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9080353 2C1GJPortugal - Manifesto 74 - [André Albuquerque] Precarizar

Transformar postos de trabalho permanentes e mesmo sazonais em meras tarefas, que no fundo é aquilo que define uma prestação de serviços: tarefas concretas que o tarefeiro deveria fazer em condições que o próprio estabelece ou aceita.


Sempre que possível substituir um trabalhador que se reforma por outro a falsos recibos verdes, ou contratado através de uma ETT, ou até pagando-lhe "por fora". Acabar com os falsos trabalhadores independentes tem de ser uma prioridade, e porque se trata de uma questão legal, não devia ser apenas uma prioridade dos trabalhadores e das organizações que os defendem e representam, mas também do Estado, que como pessoa de bem deveria zelar pelo cumprimento da Lei.
Como bem sabemos, o Estado português não tem sido uma pessoa de bem. Responsáveis por isto só há 3, os partidos que têm governado o país e que, propositadamente, têm transformado o Estado num inimigo dos trabalhadores e da população em geral.


Através desta notícia do Público chegam-nos mais dados concretos sobre a precarização do trabalho no Estado, e ironia das ironias, o ministério que mais aumentou o número de "recibos verdes" foi o Ministério do Emprego que devia ser o do Trabalho, o ministério tutelado agora por Pedro Mota Soares, e que também tutela a Segurança Social. Trocado por miúdos é isto: Mota Soares, acérrimo defensor do fim da precariedade laboral quando sentava as nádegas na Assembleia da República, passou a sentar as nádegas no conforto de um gabinete ministerial. Como sabemos, o conforto é extremamente chato, prejudicial e tolhe as ideias, vai daí este activista anti-precariedade, transformou-se no ministro cujas assinaturas não só permitiram o aumento de precários no Estado, como tem conseguido a maravilha de, a pouco e pouco, ir destruindo a Segurança Social, que tutela e devia acarinhar e preservar.

Pressionar

É isso mesmo, pressionar, oprimir, ameaçar, fragilizar os trabalhadores. Legislar contra eles como se não houvesse amanhã, destruir toda e qualquer possibilidade legal e de organização que os possa defender. Esconder que são cada vez mais as mulheres grávidas, ou que dizem que o querem ser, despedidas. Esconder que se despedem cada vez mais delegados e dirigentes sindicais porque são extremamente incómodos. Pressionar com o exército de desempregados que está disponível para nos substituir e afirmar que "somos todos colaboradores, têm de vestir a camisola da empresa e passar aqui 14 horas por dia". Como o colaborador-mor, o do chicote, o que pressiona, melhor, o que manda pressionar, porque o colaborador-mor, vulgo patrão,  tem de manter a face limpa e ainda vir dizer, "sabe, isto da crise, eu nem queria ter de dispensar ninguém, optamos por si porque de acordo com as suas capacidades não lhe será difícil voltar a encontrar trabalho. Boa sorte e um grande beijinho de felicidades."

Padronizar

Padronizar o desempenho, exigindo que pessoas com corpos diferentes, com experiências diferentes, com saúdes diferentes, com formações diferentes, com vidas diferentes, tenham o mesmíssimo desempenho. No fim de conta esta padronização não interessa para nada, porque se o desempenho de um trabalhador for magnífico mas ele exigir condições laborais justas e melhoradas, então tem de ser dispensado. É a coesão social, alguém tem de ceder, e se calhar este trabalhador exemplar e produtivo até nem vestia a camisola da empresa, ou pelo menos não lambia as nádegas do colaborador-mor, vulgo patrão. Se calhar este trabalhador trabalhava muito mas colaborava pouco.

Padronizar as atitudes. Código de roupa, código de gosto, não se fala de política no trabalho, futebol pode ser, mesmo se der lugar a cenas de pugilato que criem mau ambiente, mas política não, que isso é coisa de sindicalistas. O comportamento deve ser irrepreensível, sempre de sorriso na cara, alegria no trabalho, mesmo se nos tiverem cortado a hora de almoço para meia hora de almoço, mesmo que cheguemos a casa cada vez mais tarde, quando os putos já estão a dormir e o jantar frio dentro do microondas.

Padronizar os salários pela bitola mais baixa possível. O que o colaborador-mor, vulgo patrão, diz: "Tem de ser, senão fechamos portas, para além disso já viu a quantidade de desempregados que estão bem pior que você?" O que o colaborador-mor, vulgo patrão, quer mesmo dizer: "Tem de ser, senão não consigo manter o meu automóvel topo de gama novo, ou a minha casa de praia, para além disso estava mesmo a calhar comprar umas acções da empresa XPTO com vista a uma futura fusão, o mundo não pára e a minha ganância é ainda maior que o mundo. Isto da crise é uma desculpa, que a empresa baixou um pouco os lucros, mas que diabos, continuamos a lucrar milhões. Para além disso você é um ser inferior cuja única utilidade é servir-me, a mim, um ser imponente e muito mais competente que você, devia agradecer-me, se o não fizer arranjo outro que faça, e por menos dinheiro."

Padronizar os horários pela bitola mais alta possível. "Sabe, neste momento de crise temos todos de dar um pouco mais de nós. Eu também tenho família e sei o quão difícil é passar menos tempo com eles, mas perceba que é apenas um pequeno esforço para um fim maior. Vista a camisola mais umas horas e será recompensado."

Conclusão

Politicamente falando, tudo é e será sempre vontade política. Neste caso vontade política de precarizar, pressionar, padronizar ao máximo as relações laborais e os modelos de trabalho. Substituir trabalho com direitos por situações frágeis e desprotegidas. Mais ideológico que isto não encontro, deixo-vos com o Fausto, que sabe explicar isto de forma mais simples e artística.
 


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