos nós», etc.) e os parabéns cantados a um camarada que fazia anos. Chegam os reforços policiais, na sua carrinha, e formam com pouca convicção à frente da porta. Os estivadores sobem a rua em direcção a S. Bento, mas ao passar pela carrinha, onde estavam apenas dois agentes, batem nos vidros e lançam um petardo. Empurrões, insultos e a maioria dos bófias muito encolhida à espera que passe a borrasca. Um deles, à paisana, pergunta timidamente ao dirigente sindical «para onde é que vão» porque precisa de reportar aos seus superiores. A resposta vem carregada de desprezo «vocês sabem perfeitamente para onde é que vamos».
Prossegue-se sob a chuva miudinha, já com escolta enquanto se desce a Calçada do Combro. Vira-se à direita em direcção à Escola Passos Manuel e corta-se por uma rua de sentido único, dificultando a vida à carrinha policial. Os estivadores chegam a S. Bento pelas escadinhas da Travessa da Arronchela, gritando «o povo unido, jamais será vencido». Lá em baixo são saudados com aplausos pelos poucos manifestantes presentes (CGTP, CNA, «Que se lixe a Troika», Indignados de Lisboa e avulsos) e viram imediatamente à direita, em direcção à Rua de S. Bento, provocando imediatamente a concentração de polícias à sua volta e a chegada de mais carrinhas. Isto promete.
E esta sensação de poder que representa percorrer as ruas sem pestanejar minimamente devido à presença policial e à possibilidade de uma carga, que tanto jeito daria noutras manifestações. E este sentimento de força que advém da determinação colectiva de lutar, que tanta falta tem feito nos dias de greve geral. E esta impressão de que estamos perante um conflito exemplar, como nos diz Alan Stoleroff, onde se pode estar a jogar o futuro do conflito social neste país. Até porque os estivadores nunca se rendem.
Foto de Luis Nunes para o Diário Liberdade