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121020 manuelpinaPortugal - Esquerda - Escritor, poeta e jornalista, faleceu no Porto aos 68 anos. Prémio Camões de 2011, foi autor de uma vasta obra de poesia e de literatura infantil. Foi jornalista do Jornal de Notícias durante três décadas, onde trabalhou como repórter, redator, editor, chefe de Redação e colunista.


Morreu esta sexta-feira à tarde, aos 68 anos, no Porto, o escritor, poeta e jornalista Manuel António Pina. Prémio Camões de 2011, foi autor de uma vasta obra de poesia e de literatura infantil, de inúmeras peças de teatro e de livros de ficção e de crónica. Tinha uma coluna diária no Jornal de Notícias, "Por outras palavras", que dizia dar-lhe uma “enorme trabalheira” só para arranjar assunto.

Nasceu no Sabugal em 1943, licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra e vivia no Porto. Foi jornalista do Jornal de Notícias durante três décadas, onde trabalhou como repórter, redator, editor, chefe de Redação e colunista.

Publicou livros de poesias como "Nenhum sítio", "Um sítio onde pousar a cabeça", "Cuidados intensivos", "Nenhuma palavra, nenhuma lembrança", "Os livros" e "Como se desenha uma casa". Na área da literatura infantil, destacam-se "O país das pessoas de pernas para o ar", "O têpluquê", "Gigões & anantes", "História com reis, rainhas, bobos, bombeiros e galinhas", e "O tesouro".

A sua obra está traduzida em França (francês e corso), Estados Unidos, Espanha (espanhol, galego e catalão), Dinamarca, Alemanha, Países Baixos, Rússia, Croácia e Bulgária.

Tudo é para embrulhar peixe

Numa notável entrevista ao I, dada a Nuno Ramos de Almeida, Manuel António Pina refletia assim sobre a profissão de jornalista: “Aprendi com os grandes tipógrafos, às vezes estava na chefia de redação cheio de problemas com os títulos e eles diziam-me: 'Não se preocupe que amanhã isto é para embrulhar o peixe.' A dimensão do infinitamente grande e do infinitamente pequeno dá-nos a consciência de que tudo é para embrulhar peixe.” E mais adiante: “A grande dignidade da vida e do jornalismo está em ter a consciência plena de que aquilo acaba a embrulhar peixe, mas fazê-lo o melhor possível em cada momento. Fazer o mais honesto, empenhar-se ao máximo, sabendo que é completamente irrelevante. É essa a grandeza do ser humano.”

Na mesma entrevista, dizia-se “um leitor apaixonado de livros de divulgação, quer sejam sobre a astronomia, quer sejam sobre a física de partículas. Leio muitas coisas dessas. Sabe porquê? Porque são aqueles momentos em que a nossa linguagem é posta em crise. Digo às vezes, simplificando, que, se a malta que anda a meter heroína lesse um livro de astronomia, sentiria uma pedrada muito mais forte. Imaginar uma distância daqui até Alfa do Centauro, vários anos-luz, é como calcular a nossa dívida pública, é difícil de abarcar. É curioso que estes livros de divulgação tenham a necessidade, para expressar esta realidade, de usar a linguagem poética.”

Finalmente, sobre o Prémio Camões dizia: “O dinheiro do Prémio Camões não o dava a ninguém, mas o prémio partilhava-o com toda a gente, com quem quiser. Entrego já a glória daquela merda.”

O Esquerda.net apresenta à sua família e amigos as mais sentidas condolências. E despedimo-nos com um poema do autor, publicado em “Como se Desenha uma Casa”, Assírio & Alvim, 2011 e retirado do blog Bibliotecário de Babel:

O QUARTO

Quem te pôs a mão no ombro,
a faca que te atravessou o coração,
são feridas alheias, talvez algo que leste;
entretanto partiste

para lugares menos iluminados
e corações menos vulneráveis,
pode perguntar-se é o que fazes ainda aqui
se já cá não estás.

A hora havia de chegar em que
nos perderíamos um do outro.
E acabaríamos necessariamente assim,
mortos inventariando mortos.

Morrer, porém, não é fácil,
ficam sombras nem sequer as nossas,
e a nossa voz fala-nos
numa língua estrangeira.

Apaga a luz e vira-te para o outro lado
e acorda amanhã como novo,
barba impecavelmente feita,
o dia um sonho sólido onde a noite se limpa e se deita.


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