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Paulo Marçaioli

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Batalha das Ideias

“Os Grandes Líderes – Ho Chi Minh” – Dana Ohlmeyer Lloyd

Paulo Marçaioli - Publicado: Quinta, 08 Outubro 2015 12:05

Resenha do Livro – “Os Grandes Líderes – Ho Chi Minh” – Dana Ohlmeyer Lloyd – Ed. Nova Cultural.


Costuma-se dizer, com certo acerto, que a história que prevalece e aquela que nos é contada é como a “história dos vencedores”. Assim, ao estudarmos a história do Brasil colonial, pouco ou nada nos é contado acerca do Brasil pré-colombiano (até pela falta de fontes históricas), mas mesmo depois de 1500, havendo pouco espaço para reflexões sobre como o empreendimento colonial era percebido desde o ponto de vista do índio. O mesmo pode ser dito do negro escravizado. Predomina-se por outro lado a história dos vencedores, a organização política dos portuguêses na Colônia desde as Capitanias Hereditárias e os Governos Gerais e no que se refere a sua relação com o índio e o português, o regime de organização das plantations, enfim, as fontes que restam determinam o ponto de vista e interesses do vencedor. 
 
Podemos dizer que o caso da Guerra do Vietnã contraria em certo sentido a lógica da “história dos vencedores”. Este pequeno país do sudeste asiático conquistou a libertação colonial Francesa (1954) e, particularmente, a expulsão dos norte-americanos em 1969. E o que se sabe sobre os eventos da chamada Guerra do Vietnã dentro do senso comum rementem mais à situação dos “vencidos”(EUA) do que aos “vencedores” (Vietnã). 
 
Em outras palavras, quando se pensa na luta do Vietnã pela sua independência, vem-nos à mente os soldados norte-americanos perdidos num país exótico, fechado, por montanhas e florestas tropicais, banhado pelas chuvas de monções, enfrentando guerrilheiros em menor número, mas com disposição heroica para o enfrentamento. Lembra-se do ópio  que se alastrou entre as tropas norte americanas (ironicamente, uma droga que junto com o álcool foram introduzidas no Vietnã pelo lucro e pela dominação durante a colonização  francesa) gerando a desmoralização dos militares dos EUA. E o mais importante, vêm nos à mente as enormes manifestações de fins dos anos 1960 dentre os universitários norte-americanos contra a guerra do Vietnã que teve um peso relativo na retirada das tropas – certamente muito menor do que o heroísmo da Frente de Libertação Nacional, uma organização criado no Sul do Vietnã para apoiar a unificação e o Vietminh, dirigido por Ho, desde o norte do país. 
 
Para além do estranhamento ou da percepção do exótico, vale conhecer mais de perto aquela experiência histórica. Não só pela luta de independência: o Vietnã advém de uma tradição histórica milenar, relacionada à China, e certamente este orgulho nacional pesou na inviabilidade do projeto de dominação estrangeira.
 
Os vietnamitas são de origem de povos da Mongólia  e de povos da Indonésia desde pelo menos 300 a.C. O budismo sempre foi a religião principal daquele povo até que no séc. XVII missionários católicos introduzissem esta religião por lá, permanecendo por séculos  naquele país. Os missionários católicos foram estimulados pelos administradores coloniais e estariam ao lado dos colonizadores, como veremos.  
 
Houve um período de dominação chinesa em 111 a.C por meio do imperador Wu Ti, da dinastia Han, reinado que durou dois séculos, facilitando a introdução de elementos culturais chinenses na região como taoísmo. No séc. X os vietnamitas reconquistariam sua independência para, no contexto das grandes navegações e o desenvolvimento do capitalismo comercial, Portugueses, Holandeses e Franceses chegassem ao sudeste asiático. 
 
Dana LLoyd refere-se ao início da intervenção francesa:
 
“De todas as potências coloniais, a França foi a que mais persistiu no Vietnam, a partir do início do século XVII, quando uma missão liderada pelo padre jesuíta Alexandre de Rhodes, converteu milhares de vietnamitas ao catolicismo. Tempos depois, o governo francês começou a intervir militarmente na região alegando perseguição a seus missionários católicos e aos poucos conquistando seus territórios”. 
 
Quer dizer, sob o pretexto religioso, a dominação colonial do Vietnã remete ao período das Grandes Navegações e sua libertação uma luta que seguiria anos a fio.
 
Ho Chi Minh nasceu com o nome de Nguyen Sinh Cung em Anam em 1890 numa família em que pais e irmãos se dedicavam à luta anti-colonialista. Ainda criança foi expulso de uma escola por distribuir jornais anticolonialistas. Acerca de suas leituras na juventude, diz o próprio Ho:
 
“Quando era jovem estudei o budismo, o confucionismo, o cristianismo e o marxismo. Há algo de bom em cada doutrina”.
 
Chegará um momento ainda na juventude que passará um ano num monastério budista. Algo a acrescentar é que aquela tradição se baseava numa cultura de transmissão oral, de forma que não sabemos de textos ou livros produzidos por Ho. 
 
Ainda jovem, Ho junta-se à tripulação de um navio mercante francês para trabalhar como cozinheiro e assim conhecer o mundo. Por meio de contatos de seu pai (ele também um ativista), faz contato com compatriotas na França e filia-se ao Partido Comunista Francês. (1920). Três anos depois vai à Moscou, onde assiste ao V Congresso da Internacional Comunista. 
 
De volta ao Vietnam, e junto com a bagagem cultural adquirida no exterior, Ho soube associar a teoria revolucionária  à rica tradição filosófica oriental:
 
“Para conscientizar os camponeses vietnamitas, Ho utilizou os princípios marxistas, aos quais acrescentou um elemento tomado da antiga filosofia chinesa: aquilo que o sábio Confúcio chama de shu – uma tradução aproximada dessa expressão seria “coração comum”, isto é, o sentimento de dar e receber entre os indivíduos, com a consciência de que todos os homens são irmãos. 

Ho Chi Minh combinava com naturalidade as ideias marxistas-leninista com antigas e respeitadas tradições vietnamitas. Seu povo acreditava numa vida frugal de aldeia, onde as necessidades da comunidade precediam as individuais”. 
 
Durante a II Guerra Mundial a co-relação de forças e a geopolítica muda no sudeste asiático e no mundo, embaralhando a situação. O Japão, membro do eixo, passa a ser o invasor e o novo inimigo comum de Vietnã e China. De outro lado, URSS e França têm toda a sua força de guerra voltada para o conflito na Europa. E será no contexto do fim do conflito bélico mundial que o Vietminh tomará o poder no Vietnã fazendo com que Ho Chi Minh, àquela altura já considerado um herói da resistência, torne-se o  Presidente da República Democrática do Vietnã. 
 
Logo os franceses colonizadores entram como reação e inicia-se a guerra da Indochina que irá durar de 1946 até 1954, com a derrota dos franceses, mas ainda assim, com um Tratado (Tratado de Genebra) que prevê a divisão do país em norte e sul. Os EUA deram uma solução de continuidade ao confronto a partir de uma provocação: moveram um navio espião no golfo de Tonquim esperando uma reação vietnamita, que veio, e em contrapartida, atacaram bases militares no Vietnã do norte (1964). A preocupação do imperialismo naquele contexto era a expansão do comunismo pelo sudeste asiático, daí o apoio junto Vietnã do sul para derrotar o Vietnã do norte. Era necessário destruir o regime comunista do norte, como no caso da Coréia, sempre tendo em vista o contexto da Guerra Fria. 
 
Ho Chi Minh não pôde ver a reunificação de seu país sob bases socialistas a partir da expulsão total do imperialismo norte-americano. Faleceu em 3 de Setembro de 1969, enquanto a reunificação para formação da República Socialista do Vietnam deu-se em 2 de Julho de 1976. 

O livro de Dana O. Lloyd tem um caráter enciclopédico,  com muitas informações, imagens e buscando registrar a história tanto do Vietnã quanto do maior dirigente de sua libertação de forma concisa e objetiva. Apenas por isso, cumpre uma função extraordinária diante da falta informações a respeito daquela nação e de Ho, de seu processo heroico de emancipação que assombrava então os espectadores ocidentais, com HO CHI MINH e seus guerrilheiros com disposição de luta até morte pela liberdade, formados numa moral marxista e de milenares valores orientais.

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