O jornal, porta-voz de sectores do grande capital, não exagerou.
O homem agora a contas com a justiça, DDT (o Dono Disto Tudo, como lhe chamavam na família) era o chefe e a imagem de um gigantesco polvo financeiro cujos tentáculos atingiam os EUA, o Brasil, Angola, o Luxemburgo e outros países da União Europeia.
Ricardo Salgado é suspeito da «prática de crimes de burla, abuso de confiança, falsificação e branqueamento de capitais»
O banco insígnia da família, o BES, foi expropriado durante o período revolucionário de Vasco Gonçalves, mas restituído ao clã pelo governo de Cavaco Silva. Sucessivos governos de direita da responsabilidade do PSD e PS acarinharam-no e favoreceram desde então a sua expansão internacional.
O tsunami que se abateu sobre o Grupo gerou nestes dias em Portugal um estranho fenómeno: os políticos e os media que ainda há poucas semanas disputavam os favores de Ricardo Salgado, dirigindo-se-lhe com um respeito reverencial, deram uma guinada de 180 graus e passaram ao ataque, responsabilizando-o pela catástrofe financeira em curso.
A hipocrisia dessa gente não surpreende. Mas os crimes que a Justiça começou a averiguar não são recentes e atribui-los a um banqueiro e à rede dos seus cúmplices é uma atitude que distorce a Historia e revela cegueira politica.
A grande lição a extrair do pantanal em que chafurdam os Espirito Santo mergulha as raízes na crise do sistema capitalista.
A banca privada e os banqueiros são peças da engrenagem do capital. Tal como ocorreu em 2008 nos EUA com a falência do Lehman Brothers, espoleta de uma crise mundial que o sistema definiu como financeira, ocultando que se tratava de uma crise estrutural do capitalismo – o caso Ricardo Salgado é apenas a ponta de um iceberg cuja deriva assusta a classe dominante.
Ilumina bem uma realidade que os governantes, os partidos da troika e os seus epígonos que controlam os media temem e debalde se esforçam por negar: a crise do capitalismo!
OS EDITORES DE ODIARIO.INFO