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Zillah Branco

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No caminho

A falsa "democracia" da elite oligárquica

Zillah Branco - Publicado: Sexta, 02 Outubro 2015 12:24

Michel Lowy, brasileiro e professor universitário em França, escreveu no portal galego do Diário da Liberdade, com absoluta clareza: "Os governos da Europa estão indiferentes aos protestos públicos, greves e manifestações maciças.


Não se importam com a opinião ou os sentimentos da população; estão apenas atentos — extremamente atentos — à opinião e sentimentos dos mercados financeiros e seus funcionários, as agências de avaliação de risco. Na pseudodemocracia europeia, consultar o povo em um referendo é uma heresia perigosa, ou pior, um crime contra o Deus Mercado. O governo grego, liderado pelo Syriza, a Coalizão da Esquerda Radical, foi o único que teve coragem para organizar tal consulta popular.

O referendo grego não tinha apenas a ver com questões fundamentais econômicas e sociais, foi também e acima de tudo sobre democracia. Os 61,3% de gregos que disseram não são uma tentativa de desafiar o veto real das finanças. Esse poderia ter sido o primeiro passo em direção à transformação da Europa, de monarquia capitalista a república democrática. Mas as atuais instituições da oligarquia europeia têm pouca tolerância à democracia. Imediatamente puniram o povo grego por sua tentativa insolente de recusar a austeridade. A “catastroika” está de volta à Grécia com uma vingança, impondo um programa brutal de medidas economicamente recessivas, socialmente injustas e humanamente insustentáveis. A direita alemã fabricou este monstro, e forçou ao povo grego com a cumplicidade de falsos “amigos” da Grécia (entre outros, o presidente francês, François Hollande, e o primeiro-ministro da Itália Matteo Renzi)."

Hoje podemos acrescentar a vitória da participação popular nas eleições para o parlamento Catalão, unidos no protesto contra a política "catastroika" da Espanha e com a ameaça de prosseguir no processo de independência nacional. Os eleitores europeus, de modo geral estavam à negar o seu voto nas eleições dominadas por um modelo anti-democrático que satisfaz a chamada União Europeia gerida por lobbies de experts do Deus mercado e entorpece as iniciativas populares. Para que votar se os governantes são escolhidos no Clube Bildenberg! Em uma alternância em que cada um é pior que o outro? Mas ao surgir uma proposta de mudança, como na Grécia e agora na Catalunha, o povo se pronuncia.

Lowy ainda explica no seu artigo citado : "De acordo com Giandomenico Majone, professor do Instituto Europeu de Florença, e um dos teóricos semioficiais da UE, a Europa precisa de “instituições não-majoritárias”. Ou seja, “instituições públicas que, propositalmente, não sejam responsáveis nem diante dos eleitores, nem de seus representantes eleitos”: essa é a única maneira de nos proteger contra “a tirania da maioria”. Em tais instituições, “qualidades tais quais expertise, discrição profissional e coerência […] são muito mais importantes que a responsabilidade democrática e direta”.

A crise do capitalismo revela-se a vários níveis: financeiro, de incompatibilidade com a democracia, de abandono dos princípios éticos e humanistas, de medo dos movimentos populares. Na progressista América Latina - que foi capaz de definir a União das várias nações com respeito e apoio à independência de cada uma e ao desenvolvimento social e económico dos respectivos povos, - o imperialismo agora tenta fechar as finanças nas mãos da elite e destruir a força dos movimentos sociais e políticos de esquerda que sairam da fome e entraram na sociedade civil no amplo momento histórico iniciado por Cuba, por Chaves na Venezuela, por Lula no Brasil, pelo casal Kirtchner na Argentina e tantos outros presidentes eleitos democraticamente nas Américas do Sul e Central.

A crise do sistema é global, e com os estertores da morte o monstro torna-se mais perigoso. Desencadeia a guerra disfarçada por um exército mercenário a que foi dado o nome de Estado Islãmico para justificar os bombardeios que já destruíram o Afeganistão, o Iraque, a Líbia, o Egito, e agora a Síria. Mente para parecer democrata com medo da população maioritária que exige os seus direitos conquistados através da história. A recente revelação da grande mentira dos responsáveis pela produção dos carros da Wolkswagen com um kit que encobre a emissão de gases poluentes (que há dois anos foi comunicado à União Europeia), hoje é um símbolo da elite poderosa que governa o sistema capitalista. Mentem para poderem permanecer nos altos cargos, para amealharem riquezas milionárias, mesmo que com isso adoeçam as pessoas, matem os mais débeis. Não há escrúpulos, não há moral, desconhecem a ética que garante o respeito humano.

Enquanto as instituições formais de poder - a União Europeia, os governos nacionais, a ONU, o presidente dos Estados Unidos, os reis e rainhas - vestem-se de democratas e solidários para assistir ao fluxo de fugitivos das guerras movidas pela NATO e seus aliados, que são conduzidos por máfias conhecidas que enriquecem com o tráfico de famílias atiradas em barcos à deriva no Mediterrâneo, e discutem horrorizados a forma de se livrarem da presença dos sobreviventes nas praias turísticas da Europa, a França bombardeia a cidade Síria de Homs deixando mais mortos e maior número de novos foragidos que acreditam que a Europa os acolherá. Parece absurdo este cenário onde se destaca a irresponsabilidade de altos dirigentes mundiais e o descaramento com que cometem crimes hediondos. Mas se verificarmos que essa elite do sistema habituou-se à mentira para enganar o povo ainda ingênuo e ao medo de que as populações despertem para os direitos de cidadania e se unam em torno de idéias próprias, só poderiam trair os princípios humanistas neste fim de linha a que o sistema os levou como oligarquia poderosa.

Assistimos à ignomínia de uma massa humana foragida e sobrevivente aos afogamentos, com velhos e crianças sendo empurrados de uma fronteira a outra cercadas por arame farpado que improvisa um muro terrorista. Caminhando em busca de socorro que recebem de voluntários que sofrem por eles enquanto os governantes negam em nome da proteção aos seus habitantes; recebendo documentos improvisados que os classifica como "refugiados", isto é, indesejáveis ao convívio com os famosos "civilizados"; sendo escolhidos de acordo com a necessidade de mão de obra dócil e barata do país de acolhimento; com o risco de serem acolhidos em velhos campos de concentração, como o de Dachau na Alemanha de Merkel ou serem devolvidos às ruínas do seu país de origem que continua a ser bombardeado.

O governo Inglês lava as mãos como Pilatos. Abre a carteira e dá uns trocos ao Libano, à Turquia e a outros países bem longe para que recebam os fugitivos dos bombardeios das terras vizinhas. Foi a idéia salvadora para os ricos da União Europeia. Com dinheiro resolvem tudo e não precisam sujar os seus territórios com miseráveis famintos e doentes e as redes de arame farpado que lembra terrorismo e crueldade fascista. Na reunião em que esta decisão salvadora imperou os altos dirigentes e lobbistas anexos riram como hienas, felizes e com caras de santos. Mais uma mentira com aparência democrática e fraterna.

Há boas pessoas no mundo, veem-se nos trabalhos voluntários e na organização de associações de socorro que superam a incompetência dos governantes e criam recursos para realmente acolherem essa massa humana tratada como gado pestilento. Em Portugal mais de uma centena de organizações aderiram ao plano de acolhimento nacional. Estão otimistas pela experiência que têm de apoiar o povo português miserabilizado pela famosa "austeridade" imposta pela "catastróika" e os refugiados de outras guerras mais antigas como a da Bósnia e da antiga Jugoslávia. Sabem que vão receber pessoas com culturas e religiões diferentes, vítimas de preconceitos além dos efeitos da guerra. Sabem que terão de tratar pessoas e muitas crianças com traumas difíceis de sanar.

Mas fica a dúvida angustiante: "não temos tido apoio institucional para tratar as crianças portuguesas mais carentes, seremos capazes de ajudar os que agora chegam?" E a resposta cheia de esperança de quem é porta-voz da Plataforma de Solidariedade: "Portugal tem mais democracia que os países ricos, com o aumento das necessidade sociais temos a oportunidade de levar o Estado a criar soluções que aperfeiçoarão o pouco que temos!"

É verdade, os portugueses são solidários com os refugiados talvez pela presença da cultura camponesa dominante, e têm uma Constituição democrática, a mais progressista da Europa, herdada da Revolução dos Cravos cujas sementes permanecem nos movimentos sociais e políticos de esquerda que seguem em luta incansável.


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