1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 (0 Votos)

fascismo iberico franco e salazarPortugal - O Diário - [Filipe Diniz] Entre as obsessões ideológicas da medíocre burguesia portuguesa está a recusa em reconhecer o carácter fascista do salazarismo. Essa obsessão manifesta-se de forma sistemática tanto no revisionismo histórico como nas opiniões avulsas dos seus quadros. Mas existe um limite a partir do qual o revisionismo histórico pode passar a ser cumplicidade objectiva.


Alguns jornalistas designam esta época do ano como “silly season” (época tonta), talvez porque os personagens e os assuntos que para os media dominantes são notícia nesta altura estão a banhos.

De facto cabem nessa designação algumas coisas tontas que os jornais vão publicando. Veja-se a entrevista no “Expresso” (1) de uma destacada figura que já foi do PS, independente pela AD, do PRD, novamente do PS, etc. Tratando-se de uma antologia sobretudo das coisas que esse senhor podia ter sido, tinha todas as condições para ter sido e afinal não foi, poderia passar-se em claro.

Mas que alguém diga enormidades como “desde 1965 que sabia que [Mário Soares] era o verdadeiro líder da oposição democrática”, passa as marcas da “silly season” e entra no reino da asneira. Asneira que prossegue por caminhos bem mais graves do que os da impostura histórica quando a afirmação é que “a ditadura [salazarista] obviamente não era fascista, era simpática e querida”.

E porque afirma esse senhor que o não era? Simplesmente porque entende que nunca se afirmou como tal. Seria bom que, em homenagem a Pedro Ramos de Almeida, consultasse o seu indispensável livro “Salazar, Biografia da Ditadura”. Lá encontraria, por exemplo, a citação de uma entrevista de Salazar a António Ferro, em 1933: “A nossa Ditadura aproxima-se, evidentemente, da ditadura fascista no reforço da autoridade, na guerra declarada a certos princípios da democracia […]”. E se adiante afirma alguma diferenciação, é nos “processos de renovação”, uma vez que entende que para os mesmos objectivos que os do fascismo italiano não é necessário em Portugal recorrer necessariamente aos mesmos meios. Regime fascista, apoiante e solidário do franquismo e do nazi-fascismo, cuja derrota o fascista cardeal Cerejeira lamentava, em 1944: “os vencidos não são necessariamente criminosos, os vencedores não são necessariamente inocentes”. Regime fascista, criminoso e brutal, ditadura terrorista do grande capital e dos latifundiários, os únicos para quem foi, de facto, “simpático e querido”.
E, mesmo na “silly season”, é absurdo que se pretenda apresentá-lo de outra forma.


 

1- Entrevista a Medeiros Ferreira, “Expresso”, 28.07.2012. De recordar que este personagem, instalado na Suíça nos anos 60, atacava “pela esquerda” o PCP, juntamente com António Barreto.

*Este artigo foi publicado no “Avante!”, nº 2018, 2.08.2012

Foto: Salazar cumprimenta Franco, ditadores fascistas ibéricos. 


Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Microdoaçom de 3 euro:

Doaçom de valor livre:

Última hora