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Sara Flounders

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Em coluna

Movimento não-alinhado reúne no Irão, desafiando os EUA

Sara Flounders - Publicado: Quarta, 12 Setembro 2012 19:56

118 países, incluindo 35 chefes de estado e 21 ministros dos estrangeiros, aceitaram o convite do Irão para participar com delegações de alto nível no encontro internacional do Movimento Não-alinhado (NAM – Non-Aligned Movement). Trata-se de uma importante derrota para os esforços do governo norte-americano para estrangular economicamente, bloquear militarmente e isolar politicamente o Irão.


Uma reunião em Teerão, com início a 26 de Agosto, coloca numa perspectiva bem clara o declínio do imperialismo norte-americano a nível global e, em especial, no Médio Oriente. As exigências dos EUA e de Israel para um boicote à reunião foram ignoradas. Claramente, o domínio dos EUA está em queda.

Apesar dos esforços do governo norte-americano para estrangular economicamente, bloquear militarmente e isolar politicamente o Irão, 118 países, incluindo 35 chefes de estado e 21 ministros dos estrangeiros, aceitaram o convite para enviar uma delegação de altos representantes para o encontro internacional do Movimento Não-alinhado (NAM – Non-Aligned Movement).
Mais de 7 000 delegados são esperados na que é a 16ª Cimeira do NAM desde os seus começos, em 1961. O seu mandato de três anos na presidência do NAM deu a Teerão uma oportunidade para reforçar a sua posição internacional e mostrar que Washington não conseguiu isolar o Irão.

Os média reportam que os assuntos prioritários desta reunião mundial são a oposição às sanções ao Irão impostas pelos EUA e os esforços, por parte dos EUA e da NATO, para derrubar o governo sírio. Como anfitrião, o Irão prepara a primeira versão da declaração final do encontro. De acordo com as notícias, o documento irá asseverar o direito do Irão a desenvolver tecnologia nuclear pacífica, condenar as ameaças de Israel de ataque ao Irão e censurar a ocupação israelita de terras palestinianas.

Mohamed Morsi será o primeiro presidente egípcio a visitar o Irão desde 1979, altura em que os dois países cortaram relações em sequência da assinatura, pelo Presidente Anwar Sadat, dos Acordos de Camp David, que normalizaram as relações do Egipto com Israel. Isto alinhou o Egipto com Washington, contra a Revolução Iraniana.

O Secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que geralmente alinha com a política de Washington, disse que planeava comparecer no encontro. O Primeiro-ministro Israelita Benjamin Netanyahu disse que esta decisão era “um grande erro”.

Victoria Nuland, do Departamento de Estado dos EUA, disse que Teerão era “um local estranho e inapropriado para este encontro” e sublinhou que os EUA consideram o Irão uma ameaça para a região e para o mundo (cf. http://www.state.gov/index.htm, acedido a 16 de Agosto).
O NAM foi fundado em Belgrado, na Jugoslávia, em 1961, e era constituído principalmente por antigas colónias que, militarmente, não estavam aliadas com os EUA nem com a União Soviética.

Por que razão estão neste momento tantos países e chefes de estado interessados em participar num encontro em Teerão, apesar do desagrado explícito de Washington?

A pressão dos EUA não pode forçar alianças

As ameaças dos EUA contra o Irão ultrapassam em muito as sanções económicas. Incluem sabotagem da sua infra-estrutura, assassinato dos seus cientistas, rapto de cidadãos, campanhas de desestabilização interna e cerco militar.

As sanções ao Irão e o esforço global para derrubar o governo sírio são esforços dos EUA para instalar o medo em qualquer outro país que procure desenvolver-se independentemente do domínio corporativo dos EUA. Para reforçar a sua política, Washington usa o elevado nível de alavancagem financeira [1] dos Bancos de Wall Street, do FMI e do Banco Mundial, que trabalham com instituições bancárias e financeiras alemãs, inglesas e francesas, e o peso combinado dos países da NATO dominados pelos EUA.

Em Janeiro, legislação do Congresso dos EUA exigia que todos os países do mundo tomassem parte nas sanções económicas e pusessem fim a todas as aquisições de petróleo iraniano. Em Março, os bancos iranianos foram postos fora da SWIFT [2], cuja rede permite transacções financeiras electrónicas.

O dia 1 de Julho deveria ter marcado o corte global nas em todas as vendas de petróleo e transacções bancárias com o Irão. As pressões sobre todos os países que importavam petróleo iraniano subiram de tom, quando os governos dos EUA e europeus ameaçaram tomar medidas contra aqueles que não aplicassem as sanções. Estas medidas deveriam destruir a economia iraniana.

A capacidade das maiores corporações e bancos mundiais para adquirir acções e bloquear todas as transacções económicas ameaça qualquer país em desenvolvimento. Mas o sistema capitalista global está em crise e em desordem. As instituições financeiras ocidentais fornecem muito pouco dinheiro para investimento. O Império norte-americano oferece pouco aos países em desenvolvimento e às antigas colónias, e exige apoio aos seus planos e objectivos.

Mesmo sob uma perspectiva estritamente comercial, os governos de muitos países sabiam que as sanções não apenas prejudicariam a economia iraniana, mas também as suas próprias economias, através do corte das relações comerciais com a maior e mais estável economia da região.

De imediato, a China, a Rússia, a Índia, o bloco ALBA, na América Latina e mesmo o Paquistão e a Coreia do Sul, anunciaram que não iriam deixar de comprar produtos petrolíferos iranianos. A maioria da população mundial vive nesses países.

O Iraque, o Afeganistão e o Irão

Depois de, por uma década, trazer a guerra e ocupar o Iraque e o Afeganistão com centenas de milhar de tropas, gastando triliões de dólares e destruindo ambos países, Washington ainda se mostra frustrada com as notícias de acordo com as quais o Iraque e o Afeganistão estão a negociar com o Irão.

O New York Times de 18 de Agosto reportava: “O anúncio, por parte do Presidente Obama, no mês passado, de que estaria a impedir um banco de Bagdad de quaisquer negócios com o sistema bancário norte-americano… [foi] um raro reconhecimento de um problema delicado que a Administração enfrenta num país que as tropas dos EUA acabam de deixar: durante meses, o Iraque tem ajudado o Irão a evitar as sanções económicas…”

“As autoridades dos EUA aprenderam que o Governo Iraquiano estava a ajudar os iranianos permitindo-lhes usar o espaço aéreo para levar mantimentos para a Síria.”

O Iraque é agora um grande consumidor de bens manufacturados iranianos, em parte porque o Iraque praticamente não tem a sua própria indústria. Uma delegação Iraquiana de topo visitou Teerão em Agosto para incrementar relações comerciais.

Cerca de 50% do petróleo do Afeganistão vem do Irão, afirmou o Ministro do Comércio Afegão Anwar al Haq Ahady aos repórteres numa mesa redonda do jornal Washington Post (de acordo com o Huffintgton Post de 9 de Maio).

Entretanto, os comerciantes afegãos demonstraram estar mais que dispostos a trocar dólares por riais iranianos, usados como moeda em muitos locais no Afeganistão Ocidental. Camiões carregados de dinheiro atravessam a fronteira, permitindo ao Irão aumentar as suas reservas de dólares, euros e metais preciosos para estabilizar as suas taxas de câmbio (New York Times, 17 de Agosto).

O Pentágono demonstrou a sua capacidade de arruinar um país através de bombardeamento massivo. Mas é incapaz de introduzir qualquer mudança progressista e desenvolvimento.

É claro que os governos de alguns países do MNA têm tido entre si conflitos agudos e contradições. Mas a apreensão de Washington é que, sob a presidência iraniana de três anos, o NAM se possa de novo concentrar no seu princípio original de promover a independência, a auto-determinação, a soberania territorial e a luta contra a herança do colonialismo e do imperialismo, como pediu Fidel Castro num encontro do NAM em Havana.

Este encontro de Teerão com muitos dos países em desenvolvimento no mundo é um grande desafio aos EUA e às potências imperialistas ocidentais e à NATO, que dizem falar pela comunidade internacional e pelos direitos humanos ao pedir a mudança de regime, a intervenção armada, zonas de exclusão aérea na Síria e ameaças de estender a guerra ao Irão.

Notas da tradução:
[1] A alavancagem financeira (no original: “financial leverage”) verifica-se, grosso modo, quando o crescimento do capital de uma empresa se produz através do aumento do nível de endividamento.
[2] SWIFT: «Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Globais … (sigla em inglês para Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication) é uma sociedade cooperativa internacional, com sede em Bruxelas, fundada em 1973 por 239 bancos de 15 países com o objectivo de criar um canal de comunicação global entre seus participantes, bem como padronizar transacções financeiras internacionais.» (da Wikipédia)

Tradução de André Rodrigues P. da Silva

Fonte: O Diário.


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