Creio que o silêncio relativo das fracções mais poderosas deste capitalismo diz muito sobre o seu triunfo, num contexto, é certo e sabido, de um país mais pobre e dependente; diz muito sobre anos de reforçada transferência de recursos do trabalho para o capital, processo articulado com a transferência de recursos de dentro para fora do país; diz muito sobre a sua satisfação com a actual correlação de forças e com a tutela externa tão reforçada quanto por desafiar, que é, tudo somado, ainda seu melhor seguro político contra veleidades de recuperação democrática de instrumentos de política económica. Estes poderiam constituir freios e contrapesos ao seu poder.
Satisfação também pela possibilidade de uma alternância sem verdadeira alternativa a esta política. É claro que eles também não precisam de se maçar, até porque grande parte da comunicação social está cada vez mais domesticada e, de qualquer forma, os que mandam só falam fora dos corredores do poder, na praça pública, em situações excepcionais, de algum perigo. No entanto, pode ser que a sua aposta, até agora aparentemente acertada, no “aguenta, ai aguenta, aguenta” se venha a revelar mais frágil. Pode ser que, por exemplo, graças ao crescimento das forças de esquerda portadoras de uma verdadeira alternativa nas próximas eleições, eles ainda tenham de vir a terreiro. Pode ser que não tenham sempre o mesmo sucesso. Pode ser.