Numa União Europeia que nada tem de "unidade", "convergência" e "solidariedade", votar pela ruptura com este estado de coisas é muito mais do que um imperativo moral: é da própria sobrevivência dos estados mais pobres e menos poderosos que se trata.
Esta "Europa" - ou seja, esta União Europeia - não tem emenda, não é reformável. E é também por isso que recuperar soberania - mas soberania de facto, para lá da retórica - é fundamental. Portugal precisa de voltar a ter voz e vontade própria, recusando o isolacionismo que esta chamada "integração" nos vem impondo desde há décadas. O João Ferreira tem referido e bem: Portugal tem reduzido consideravelmente, também por via da UE e do "euro", a sua capacidade de diversificar relações políticas e comerciais. Somos hoje muito mais "orgulhosamente sós" do que fomos entre 1974 e o trágico momento em que PS e PSD nos vestiram o colete de forças da CEE.
Impõe-se votar pela mudança. Mas por uma mudança de facto. De "grandes coligações" estão os povos fartos. A questão passa sobretudo por desmobilizar da abstenção aqueles que, indignados com esta estrada para sítio nenhum, consideram ser mais útil não ter voz do que fazer-se representar por quem dá expressão concreta ao seu descontentamento, lá como cá.
Com a abstenção - ou com o voto branco/nulo - pode Merkel muito bem. Nas eleições de 2009 para o Parlamento da União Europeia, por exemplo, a abstenção na Alemanha foi de 57%. Acham que Merkel e os banqueiros cujos interesses representa perderam o sono?