Uma é a reincidência dos inimigos de Abril em procurar utilizar as comemorações institucionais para, a pretexto de Abril, defenderem os caminhos da sua destruição. É o caso de Cavaco Silva. Num discurso particularmente hipócrita, elogiou os progressos sociais alcançados, manifestou-se preocupado com o desemprego, a desigualdade, as injustiças crescentes na sociedade portuguesa. Não apontou nem assumiu qualquer responsabilidade. Fez o apelo ao entendimento entre "os agentes políticos", ou seja, à institucionalização de uma nova "união nacional" entre os partidos da política de direita: PS, PSD e CDS. E repetiu que "Abril se fez para unir os portugueses". Ele próprio saberá que tal afirmação é inteiramente falsa.
Abril não se fez para "unir os portugueses" mas para libertar os trabalhadores e o povo da "união" que lhes era imposta por aqueles que os exploravam e oprimiam, nacionais e estrangeiros. Abril foi uma Revolução precisamente porque rompeu as cadeias com que o estado fascista impunha à imensa maioria do povo português e dos povos coloniais a "união" dos interesses do grande capital monopolista e dos latifundiários, associados ao imperialismo estrangeiro. Porque uniu o povo num poderoso movimento que em poucos meses destruiu os fundamentos de tal "união". O mesmo movimento que é hoje necessário para, retomando os caminhos de Abril, romper com a política das troikas, inimiga e destruidora de direitos e liberdades dos trabalhadores e da soberania do povo e do país.
A outra constatação diz respeito às manifestações populares, com aspectos novos e qualitativamente diferentes. À sua histórica dimensão e firme combatividade, mas também ao seu ambiente excepcionalmente festivo. Com vigorosas expressões de autêntica cólera popular, e ao mesmo tempo um ambiente de serena força e confiança. Se era insistentemente exigida a demissão do governo, era sobretudo visível que entre esta gigantesca massa do povo e o governo nada pode existir de comum. O 25 de Abril de 2014 mostrou com maior clareza do que nunca que o governo de Passos & Portas é um ilegítimo corpo estranho ao país de Abril, que permanece em funções exclusivamente pela cumplicidade aberta de Cavaco Silva e pela anuência do PS. Anuência que causa um profundo mal-estar entre muita gente da área do próprio PS, como foi visível em diversas intervenções públicas, nomeadamente de militares.
Contra a "união nacional" das troikas a que Cavaco apelou levanta-se uma poderosa unidade do povo. O povo unido vencerá.
Os Editores do odiario.info