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Immanuel Wallerstein

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Em coluna

No Afeganistão, os EUA à beira do adeus

Immanuel Wallerstein - Publicado: Terça, 24 Abril 2012 16:46

Immanuel Wallerstein

Os dois candidatos para a presidência dos Estados Unidos parecem estar tentando falar um mais alto que o outro, no que diz respeito ao Irã, Síria e Israel/Palestina. Cada um alega que está fazendo mais para apoiar os mesmos objetivos. Não é estranho que não exista a mesma competição verbal sobre o Afeganistão?


As coisas mudaram há pouco. Durante muito tempo, Democratas e Republicanos disputaram quem era mais macho no Afeganistão. Lembre-se de que o conceito de uma "ofensiva", capaz de ganhar a guerra foi endossado pelo presidente Obama, em seu discurso na Academia Militar, em dezembro de 2009. De repente, desde março de 2012, parece que isso se tornou um assunto sobre o qual ninguém quer se posicionar de forma aberta. Existem algumas explicações simples. Os Estados Unidos têm pouco para mostrar, na guerra mais longa em que já se envolveram. O inimigo, o Talibã, é uma força de enorme resiliência, principalmente nas áreas Pachto (Pashtun, em inglês), a maior zona étnica do país.

Os Estados Unidos impuseram, de forma mais ou menos solitária, o presidente Hamid Karzai – um pachto, não aliado ao Talibã. Karzai não foi, e não é, bem aceito pelos líderes de várias outras zonas étnicas no norte e oeste do país, que tentaram retirá-lo do poder. Esses outros grupos têm apoio de potências externas: Rússia, Irã e Índia, todos tão dispostos quanto os Estados Unidos a evitar que o Talibã volte ao poder. Mas os Estados Unidos não vão trabalhar com o Irã, têm dúvidas quanto a trabalhar com a Rússia e não parecem estar dispostos a coordenarem-se com a Índia.

Em fevereiro de 2012, alguns exemplares do Alcorão foram queimados por soldados norte-americanos, o que levou a violentos protestos públicos no Afeganistão. Então, 16 crianças, mulheres e homens afegãos foram massacrados por um soldado americano. Os Estados Unidos desculparam-se por ambos os atos, mas isso não acalmou a tempestade. Em 18 de março, o presidente Karzai denunciou os americanos no Afeganistão como "demônios", envolvidos em "atos satânicos". Ele disse que o Afeganistão estava rodeado por dois demônios – o Talibã e os americanos.

O New York Times citou um diplomata europeu anônimo dizendo "nunca na história, uma superpotência gastou tanto dinheiro, enviou tantas tropas para um país, e teve tão pouca influência sobre o que o presidente desse país faz e fala".

Os Estados Unidos, tentando salvar sua posição, começaram a se retirar. O secretário de Defesa, Leon Panetta, já tinha dito em fevereiro que o país sairia de uma posição de combate não no fim de 2014, como era planejado, mas em meados de 2013. No começo de abril, Washington foi além. Anunciou que estava entregando o controle de operações especiais – por exemplo, uso de aviões não-tripulados (drones) e ataques noturnos – para as forças afegãs. As tropas americanas exerceriam agora apenas um papel de apoio".

O ministro das relações exteriores do Afeganistão, Zalmai Rassoul, não pareceu agradecido. Ele anunciou que, uma vez que as tropas dos EUA e da Otan saíssem do país, em 2014, Kabul não iria permitir que seu território fosse base de lançamento para ataques de drones contra o Paquistão.

Os paquistaneses, então, desferiram outro golpe contra os Estados Unidos. Em 12 de abril, o parlamento aprovou de forma "unânime" uma lista de condições para melhorar as relações entre os dois países e reabrir a rota de suprimentos da Otan no Afeganistão. Eles incluíram um fim aos ataques de drones no território do Paquistão e um pedido de "desculpa incondicional" pela morte de 24 soldados paquistaneses no ataque aéreo da Otan em novembro de 2011. Os EUA resistem a essas condições. Mas dado que agora é evidente a divergência entre os objetivos políticos americanos e paquistaneses no Afeganistão, não fica claro se Washington poderá prevalecer.

Então, em 14 de abril, Lawrence Korb, que foi assistente do secretário da Defesa no governo Reagan, publicou um artigo intitulado "Hora de deixar que Karzai nos bote para fora". Korb argumentou que os Estados Unidos são, desde 1945, "muito melhores em começar guerras do que em acabá-las satisfatoriamente". Ele chamou atenção para o que considerava uma perda desnecessária de vidas, nos dois últimos dias das guerras da Coreia e do Vietnã.

Segundo ele, a exceção é o Iraque, em que os Estados Unidos se retiraram por que "o primeiro-ministro iraquiano, Nouri Al-Malik, não nos deixou escolha". Ele diz: "no Iraque, o governo dos EUA deu sorte". Sua conclusão: "assim como Al-Maliki nos forçou a fazer a coisa certa, deveríamos permitir que Karzai tome o controle de seu próprio país tão cedo quanto ele quiser". Korb é um analista republicano conservador, que vê máxima vantagem no fato de os Estados Unidos serem forçados a sair do Afeganistão assim que possível.

Korb não está sozinho. Uma pesquisa do Washington Post / ABC News, publicada em 12 de abril, mostra que apenas 30% da população concorda que a guerra tem valido a pena. Ainda mais impressionante: pela primeira vez, uma maioria de republicanos opõe-se ao conflito. Duas coisas influenciam a opinião pública estadunidense. Primeiro, os afegãos não parecem solidários com os esforços ou perdas militares dos EUA. Muito pelo contrário. Em segundo lugar, os custos da guerra no Afeganistão são astronômicos nesse momento, quando os Estados Unidos, e principalmente os republicanos conservadores, estão tentando reduzir gastos drasticamente.

Minha previsão: sem alardes, mas com certeza, o presidente Obama irá seguir o conselho de Korb.

Fonte: Outras Palavras. Tradução de Daniela Frabasile


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